Álbum de Fotos

Quando digo que não nasci para ser mãe, pois ainda me sinto completamente “filha”, não me refiro só aos extremos cuidados que minha mãe sempre teve comigo, mas sim porque se eu juntar uma coleção de “mães” que tenho, vai ficar bem claro o quanto eu me sinto bem e acolhida com esse tanto de pessoas que gostam de cuidar de mim.

Mimada, eu? Pode até ser que sim, mas é como se eu fosse aquele cãozinho carismático e engraçado que todo mundo gosta de fazer um carinho, um agrado ou brincar um pouquinho só para me ver feliz!

E Esse sentimento coletivo de “vamos cuidar da Elaine” vem desde o meu nascimento. Não foi lá um parto perfeito, tranquilo, afinal passei alguns dias a mais na barriga da mamãe. E por causa disso, nasci toda roxa, parecendo um abacate estragado... E lá fui eu ficar na incubadora até minha cor voltar ao normal!

Até aí tudo bem, mas o fato é que eu nunca fui uma criança 100% saudável e sossegada assim como minha irmã. Acredito que meus pais tenham curtido muito o nascimento dela. Primeira filhinha. Parto tranquilo. Vidinha tranquila. Saúde, amor, finanças em dia e uma família linda! Linda mesmo, de dar orgulho em qualquer um.

Três anos depois eu nasci e viramos um quarteto.

Adoro ver álbuns antigos de fotos, pois eles registram momentos que nos fazem sentir vivos e felizes. E lá temos fotos dos meus pais novinhos, orgulhosos das suas duas filhinhas lindas e várias fotos dessas filhinhas lindas na praia, nas festinhas de aniversário, brincando contentes em casa, nas viagens, nos passeios, nos eventos de encerramento da escola, nas formaturas... Ah, como é bom lembrar as coisas boas que vivemos. E as fotos contam nossas histórias. As fotos falam, e muito!

Olhando os álbuns da minha saudosa infância percebo o quanto eu fui amada (e mimada!) e bem cuidada! Minha irmã o tempo todo me protegendo, me ensinando, cuidando de mim. Isso até ela ficar insuportavelmente adolescente e me deixar um pouco de lado... Coisas normais que acontecem entre irmãos com alguma diferença de idade.

Mas eu gosto de lembrar as coisas boas. E, pulando essa fase onde ela entrou na adolescência e eu não, alguns anos após sentir o “abandono” dela em relação a mim, percebo que o que quer que fosse, ela sempre esteve ao meu lado. Sempre cuidando para que nada de ruim me acontecesse, ainda que quisesse mostrar pra as amigas que ela era descolada e não tinha que cuidar da irmãzinha chata, caçula e mimada... Mas isso tudo passa, não é? E o bom de tudo isso é que só as coisas boas permanecem.

Um episódio inesquecível em minha vida foi o meu primeiro dia de aula. Minha irmã já estava entrando na 2ª série e eu pisaria pela primeira vez na escola, no Jardim II... Todas as crianças no pátio aguardavam o sinal e eu estava tranquila, pois minha irmã estava por perto. Porém, quando a diretora começou a organizar as filas por série e eu percebi que ficaria (obviamente) em sala separada da minha irmã, desatei a chorar desesperadamente. Me senti completamente perdida, abandonada, ali naquele lugar cheio de gente que eu nunca tinha visto...

Minha irmã rapidamente tentou correr em minha direção para tentar me acalmar, mas foi severamente impedida pela diretora.

Quem me acalmou foi a professora do Jardim II que, docemente, me tratou com todo o carinho do mundo, me explicando que minha irmã não poderia ficar comigo, pois era mais velha e tinha que estudar em outra série. A professora me tratava de um jeito muito especial... E isso causava até umas inimizades por parte das outras crianças da classe, mas não vem ao caso agora.

Mas voltando a falar da minha irmã, lembro da vez em que ela foi para a Disney com a turma da 8ª série. Eu morria de medo que algo ruim pudesse acontecer nessa viagem e dormia até na cama dela de tanta saudade que eu sentia. E chorava todas as noites, abafando a tristeza no travesseiro... O dela!

Lembro também da primeira vez que passei o Ano Novo longe dos meus pais. Fui com minha irmã, um pessoal de um ex-namorado dela e mais uma prima muito querida, a Jailde. Lembro que passei muito mal lá na praia onde ficamos – por motivos que eu conto numa próxima ocasião – e minha irmã foi extremamente cuidadosa comigo. Sinto ter estragado a viagem ficando doente, mas minha irmã representou muito bem o papel da nossa mamãe.

E eu respeitava bem a hierarquia lá de casa. Tinha noção de que, na condição de mais nova, eu tinha que ouvir e obedecer não só aos meus pais, mas à minha irmã também, afinal eu era muito influenciada por ela, ainda que indiretamente.

O gosto por idiomas é um clássico exemplo disso. Enquanto lá estava ela descobrindo bandas da moda para ouvir e cantar acompanhando as letras, lá estava eu tentando fazer o mesmo, porém traduzindo, toscamente, as letras para entendê-las!

Até mesmo o gosto por algumas músicas foram por influência dela! Minha irmã curtia coisas como Aerosmith, Bon Jovi, Guns 'n Roses, Green Day, Nirvana, Pearl Jam... Tudo o que estava em auge nas rádios e na MTV. E daí por diante fui descobrindo sozinha outras bandas até chegar às mais pesadas que ouço até hoje.

Deu para perceber que tudo o que eu via minha irmã fazendo, eu achava que era certo e copiava! Até nosso nome é parecido! Eliane desenhava, dançava, brincava e eu fazia igual, afinal ela era minha a referência mais próxima. Se hoje sou tradutora - apaixonada por idiomas e escrita, cantora - apaixonada por Rock'n Roll e Heavy Metal, atriz - apaixonada por palco e dança, entre outras muitas coisas, quem plantou a sementinha de tudo isso foi minha irmã.

Ela sempre foi eclética e hoje nem curte mais as coisas que curtia antigamente, mas certamente se recorda! Somos muito diferentes uma da outra e eu um dia até cheguei a comentar com ela que, se não fôssemos irmãs, nem amigas seríamos, pois pertencemos a mundos distintos. Eu no meu mundinho artístico desenfreado. E ela, que tinha tudo para ser uma grande bailarina, vive feliz com suas novas conquistas no mundo real.

Ela, uma pisciana, sonhadora por natureza, prefere estar bem acordada agora, após anos e anos tentando se encontrar, se localizar dentro de tentativas e erros e acertos.

Ela, que muito me ensinou e muito me ensina até hoje. E sempre cuidando de mim há mais de vinte anos...

Elaine Thrash – fevereiro/ 2010

(Em homenagem à minha ilustre irmã Eliane)

Elaine Thrash
Enviado por Elaine Thrash em 21/09/2010
Reeditado em 28/09/2010
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