O nome todo é Pedro Cavalcanti e Silva Lizardo. Faz dezoito anos hoje. Isso me tirou cedo da cama. A ideia foi um café da manhã. Acordá-lo com esta surpresa. Na padaria, pão de queijo, pão francês, pão recheado (de torresmo) e uma torta holandesa.
Diz que vai treinar boxe. Ganhou de presente uma corda e um par de luvas. Vai ter que entrar em forma. Fico satisfeito, esse menino vai apanhar um pouco. Depois desse café da manhã, todos dormiram. A mãe a irmã dele vieram aqui no parque perto de casa, gravar com a prima um vídeo com mensagens para ele, que deve estar sendo entregue agora.
Eu gravei minha participação ontem. Andava procurando o que ia dizer. Tinha que ser algo o mais significativo possível. É disso que irei falar agora. Da história que, dentre tantas, escolhi para colocar no meu depoimento.
Estávamos no tribunal, afinal o juiz ia dizer que podíamos ser os pais dele. Já tínhamos enfrentado a eficiência da vara de família, com entrevista e inclusive com uma visita domiciliar. Uma assistente social, numa das tantas entrevistas, já havia me perguntado por que eu queria aquela criança. Eu respondi a ela com uma pequena reflexão, perguntando-lhe se faria essa mesma pergunta se estivesse vendo minha esposa com uma barriga de grávida. Ela me olhou com um olhar que denunciava um ar de estranhamento e de sincero assentimento.
No tribunal, iniciada a sessão, o juiz chamava um por um, não todos juntos. Passavam por uma porta que era depois fechada e ninguém ouvia o que lá dentro se dizia.
Chamou primeiro a mãe, eu fiquei ali com o Pedro, que estranhou a mãe se ausentar, mas ficou ali comigo. Era conversador, perguntador e brincalhão. Procurei fazer das tantas coisas que o distraísse, para não querer ir com ela.
Depois foi a minha vez. Ele olhou estranhando, queria ir comigo, mas não podia, fez um tantinho de birra, contrariado, mas, atendendo a solicitação do magistrado, entrei na sala e igualmente a porta foi fechada atrás de mim.
O juiz fez umas perguntas que creio serem de prexe em audiências desse tipo, perguntou-me se fazia tudo de vontade própria, se tinha certeza de meus atos, se não estava sendo coagido por nada e nem por ninguém e eu respondi tudo conforme manda o figurino.
Nesse momento, Pedro se debatia lá fora, queria por que queria ir lá dentro onde o pai estava, onde se imaginou ele não poder entrar num lugar em que eu já entrara.
Então, o juiz veio com o que parecia a pergunta mais importante: “por que o senhor quer este filho?”
A mente hesitou por alguns segundos em usar a mesma resposta que havia usado com a assistente social, eu já ia enveredando por esta reflexão, quando achei que merecia uma resposta melhor e por mais alguns segundos fui procurando o que dizer.
Foi quando a porta se abriu abruptamente, aquele tiquinho de gente gritando “pai, pai” entrou na sala e pulou satisfeito no meu colo.
O juiz, olhando aquilo disse: “o senhor está dispensado de responder a esta pergunta”.
Assim, há pouco menos de dezoito anos atrás, encerrou-se a homologação de um processo de adoção.
Nunca mais contarei essa história, porque nunca mais vai ser necessário. O que se deu ali foi o juiz homologar o que já havia sido desde sempre.
Hoje, num dia partido em duas metades, sinto que sei mais coisas.
Eu sou pai. E meu filho chama-se Pedro!
PARABÉNS, MEU FILHO! EU TE AMO MUITO!
Diz que vai treinar boxe. Ganhou de presente uma corda e um par de luvas. Vai ter que entrar em forma. Fico satisfeito, esse menino vai apanhar um pouco. Depois desse café da manhã, todos dormiram. A mãe a irmã dele vieram aqui no parque perto de casa, gravar com a prima um vídeo com mensagens para ele, que deve estar sendo entregue agora.
Eu gravei minha participação ontem. Andava procurando o que ia dizer. Tinha que ser algo o mais significativo possível. É disso que irei falar agora. Da história que, dentre tantas, escolhi para colocar no meu depoimento.
Estávamos no tribunal, afinal o juiz ia dizer que podíamos ser os pais dele. Já tínhamos enfrentado a eficiência da vara de família, com entrevista e inclusive com uma visita domiciliar. Uma assistente social, numa das tantas entrevistas, já havia me perguntado por que eu queria aquela criança. Eu respondi a ela com uma pequena reflexão, perguntando-lhe se faria essa mesma pergunta se estivesse vendo minha esposa com uma barriga de grávida. Ela me olhou com um olhar que denunciava um ar de estranhamento e de sincero assentimento.
No tribunal, iniciada a sessão, o juiz chamava um por um, não todos juntos. Passavam por uma porta que era depois fechada e ninguém ouvia o que lá dentro se dizia.
Chamou primeiro a mãe, eu fiquei ali com o Pedro, que estranhou a mãe se ausentar, mas ficou ali comigo. Era conversador, perguntador e brincalhão. Procurei fazer das tantas coisas que o distraísse, para não querer ir com ela.
Depois foi a minha vez. Ele olhou estranhando, queria ir comigo, mas não podia, fez um tantinho de birra, contrariado, mas, atendendo a solicitação do magistrado, entrei na sala e igualmente a porta foi fechada atrás de mim.
O juiz fez umas perguntas que creio serem de prexe em audiências desse tipo, perguntou-me se fazia tudo de vontade própria, se tinha certeza de meus atos, se não estava sendo coagido por nada e nem por ninguém e eu respondi tudo conforme manda o figurino.
Nesse momento, Pedro se debatia lá fora, queria por que queria ir lá dentro onde o pai estava, onde se imaginou ele não poder entrar num lugar em que eu já entrara.
Então, o juiz veio com o que parecia a pergunta mais importante: “por que o senhor quer este filho?”
A mente hesitou por alguns segundos em usar a mesma resposta que havia usado com a assistente social, eu já ia enveredando por esta reflexão, quando achei que merecia uma resposta melhor e por mais alguns segundos fui procurando o que dizer.
Foi quando a porta se abriu abruptamente, aquele tiquinho de gente gritando “pai, pai” entrou na sala e pulou satisfeito no meu colo.
O juiz, olhando aquilo disse: “o senhor está dispensado de responder a esta pergunta”.
Assim, há pouco menos de dezoito anos atrás, encerrou-se a homologação de um processo de adoção.
Nunca mais contarei essa história, porque nunca mais vai ser necessário. O que se deu ali foi o juiz homologar o que já havia sido desde sempre.
Hoje, num dia partido em duas metades, sinto que sei mais coisas.
Eu sou pai. E meu filho chama-se Pedro!
PARABÉNS, MEU FILHO! EU TE AMO MUITO!