Homenagem à minha mãe
A minha mãe não é somente minha. É mãe de mais nove filhos. Filhos criados na retidão da vida. Hoje já estamos mais do que crescidos, já lhe demos netos e alguns netos já lhe deram bisnetos.
Anos atrás meu pai, seu companheiro de vida, a deixou e hoje ela vive acompanhada de uma das minhas irmãs e de uma senhora, contratada para tal.
Minha mãe nunca aprendeu a ler nem escrever, ou melhor, aprendeu a escrever seu próprio nome, para poder assinar alguns documentos e a ler algumas letras, para poder identificar os ônibus que precisava pegar para se locomover.
Criar dez filhos não é fácil hoje em dia. E não era naquela época. Não sobra muito tempo para demonstrar carinho e amor. A rotina faz com que isso passe despercebido. Mas hoje, refletindo sobre o passado, percebo que eles – o carinho e o amor – estavam lá, sempre presentes.
Lembro-me que quando era criança, pensava que minha mãe não almoçava nem jantava. Via-a preparar o almoço e a janta, a mesa sendo posta. Comíamos. Mas raramente a via comer. Acho que ela comia antes, enquanto preparava a comida.
Ela me levava ao médico e ao dentista. Acordava cedo, antes das quatro horas, para irmos até o posto do INPS, onde ficávamos na fila, no frio de São José dos Campos, aguardando a abertura para então entrarmos em outra fila e conseguir ser atendido pelo médico. Ele só atendia um número fixo de pacientes por dia e se você não estivesse incluído nesse número, tinha que voltar para casa e tentar no dia seguinte. Nunca vi minha mãe reclamar disso.
Ela também me levava ao dentista na faculdade de odontologia e ficava comigo na fila, esperando ser chamado para ser atendido por um dos alunos em sua aula prática.
Assim como meu pai, ela também não conversava muito. Não era de reclamar. Como toda boa mineira do século passado, fora educada para servir ao marido e cuidar dos filhos. Poucas vezes os dois discutiam. Meu pai falava, ela escutava e fazia o que tinha que ser feito.
E cuidava sempre da gente. Costurava nossas roupas quando rasgavam. Fazia a comida que gostávamos. Não me lembro, mas certamente cantava cantigas de ninar para nos fazer dormir.
Não fui um bom filho, sei que a deixei triste em diversas oportunidades. Como toda criança, ou talvez até mais, era birrento e teimoso. Reclamava muito, mas ela nunca me bateu, pois deixava essa tarefa para meu pai.
Sempre se preocupou com nossa educação. Acordava-nos de manhã para irmos à escola, o café e pão com manteiga já na mesa. Às vezes um lanche para levarmos. Quando chegávamos, perguntava se tínhamos lição para fazer e se já tínhamos feito, antes de nos deixar sair para brincar.
Hoje sou homem feito, filhos crescidos e adultos. Não me recordo de toda minha infância, sei que tivemos e passamos por diversas dificuldades e sei que minha mãe, assim como meu pai, soube como criar seus filhos e prepará-los para seguir adiante.
Quando vou visitá-la, sempre peço a benção e ela sempre diz “Deus de abençoe”. Às vezes se lembra que sou eu, o caçula dos filhos homens, que está ali. Às vezes me confunde com outro filho ou apenas não sabe que sou. Mas isso não importa, pois eu sei que é ela – minha mãe – que está ali, presente.
Obrigado, mãe!