Despedida de um poeta  - Giselle Sato




Morte não é o fim de tudo, pelo menos é assim que procuro atenuar a dor das perdas que acumulei ao longo do tempo. Pessoas partem por infinitas causas e não há atenuante, deixam um vazio e muitas saudades. Que coisa difícil é entender a saudade, ela deveria vir sempre que notamos a ausência de um amigo. Distante ou próximo.
Quando estamos sempre em contato e percebemos o sumiço,  procuramos saber o que está acontecendo. Mas quando são pessoas especiais que fogem ao convívio diário a perda abrupta é um grande baque. Então nos perguntamos se o que conversamos foi suficiente, se falamos tudo que deveria ser dito, se expressamos admiração e amizade o suficiente.
Quase sempre a resposta é negativa.

Um amigo poeta faleceu dia doze de setembro, e tudo que eu consigo lembrar é a luta que ele travou para publicar seu livro Divino Tinto, da forma idealizada sem deixar um detalhe escapar, tamanho era o carinho que ele tinha com a obra.
Como fazíamos parte da mesma editora, conversávamos muito sobre o lançamento e outras preocupações. Foram dois anos de trabalhos e expectativas que não deram em nada.  Dias duros aqueles!   

Felizmente  fomos  para outra editora que nos recebeu de braços abertos, começamos tudo de novo, Mendes Dutra era um metódico incansável e  fez milhões de ajustes até ficar satisfeito. De alguma forma sua sensibilidade apontou que era a hora certa.  Além do livro ele deixou incontáveis formas de expressões: poemas, textos, teses e outras criações.

Poetas são teimosos incuráveis, possuem uma forma especial de enxergar o mundo e a vida. Talvez sejam românticos e sonhadores em excesso ou simplesmente amem a vida além da conta.

O ar que respiram alimenta as células e a alma, basta um ligeiro odor de rosas ou morangos para que sejam conduzidos pelos  caminhos que inspiram linhas e rimas. Abrindo o coração e compondo, segue o poeta buscando um instante de entrosamento com o leitor, se a troca existir tudo terá valido a pena e o momento mágico ficará para sempre na memória. Não quero pensar no escuro do luto, não seria justo para alguém que sempre escreveu com tanta paixão, que amou a Arte em todas as expressões.

‘’No céu azul clarinho muitos balões coloridos sopram ao sabor do vento, neles estão escritos porções de poemas, pensamentos e votos de paz e luz.
Nuvens brincam com as formas, gente de todo canto assiste ao balé das poesias com carinho e respeito.

É a despedida do poeta que sempre celebrou a vida!- sussurram contistas, meninos que brincam nas praças, repentistas, trabalhadores do campo,  bailarinos, pintores, cantores, atores, músicos, professores, gente simples, intelectuais...’’ –
A poesia desconhece fronteiras, ela chega à todos e é atemporal. 
 
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 15/09/2010
Reeditado em 07/11/2010
Código do texto: T2499748
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