Aldo Cappi - um jovem centenário

Nascido em Dobrada-SP, em 16/11/1910. Poderia só esta frase resumir a vida deste cidadão brasileiro, um trabalhador e músico por natureza. Mas não, seo Aldo é muito, muito mais e seria pretensão deste autor escrever tudo deste Senhor, com S (maiúsculo) sim, em uma, duas ou cinco páginas de sulfites. Fica portanto, este pequeno resumo, como segue:

No ano do Corinthians, “seo” Aldo? Poderia ter nascido em 1914..., o ano do Palestra!

Mas sendo descendente de italianos já nasceu Palestra e viva as origens! Porco cane! Cáspita! Dio amore mio!

Portanto o Palmeiras foi fundado em 1914 (*) quando o Aldo Cappi tinha quatro anos e inicialmente com o nome de Palestra Itália.

Estudou nas Escolas Reunidas, depois Grupo Escolar de Matão. Concluiu o antigo curso primário, equivalente à 4ª série do fundamental atual, mas de grande valia. Na realidade os estudos de antigamente eram mais “pesados” ou “puxados” comparados com os de hoje.

Naquele tempo quem estudava em colégios particulares eram filhos de fazendeiros e coronéis do café. Faculdades, contavam-se nos dedos!

O senhor Aldo casou com a Srta. Thereza Verzola em 04/06/1932.

Desta união nasceram 4 filhos, pela ordem: Marina Cappi, Hermes Cappi, Maria Antonia Fermina Cappi e Túlio José Cappi.

Destes somente o Hermes veio a falecer juntamente com sua filhinha Tânia e neta do Aldo em acidente automobilístico de 14/05/1972. Feliz coincidência dos dois, pai e filha, de ter nascidos no mesmo dia 30/01, de 1935 e 1965 respectivamente, e falecidos juntos no mesmo dia. Digo feliz porque vieram do Pai e ao Pai Celeste voltaram, com certeza.

O “seo” Aldo solteiro e mesmo casado trabalhou no sítio de seus pais, Avelino Cappi e Evelina Cappi, até 1950, quando se mudou com a mulher e os quatro filhos, o caçula Túlio com três anos, para Jaboticabal-SP, ocupando-se nesta cidade como funcionário do Clube Social e, como lazer, integrante da Banda Gomes & Puccini.

Já era músico porque seu pai foi seu primeiro professor e maestro, pois a família Cappi tradicionalmente era de músicos; seus irmãos também aprenderam música. Era lavoura de dia e música à noite, dia santos e feriados. Mais os campeonatos de futebol, esporte novo na época, isso tinha. Com certeza haviam disputas dos “pés com botinas” com os “pés descalços”, dos “com camisas” com os “sem camisas”, dos “italianos” com os “africanos”, dos “paulistas” com os “mineiros”, dos “solteiros” com os “casados”, dos “gordos”com os “magros”. Jogos de 10 vira, 20 acaba (gols) e às vezes escurecia e não terminava .

A bola era de tripas de boi, de mulambo, de meias, de capotão. De capotão? (**)

As músicas que seo Aldo ouvia e tocava na década de 30 e, logicamente, até hoje:

As Pastorinhas ( 1934); Aquarela do Brasil ( 1939); Gago Apaixonado (1931); No Rancho Fundo(1931); O que é que a baiana tem( 1938); Sertaneja( 1939); Balancê( 1936); Noite cheia de estrelas(1931); Pierrô Apaxonado( 1935); Agora é cinza(1933); Três Apitos(1933); Se acaso você chegasse (1938); Patativa ( 1937); Quase que eu disse ( 1935);

Torturante ironia ( 1935); Errei, erramos (1938); Suburbana (1939); Favela (1936); Maria (1931); Caprichos do destino (1938) ; Na baixa do sapateiro (1938); Mulato bamba (1932);

Chão de Estrelas ( 1937); Conversa de Botequim ( 1935); Carinhoso ( 1937); O Ébrio

(1935); Lábios que eu beijei( 1937); Camisa listrada( 1937); E o destino desfolhou (1937);

Último Desejo(1937); Fita Amarela(1933); Feitio de oração(1932);Da cor do pecado(1939)

Nada além (1938); A mulher que ficou na taça(1934);Maringá (1932);A última estrofe (1935); Palpite infeliz (1936); Até Amanhã (1933); Feitiço da vila (1930); Número um (1939); Com que roupa (1931);Não tem tradução (1933); Pela décima vez (1935); Entre

outras...

Em 1954 mudou-se para a cidade de Osvaldo Cruz-SP sondado que fora como um ótimo músico, sendo contratado maestro da Banda Municipal de Osvaldo Cruz.

Em 1959 veio para o Paraná, mais precisamente residir em Jandaia do Sul, e desta cidade ia sozinho ajudar os outros três irmãos no sítio de café que compraram em sociedade no município de Icaraíma, próximo ao Rio Paraná. Seus irmãos sócios eram o Amélio, o Vasco e o Walter. Ficou o quarto irmão lá no estado de São Paulo, o Orlando.

Na realidade o seo Aldo depois que veio para o Paraná só morou em Jandaia, para acabar de estudar os filhos, pois não era fácil a vida dos desbravadores nas décadas de 50 e 60 e, dantes, logicamente. Eram matas para todos os lados, os picadões, às vezes demorava semanas para chegar ao destino, em carroções ou a pé. Quem tinha um “pé de bode” (***) era dotô! Jardineira, então, era de horários escassos e de trajetos curtos. Quando chovia então, atolavam-se as jardineiras (ônibus), os caminhões de toras de madeiras, no barro vermelho e grudento do norte paranaense. Haja vista a consulta ao site da Famiglia Barone, na internete; veremos lá muitas curiosidades sobre Jandaia do Sul e região.

Venderam o sítio de sociedade e o Aldo Cappi passou a ocupar o cargo de administrador da Fazenda Farinazzo, no lugar de um herdeiro, o senhor Felício, a partir de 1963 e foi até 1967. Foi também, em 1963, que faleceu o seu único e grande amor: THEREZA VERZOLA CAPPI. O endereço desta fazenda, que foi repartida e vendida para várias pessoas, a partir de 1980: Antonio Carlos Puppio= 57 Alq.Paul.; irmãos Ginez e José Vilar, mas antes do Hermínio Vinhole, 14 Alq.Paul.; Amílcar Cristóvão=12 Alq.Paul.; os filhos e um neto do Santim, Nivaldo Farinazzo, Nival Farinazzo e Nival F.Filho, com o restante: Estrada da Amizade km 6, outrora formada pelos Irmãos Farinazzo: Felício, Geraldo, Roberto e Santim, fazenda esta tipicamente cafeeira de 100 Alq. Paul., com aproximadamente 1.000.000 de cafeeiros e 80 famílias (cerca de 500 pessoas) de empregados e parceiros , também chamados de porcenteiros (30%) e o restante ficava com os patrões porque, por força de contrato, forneciam o custeio das lavouras, os adubos, os inseticidas, as sementes das lavouras temporárias intercaladas com a cafeicultura. Também financiava e garantia os parceiros conta própria junto às empresas comerciais da cidade, como os secos e molhados, lojas de tecidos, etc..

Bailes e os jogos de futebol eram as diversões dos empregados, parceiros ou não, inclusive com a participação do povo da zona urbana que desciam nos finais de semana envolto na poeira da estrada de terra roxa ou até mesma na lama que se formava da terra fofa.

Nesta época os veículos automotores famosos que rompiam o barro eram o Jeeps Willys, 4 portas, o fusquinha (VW), motor 1200 cc, o Aero Willys, bem como o caminhão GMC (General Motors Corporation), o Chevrolet Brasil e mais uma meia dúzia.

Nesta época “seo” Aldo era freguês da Casa do Povo, do senhor Rafael Morales Sanches, da Casa União, dos Irmãos Fiorucci, mandava limpar o arroz em casca na Máquina Martinelli, dos irmãos Erciso e Adherbal, dentre outras.

Foi sempre pontual e honesto com seus negócios e todos lhe davam o devido crédito.

Neste ínterim o seu filho Hermes comprou um sítio de café no Bairro Jacutinga, município de Ivaiporã-PR, e para lá foi seo Aldo cuidar onde também plantava lavouras brancas intercaladas, para sustento dos pequenos animais e das duas famílias.

Após a morte do filho, em 1972, logo o sítio foi vendido e Aldo aposentou-se pelo antigo “FUNRURAL”. Quem o aposentou foi o Manoel Alves de Souza, O Manezinho do Bazar, que também era chefe do órgão aqui em Jandaia.

E como músico da Banda Municipal de Jandaia do Sul? Quando começou a última formação? O Aldo chegou e engajou-se na Banda, em 1959.

Em 1952, a fundação da mesma ocorreu na gestão do prefeito Lino Marchetti sendo seu primeiro maestro por aqui, o senhor Luiz Borim, um vendedor de galinhas, as ditas caipiras, e a função musical do Aldo foi a de bombardista, o tocador de bombardino. O senhor Borim comprava uma partitura para cada música, seja para o Hino Nacional Brasileiro, seja outro dobrado qualquer (****), nas modalidades que era especialista, o Trombone e o Piston, e as configurava para o sax, o barítono, o bombardino, e outros. Comprava em São Paulo e isto era para economizar para os cofres municipais.

Sabe-se que a Banda teve altos e baixos na sua primeira existência. Porque primeira existência? Porque houve dispersão de músicos e, principalmente, de instrumentos e partituras e só ocorreu uma segunda vitalização, no ano de 1983, na gestão de Perseu Matheus Pugliese – 1983 – 1989, quando a senhora Terezinha Barbosa Guimarães, diretora do Departamento de Educação e Cultura da PMJDS, foi a madrinha e incentivadora da “banda adormecida” (*****), ajuntando os músicos ávidos pela nova formação, instrumentos nos colégios, nas igrejas e confiando-os ao maestro Moacir Maciel de Brito, de Apucarana, que hoje, em novembro de 2010, se encontra debilitado pela pouca visão após uma cirurgia de cataratas. Reside no NH Adriano Correia, à Rua Serra do Mocambo, 35, tel. (43) 3423-6435. Em depoimento, lembrou da assiduidade do seu comandado Aldo, desejou-lhe muitas felicidades e frustrado com a paralisação das atividades da Banda Municipal de Jandaia do Sul, na segunda gestão do mesmo prefeito Perseu – 1993 - 1996 . Foi contenção de despesas? Mas não são despesas e sim investimentos o aplicado em quaisquer atividades culturais! Ou não, pelo menos este simples escritor assim entende. O dinheiro não é dos governantes e sim do povo. Tomara eu ver!!! E as escolas quando terão de novo aulas de músicas, alicerces da cidadania? Que se contratem professores para tal fim. Senhor Prefeito, senhor Governador, senhor Presidente, venham aqui e fiquem aí mesmo: - ordenem a quem de direito os tais contratos. Aposto que tirarão muitas crianças e adolescentes das drogas. Invistam nos seres humanos e será o Brasil, logo, logo, a maior potência mundial, saindo do 73º lugar no ranking da educacional e sei lá qual a colocação no cultural. Parem e pensem nisso.

Seus companheiros de banda ao passar dos anos, seo Aldo, além dos dois maestros e sem obedecer nenhuma ordem: Renê de Figueiredo Cruz - Trompete,Antonio Marcos S.Cruz – Trompete e sax; Viviane F.Cruz – clarinete; Dito Marega – Saxofone Bi Menor ou Sax Alto; Elias (de Bom Sucesso) – Trombone; Joãozinho (de Kaloré) – Trombone; Benedito Moreira(As.de Deus) – Baixo Tuba; Felipe (As.de Deus) – Trompete;. Hermíno (As.de Deus) – Bombardino e Contra Alto; Tubaina –Repico; Lofrano, apos.prefeitura- Bumbo; Felipe, motorista caminhão da limpeza pública municipal e (As.de Deus) - Piston; Maria Elena, esposa do maestro Moacir - Sax, Paulinho, filho do maestro Moacir - Trompete, ; Dão –Trombone; Juarez Araújo dos Santos, o Araújo de Apucarana – Trompete; Armando Cassemiro – Trombone e Baixo; Mariana Rodrigues, a professora da Escola Menino Deus – Sax; Machado – Trombone e Trompete;

Carlinhos – Caixa; Arnoldo – Clarinete e Sax Alto; Anélio Figueiredo – Trombone, eram uns 32, mas os demais ficam na lembrança de seus companheiros e aos que partiram, ficaram os acordes que jamais se acabarão, porque outros alunos, filhos ou não, netos ou outrem, farão a continuidade desta linguagem universal.

Tres curiosidades curtíssimas, para terminar:

1ª) O maestro Luiz Borim faleceu com 90 anos, em 1981, e quantas vezes ficava até às três, quatro, cinco horas da madrugada, nos meses de inverno, trabalhando nas partituras e quando seu filho solteiro João chegava dos bailes, mandava-o deitar e dormir. Na tarde véspera de sua morte, que ocorreu às duas da madrugada, ouviu do quarto, que seu filho Ercílio precisava de CR$ 1,00 para interar a conta d’água e mandou que se pegasse no bolso do paletó. Morreu lúcido, com boa visão e audição; dádivas divinas.

2ª) Já nesta segunda ou terceira geração de músicos, a nossa Banda foi tocar no aniversário de São João do Ivaí-PR, 80 km de Jandaia do Sul, concorrendo com a apresentação de violeiros e o povão veio quase a totalidade para o lado da Banda. Foi quando um dos deputados estaduais cochichou no ouvido do maestro Moacir: -“a vossa Banda é melhor e mais afinada que as nossas da Capital”. Elogios que foram melhor que dinheiro!

3ª) Outrossim, o seo Aldo é uma aroeira; se alimenta bem, dorme bem, ouve razoavelmente (usa aparelho), gosta de conversar com os amigos músicos ou não, toma bastante café com bussolam e ainda usa o tradicional baritim...

Notas do autor:

(*) Ver artigos, em anexo, retirados da Internet

(**) Ver outro artigo deste autor no site: www.recantodasletras.com.br, digitando Ponga, em autores e buscar “BOLAS DE PANO, DE PAPEL, DE BEXIGA DE PORCO E, DE CAPOTÃO.” ( REMINICÊNCIAS... )

(***) Automóvel antigo, no linguajar caipira, popular.

(****) O dobrado é um dos gêneros da música brasileira para bandas em que o Bombardino toca uma parte muito importante, fazendo solos e contracantos. ...

(*****) Ver citação no livro “Jandaia do Sul – Passado & Presente, pág.251, edição mar/2006, de autoria de Terezinha B. Guimarães.

Obs.Gerais: 1ª) Doc.publicado no site www.recantodasletras.com.br, em 16/11/2.010, acessar Ponga, em autores, na modalidade “homenagens”.

2ª) Os anexos descritos acima, sobre Dobrada-SP e Palmeiras, por ex., não foram publicados no site do RdL, por questões de espaços, mas podem ser acessados mediante o google, o cadê, etc., via internete.

Autor: Adiones Gomes da Silva, o Ponga – Vice Pres.da Soc.dos Poetas Jandaienses – SPJ, Doc.nº 073, Jandaia do Sul-PR, Nov/2.010.