HOMENAGEM À MINHA IRMÃ - DRA.JUREMA PINTO WERNECK
EM SEU NOME, NA VERDADE UMA HOMENAGEM À CONDIÇÃO DIGNA DE SER!!!
SEU DEPOIMENTO:
Hoje me aconteceu uma coisa bacana
Pois é.
Apesar da cara de dia comum, 17 de novembro...nenhuma efeméride, nada...
acabou virando um dia especial. Era o dia de entrega do Prêmio COMDEDINE
de Pesquisa Escolar. Explico: é uma premiação que acontece há 17 anos,
para alunos da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro (todas as
séries), de 1064 escolas.
Esta premiação é dada a trabalhos de pesquisa escolar sobre temas
ligados à população negra no Brasil - geralmente personalidades das
diferentes datas da história de luta de afrodescendentes. É organizada
pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro - COMDEDINE e,
neste ano, também pela Secretaria Municipal de Educação.
Na edição de 2010 o tema foi saúde e suas personalidades - com a
inovação de, além de se voltar para recuperar a memória de quem já
morreu, passaram a incluir também pessoas vivas. E foi assim que eu
entrei nisto. Escolheram 03 nomes para serem objeto de pesquisa e
produção de trabalhos pelos alunos: Juliano Moreira, psiquiatra;
Sebastião José de Oliveira, entomologista. E eu!!!!
Achei bacana....Visitei escolas, conversei com alunos e professoras.
Contei um pouco da minha vida. respondi a perguntas. E tirei milhões de
fotos!!!!
Mas não esperava a emoção de hoje, data de entrega de prêmios: livros,
bicicleta, computador, diplomas, etc, para os autores dos trabalhos
premiados: cerca de 12 alunos e respectivos professores... Eram crianças
e adolescentes de 7 a 15 anos (aparentemente) que produziram redações,
maquetes, poesias. Brincalhões, ruidosos, sorridentes. Contentes!!!!
Quando cheguei, a menina negra de cerca de 10 anos, do bairro de
Tubiacanga, na Ilha do Governador, me foi apresentada e tirou fotos
comigo: seu trabalho foi uma poesia de cordel contando minha vida. A
professora, orgulhosa, só falava da riqueza do trabalho da menina e ela,
tímida, sorria olhando ora para baixo, ora para mim. Depois fui
apresentada a um grupo (2 meninas e 1 menino) de uma escola de
Copacabana. Tiraram menção honrosa (uma delas me explicou que o
regulamento exigia desclassificação deles, por que pedia trabalhos
individuais). Mas o Júri optou por premiá-los assim mesmo e à
professora afetuosa e orgulhosa. Fizeram uma poesia que recitaram para mim.
Tubiacanga e Copacabana, coincidentemente, são lugares da minha vida.
Nasci em Copacabana (Morro dos Cabritos) e vivi parte da infância e
adolescência na Ilha, frequentando muito a praia de Tubiacanga, aldeia
de pescadores, com minha família...
Na hora da entrega do prêmios, não pensei que me emocionaria tanto ao
som do hino nacional...Mas aconteceu que, de lá do palco onde eu estava
junto com representações de autoridades e ao lado da filha do Professor
Sebastião; de lá dava pra ver o rosto de menininhas negras magrinhas e
sorridentes, do menininho negro que é a cara do meu irmão mais novo, que
cantavam o hino, tão pequenininhos e já tendo seu talento reconhecido;
já sendo acolhidas num mundo que em outros momentos lhes diria (dirá?)
não...Magrinhas como eu fui, formiguinhas (como Seu Rubens, um negro
enoooorrrrme lá do Morro dos Cabritos, e chamava quando me via e me
punha no colo pra ver de perto seu sorriso e seu vozeirão....
Também não pensei que me lembraria tão intensamente de minha mãe e de
meu pai, falecidos antes do tempo, mas que deixaram uma herança tão
forte, tão preciosa, que me obriga (e a meus irmãos) a passá-la adiante.
Lembrei de seus tantos sacrifícios por nós. Entendi que aquele momento
os reverenciava....
Fiquei envaidecida. Fique emocionada. Não tanto pelos elogios,
delicadezas e sorrisos que recebi. Mas por saber que aquelas crianças
contavam comigo para atestar o quanto elas são e serão importantes.
Também por saber que, mais do que curar as feridas das meninhas e
meninhos que fomos nas escolas do passado, tantas vezes brutalizados
pelo racismo entre nós, aquelas crianças nos ofereciam a chance de
sermos antídoto, vacina, escudo, ombro...Elas contam conosco!!!
Por isso partilho esta emoção com vocês. Para que saibam que as crianças
receberam suas mensagens (suas vidas) de luta e coragem.
E eu também.
Um abraço,
Jurema