Pra Vô cê ir em paz
Já deu né José?
Os passos serenos
Os sonhos pequenos
Não por falta de coragem, mas, por ser maior a possibilidade
De se viver sempre a realidade
Do piso árido do sertão
Agora na cama de uma imensa construção
E de nada vale esperar
Por osmose a vida insiste em lutar
Há fé, mas, da esperança já enxergo o limiar
Quantos dias José?
Quantas historias pra contar?
“Cê num sabe seu moço, o tanto que o tempo é capaz de mudar
Era menino e hoje homi, já vi macaco e lubisomi
Mas nada me deu tanto medo, quando nossa Senhora do Desterro
Butou o céu pra berrar
Chuveu 15 dia e quinze noite
E depois como num açoite vi o céu se alumiar
Deu feijão, milho e fartura
Tirei a peixeira da cintura
Guardei na venda de Zé Duda
E fui pedi a mão dela pra cazá
De lá pra cá você já sabe
Mudei pra cá pra essa cidade
Onde passei a mocidade
Até minha casa levantar
Ondei criei meu quatro filho
Pois truxe ela pra morar
Se num fosse o medo dágua seu moço
Acho que num tinha saído do sertão.”
Vô ce é o exemplo de que é só cruzar a ponte
Pra o futuro ir encontrar
E que todo mundo tem que ter duas coisas pra viver
Um medo e um amor no coração
É difícil aceitar a morte José
Mas pior é entender a vida
Odeio o tom da despedida
Um dia a gente vai se encontrar, né?