Dois poetas queridos: Shirley Carreira e Gustavo Schramm

Rumores da Luta

E tanto se guarda desassossego
Que o sonho passa batido
Pois um universo desconhecido
Te guarda o verso do desapego

Desejo não se oculta, se grita
Promessa não se guarda, se cumpre
O labirinto só te adia o vislumbre
Do instinto, que por temor se evita

Abre-te, inteira, derradeira paz
Se hesita, insiste
Troca a veste, persiste
Pois só teu “eu” em ti jaz.

Sois, inteira e derradeira, verdade
Não te furte a ânsia de prosseguir liberdade
Pois tendes em ti, muito mais que pretendes

Se é, intransponível, o obstáculo
O é só em nosso olhar, pois se perde no vácuo
Quando a solução, não entendes

Contudo esse arrepio, na pele
Todo desatino, que insensata repele
É viva prova, em ti irresoluta

Não há sentido, tampouco é inteligente
É pois temeroso, ensurdecer-se
Pára, senta e, agora, atenta, escuta.

Tum-tum... tum-tum... é a luta!

Gustavo Schram



Dos rumores da guerra

Soam tambores, poeta, soam;
Se de guerra ou festa pouco se sabe;
Ao longe os ouço; a distância ecoam
Como o rufar imponente da tempestade.

E há tempestade, poeta, cá dentro d´alma;
E há lufadas fortuitas de vento voraz;
E nos ares se evadem o sossego e a calma,
A sonhada alegria, a ansiada paz.

Soam tambores, poeta, e eu escuto,
Muito embora não saiba o que são:
Se os murmúrios distantes de guerra
Ou as batidas do meu coração.

Shirley Carreira