ESTA VIDA DE SOLDADO
Diz-me lá como te chamas?
Disse para mim um Tenente
Em que terra foste nascido?
Como se chama a tua gente ?
Minha terra senhor Tenente
É do melhor que pode haver
Lá deixei os meus pais
Por mim, decerto a sofrer
Então deram-me um papel
Que li sem entendimento
Era a nova ordem
Companhia de regimento
Ao primeiro Sargento
Que me fui apresentar
Mandou-me cortar o cabelo
Para depois o banho tomar
Depois do banho tomar
Nem me disseram mais nada
Fui logo limpar ervas
Para o canteiro da parada
Depois do dia seguinte
Já tocou a instrução
Sentido direito, esquerdo
Ensinou-me um Capitão
Esquerdo, direito, voltar
E dar um passo em frente
Tudo isto eu aprendi
No meio de tanta gente
Nesta vida amargurada
Andamos sem um tostão
A gente não ganha nada
Que tristeza e solidão
Depois de começar a instrução
Aprendemos também a marcar passo
E a fazer o manejo das armas
Com todo o desembaraço
Naquele primeiro dia
Andamos muito comovidos
Olhávamos uns para os outros
Todos éramos desconhecidos
No tempo que eu passeava
Ainda me resta solidão
Agora sou soldado
E ando de espingarda na mão
Faço a cama a brincar
À paisana nunca fiz
Quando um dia me casar
Minha mulher será feliz
Tenho silêncio às 9.30
E mais não posso falar
Se assim não proceder
Logo me vão castigar
Se falo tenho castigo
Se não falo sou castigado
Não sei como hei-de viver
Nesta vida de soldado
Ainda me sinto feliz
Além de não comer nada
O destino assim o quis
Que vida amargurada
Mas vamos falar do rancho
Que é coisa engraçada
O arroz para cimento
Para fazer placa armada
Comemos massa e grão de bico
Com o nabo misturado
Que fome a gente passa
Triste vida de soldado
As batatas mal cozidas
As cenouras com raiz
Tripa de vaca dobrada
Água do chafariz !
Esta quadra é uma homenagem ao meu irmão que esteve na tropa há mais de vinte anos