Deo Gloria, Proximo Salus, Mihi Labor

Deo Gloria, Proximo Salus, Mihi Labor

Raimundo Gomes Meireles•

Excelentíssima Sra. Presidenta, Profª. Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo

Senhores Membros do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão,

Distintas autoridades,

Senhores convidados,

Minhas senhoras e meus senhores,

Antes de tudo, agradeço-lhes o reconhecimento e aprovação de meu nome para integrar o quadro de sócios deste silogeu, onde se reúnem literatos e cientistas, vocacionados pelas coisas do nosso Maranhão e Brasil, referência magistral para os pesquisadores da cultura e intelectualidade maranhense.

Um agradecimento especial a Deus, pelo dom da vida, aos responsáveis diretos pela mestria do rito de cerimônia, que se emprega neste ritual de iniciação desta Casa de cultura e de letras. Assim, publicamente, reitero meus agradecimentos à Presidenta desta Memorável Instituição, Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo e à Professora Joseth Coutinho Martins de Freitas, que de forma tão gentil e solícita indicaram o meu nome para usar, essa modesta alocução, da palavra. Um profundo agradecimento aos que procederam à análise do meu currículo. Enfim, a todos os sócios efetivos, meu muito obrigado.

Inicialmente, permitam-me atribuir nesta maravilhosa noite de sexta-feira, na Ilha dos encantos, que o poeta gonçalvino, estando ausente, não hesitou esse seu cantar, Ilha em tempo de férias e encanto, de enamoramento e descanso, o título desta alocução, as palavras de São Francisco Xavier: “Deo Gloria, Proximo Salus, Mihi Labor. A Deus a glória, ao próximo a salvação e pra mim o trabalho”. Palavras que alimentaram a mística e espiritualidade do patrono elogiado desta noite.

Pois bem, a originalidade do Canto, da Música, da Poesia, da Arte, do Direito, da História, da Geografia, dos saberes em geral, é algo que fascina o ser humano. Creio que todos nós somos fascinados pela originalidade do ser humano e da natureza.

Qual a criança que não deseja perseguir as melhores notas, ser a primeira da classe? Ser a única a conquistar o maior número de pontos em seu boletim, ao final do ano letivo, na disciplina que aparenta ser a mais difícil?

Cada ser humano é único, talvez por isso, tenha a sede inesgotável da busca do primeiro lugar em qualquer recinto compatível com a sua condição. Às vezes, o desejo é tamanho que chega a pôr de lado sua capacidade e investe na implementação das forças desenfreadas do cego desejo puramente instintivo. A busca do Bom, do Belo, da Arte, da Vida. A única experiência que o ser humano não tende com facilidade é a da morte. Ocorre, no meu entender, porque somos feitos para a vida, não para a morte. O projeto do ser humano é um projeto para o infinito. Não tenho dúvidas de que somos cidadãos do infinito.

Senhores e senhoras,

Pergunto-me, o que venho fazer a esta Casa? Que contribuição darei? De uma coisa sou consciente: a originalidade é atributo do infinito, porque é inerente ao ser humano. De duas coisas não me posso furtar: de ser único e humano. A minha originalidade em pessoa. Eis o que posso oferecer à Casa de Antônio Lopes.

Desde criança, creio eu, Deus já me havia indicado pistas para momentos semelhantes a estes em minha vida. Só agora entendo os desígnios eternos. Quando menino, na década de setenta, tive a oportunidade e o orgulho de estudar em escolas públicas intituladas “Sotero dos Reis”, “Sousândrade” e “Gonçalves Dias”. Somente no presente percebo que tudo se deu para, que, hoje pudesse compreender não só a importância que estes monstres sacrés da literatura maranhense representam para o Maranhão e o Brasil, mas também além de outros sinais, tomar consciência cada vez mais de minha pequenez diante dos fatos e acontecimentos da contemporaneidade. Foram além de meus pais, os professores, homens e mulheres abnegados dessas escolas que me levaram o conhecimento, o gosto e o entendimento pelas coisas do nosso Maranhão e de nossa São Luís.

Permitam-me destacar o nome de uma prima: Maria do Socorro Meireles, pessoa a quem tanto devo, pela preocupação, apoio, entusiasmo e encorajamento quando criança, nos meus primeiros anos de estudos aqui em São Luís.

Senhores e senhoras,

No dia 01 de outubro de 2007 recebi um comunicado deste Sodalício onde constava que as sócias, Professora Joseth Coutinho Martins de Freitas e a Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, indicavam minha pessoa para ocupar, na qualidade de Sócio Efetivo, a Cadeira nº 60, patroneada pelo Cônego José de Ribamar Carvalho, proposta esta aprovada por unanimidade pela Assembléia Geral, realizada em 26 de setembro daquele ano.

Senhores e senhoras,

O direito interno desta casa acena para que o sócio efetivo, ao tomar posse solene, deverá, na oportunidade, fazer elogio ao seu patrono. Elogiar o Cônego Ribamar Carvalho é fácil, o difícil será como elogiá-lo, o magnânimo legado que ele deixou ao povo, da pessoa mais humilde ao mais letrado do Maranhão. De certo, procurarei a forma mais simples, mais honesta com ele e comigo, talvez mais para mim que para ele.

Acredito não haver maior elogio ao Cônego Ribamar Carvalho, do que aquele que o fez de si mesmo, apresentando-se talvez de forma despretensiosa, quando do aparecimento da publicação de 2 Discursos, contendo sua peça oratória de recepção do acadêmico Carlos Cunha na Academia Maranhense de Letras. Quando li pela primeira vez esse escrito, fiquei encantado pela singeleza e simplicidade da fala do grande orador sacro.

Sinceramente, minhas palavras deveriam parar por aqui, mas o dever me obriga a continuar. Com certeza não direi muito mais do que estão condensadas nestes parágrafos. Senão, confiramos:

Nascido em Codó, de pais humildes e trabalhadores, teve tudo para não ser nada.

Tinha boa memória, lá isso tinha, no tempo em que se confundia memória com inteligência.

Órfão aos seis anos sentiu o que é desejar sem ter. Mas também conheceu a mulher forte da Escritura: sua mãe.

Assim, foi estudante de escola pública, jogou no time do padre Dourado, fez seu primeiro discurso aos 10 anos: discurso político, em comício da LEC. Foi seminarista, padre professor, estudou na Sorbone, celebrou missa no Calvário, conheceu João XXIII e Kruchev, foi Secretário de Estado, Reitor, viu as maiores civilizações da terra e se descobriu querendo mais bem ao Brasil. Perpetrou versos e discursos, que lhe abriram as portas da Academia Maranhense de Letras.

Não tem inimigos, e seu canteiro de ressentimentos há muito que muchou. Sente-se realizado plenamente na vida, na profissão e no ideal. Quando era garoto sonhava e viva só de esperança. Hoje, ainda sonha e vive também de esperança... e amor! Esse menino sou eu.

No presente estou fito diante do binômio: orgulho e responsabilidade. Orgulho em dois sentidos: primeiro porque me comparo com ele no que diz respeito à origem de meus pais, “humildes e trabalhadores e tive tudo para não ser nada”. Do muito que me deram, embora possam hoje achar pouco, fiz de tudo para aproveitar o que vi e ouvi de melhor em todos. Segundo, porque o nome do Cônego Ribamar Carvalho refere-se a uma das figuras mais brilhantes no campo da Oratória, do Magistério, da Gestão universitária, da Política educacional, da Espiritualidade, da História, do Jornalismo, da Poesia, da Música e do ministério presbyteral que a Igreja Católica no Maranhão, assim como as Universidades do Maranhão, a atual Universidade Federal do Maranhão e a Academia Maranhense de Letras já possuíram, e que por tais motivos temos a obrigação de fazer jus ao que ele representou e passa representar nos tempos atuais.

O Cônego Ribamar possuía a capacidade de dialogar com o lavrador, o homem do campo, a família simples da Baixada maranhense, assim como o intelectual bem mais preparado da cidade ou estrangeiro. Ademais, altamente informado dos acontecimentos de seu tempo. Perguntasse o que perguntar tinha sempre uma resposta pronta à altura de cada expectativa. Creio que muitos dos senhores e senhoras, que hoje me escutam, possuem experiência inaudita, por isso, podem comprovar que não estou falando miragens, mas que, com certeza, corroboram essas palavras.

Foi considerado em seu tempo um dos maiores oradores de improviso que o Maranhão já possuiu, dito isso por muitos que conviveram com ele. Por esse motivo, não podemos perder de vista que estamos tratando de uma pérola preciosa da intelectualidade maranhense.

Responsabilidade, senhores e senhoras, porque, de certa forma, a figura de um ilustre pensador do quilate do Cônego Ribamar não se encontra com facilidade aos nossos arredores. Homem possuidor de grande cultura na área das Ciências Sociais, expressão de honra, dignidade, respeito, competência e honestidade marcaram a vida desse cultor da esperança e da poesia.

A propósito de honestidade ficou célebre uma frase de seu discurso de despedida da reitoria da Universidade Federal do Maranhão, em 14 de novembro de 1972. Disse ele:

Sobreviver sempre é forma melhor de viver; mas sobreviver com honra é a única forma honesta e correta de viver, quando não se perdeu o respeito de si mesmo e a medida da própria dignidade.

Foi Olavo Bilac quem disse: “sem saudade e sem esperança, não há poesia no Brasil... Mas, caso estranho, nos versos de quase todos os nossos poetas, sempre a saudade è cantada com carinho, ao passo que a esperança é cantada com amargura. E quase todos os nossos poetas acabam sempre por dizer que a sua única esperança... é a morte!” O elogiado desta noite fugiu deste parâmetro, talvez consciente do aviso do grande poeta brasileiro.

Ribamar Carvalho caracterizou esperança pelo seu conteúdo bom e generoso. Ademais, acredita como Olavo Bilac ser “o único bem real da vida...”. Assim escreveu em um de seus versos, denunciando o individualismo do mundo moderno:

A noite escura é provada

De sonhos maus: é noite sem estrela,

Na própria idolatria.

Não tem uma esperança

Não tem uma alegria;

Dá pena vê-la,

É noite debruçada

Sobre um mundo vazio,

Nunca faz primavera,

Há geleiras eternas,

É inverno, faz frio.

E reitera, em outra passagem, agradecendo o dom que lhe foi dado por Deus:

A quem guardou o meu primeiro canto,

As alegrias dos primeiros versos;

De amor, ansiedade e confiança,

Orientou os passos da criança,

O adulto de agora,

Deposita o que nunca jogou fora:

A imensa Esperança.

Alem de poeta era jornalista, “merecidamente aplaudido como orador de grandes méritos”, como escreveu um dos grandes poetas maranhenses do séc. XX

A título puramente contextual, trago a lume a realidade histórica de uma das décadas vividas pelo Cônego Ribamar Carvalho, a saber, a década de 40. Ilustra a realidade do Maranhão de outrora, dos anos idos em que viveu um dos maiores educadores do Maranhão no século passado. Homem que trazia em suas entranhas o amor pela cultura de seu povo e de seu Estado.

Senhores e senhoras, permitam-me fazer uma referência sobre a situação econômica do Maranhão de 1948, ano em que o jovem então Padre José de Ribamar Carvalho exercia o seu primeiro ano de ministério presbiteral. Pois como somos sabedores, geralmente os primeiros anos de nossas vidas de trabalho, quando a profissão se alia à vocação, se não determinam nossa trajetória profissional, pelo menos delineiam o futuro de nossas vitórias. Eis o que propagava o IBGE na época:

As matas equatoriais e úmidas do Maranhão, prolongamento da flora amazônica, possuem exuberantes variedades de riquezas naturais, sobressaindo os intérminos palmeirais de babaçu, nativos no Brasil e de habitat predominantemente no Maranhão.

Um bilhão de palmeiras, aproximadamente, de produção abundante e colheita fácil, permite uma indústria extrativa de amêndoas oleaginosas, de elevado valor econômico (...)

O óleo das amêndoas do babaçu constitui ótima matéria prima para diversos fins industriais, destacando-se a fabricação de banha, manteiga, sabão sabonete, etc utilizado ainda como lubrificante e combustível para motores a explosão. [...]

É ao sul do Estado, no prolongamento do chapadão amazônico, que a palmeira piaçava medra com maior espontaneidade, oriunda certamente da espécie “Leopoldina piassaba”, de habitat predominante no vale do Rio Negro. O Côco da piaçava, saboroso e de odor agradável, produz um óleo que a França consumiu em larga escala, antes de guerra, na industria de perfumaria, extraído dos coquilhos importados da Bahia. (...)

O buriti é outra palmeira que, além do coquilho, fornece ainda, para o fabrico de doces, sua polpa fortemente oleaginosa, exportada de comum, em forma de raspa sêca ao calor do sol. (...).

A semente oleaginosa do tinguí, arbusto sarmentoso que medra por todo o sertão, é aproveitada no fabrico doméstico do sabão e na medicina caseira, pelas qualidades purgativas de seu óleo, sem cheiro ou sabor particular, substituindo com muito proveito o elo de rício.

A apeíba, conhecida também pela denominação de pente de macaco, produz frutos em forma de cápsulas redondas e achatada, envolvidas por uma casca fina, cor preta, recorberta de espinhos curtos, contendo como resina (...) a semelhança semente de gergelim. (...)

Os óleos de andiroba não são comestíveis, porém se prestam admiravelmente para o fabrico de sabões, imprimindo ao produto um odor resinoso agradável. (...)

As fibras de tucum (astrocaryum) resistentes e flexíveis, com similar apenas nas fibras do ramie, são muitos valorizadas no comércio mundial pelo emprego na fabricação dos tecidos tipo “tussur” e nos sucedâneos dos tecidos de linho. (...)

Uma tonelada das cascas de mangue, principalmente do chamado vermelho chega a produzir 400 quilos de estrato tânico, bastante consistente. Esse produto substitui perfeitamente o quebracho da Argentina e do Paraguay (...)

O Maranhão ocupa lugar destacado no parque salineiro nacional que, para esse fim, oferece o litoral em toda a sua extensão. (...)

É dotado ainda, o Maranhão de outras riquezas do reino mineral, sobressaindo do diamante no rio Tocantins; as jazidas de cobre e grafite, em Grajaú; gesso, nessa mesma localidade e em Barra do Corda; o sulfureto de ferro, em Curuzú, Vargem Grande e Iguaratinga; calcácrios próprios para fabrico de ciemento, em diversos municípios, destacando-se pelo grau de pureza, os depósitos de Caxias; o caolin e argilas corantes, no litoral noroeste; o quartzo, no rio Maracassumé; o manganês, nos municípios, nos municípios de Turiaçú, e Carutapera e no vale do rio Mearim; o giz, no rio Grajaú;as areias monozíticas, em Axixá e Morros; as diatomáceas e sulfato de alumínio, no rio Novo, município de Tutóia; os xistos betuminosos, nos municípios de Codó e Barra do Corda; mica, pirite, cristais de rocha, quartzo, etc., em diversos municípios e finalmente uma fonte hidro-mineral em Caxias.

A economia do Maranhão repousa também na indústria extrativa da pesca. O litoral, rios e lados e os imensos campos da Baixada constituem fontes de riquezas inexauríveis, fornecendo abundantes alimentações regionais e fartos recursos para o comércio de exportação interestadual.

No Maranhão há terras férteis e propícias para todas as lavouras do clima tropical, sobressaindo a mandioca, milho, fava, cana de açúcar, algodão, gergelim, mamona etc.

O Maranhão possui condições especiais, para a instalação de uma indústria amilácea, racional e lucrativa, pois enquanto o ciclo vegetativo da mandioca se encerra aqui, no prazo de oito meses, cresce esse período, nos demais Estado, para dezoito e até vinte e dois meses no Sul do País.

A produção de mamona (...) New-York, Paris e Estado do Brasil.

O Maranhão produz algodão de ótima fibra cuja produção em tempos de outrora, atingia cifras elevadas, mantendo supremacia nos mercados estrangeiros. (...).

Senhoras e senhores, não se podem fazer referência à vida do Cônego Ribamar Carvalho sem trazer presente a realidade política, social e econômica do Maranhão. Creio que a história do Cônego se confunde com a história de seu povo maranhense.

A Filosofia, Sociologia e a Antropologia nos evidenciam que a verdade da vida de cada um de nós está pautada na verdade dos fatos: cada ser humano é fruto de seu tempo, da história e das relações de convivência de seu povo. A vida do Cônego Ribamar Carvalho não está fora desta compreensão, creio eu.

Pois bem, senhores e senhoras, o Cônego Ribamar Carvalho era descendente de uma família humilde do município de Codò-MA, onde nasceu, aos dias 06 de agosto de 1923, filho de Benedito Dias de Carvalho e Maria José Vidigal de Carvalho. Nesta cidade cursou o primário e, posteriormente, aos dias 16 de fevereiro de 1936, ingressou no Seminário Santo Antônio, em São Luís-MA.

Recebeu a tonsura aos dias 25 de abril de 1944, sendo oficiante Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota. No dia 09 de dezembro de 1945 recebeu das mãos do bispo de Caxias, Dom Luis Gonzaga da Cunha Marelin, as Ordens Menores de Ostiriato e Leitorato. As segundas Ordens Menores lhe foram ministradas por Dom Adalberto Acioli Sobral, aos dias 20 de setembro de 1947. Recebeu o Diaconato aos dias 16 de novembro de 1947 e o Presbiterato aos dias 08 de dezembro de 1947, sendo o bispo ordenante Dom Adalberto Acioli Sobral. Por sua vez, a primeira provisão que recebeu foi de Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Vitória - Catedral da Arquidiocese, época em que não chegou a exercer seu ministério. Transferido para Paróquia de São Benedito de Pedreiras e São Luís Gonzaga, na função de Cooperador, onde fundou um Colégio Católico.

Aos dias 02 de maio de 1948 exerceu o ministério presbiteral, na Paróquia de Codó, na função de Vigário Coadjuntor, além de Coroatá, permanecendo aí até dezembro de 1950, em companhia do Cônego Gerson Nunes Freire, irmão daquele que se tornará futuramente governador do Maranhão: Oswaldo da Costa Nunes Freire.

Os arquivos da Paróquia de Pedreiras guardam preciosos documentos sobre os feitos do Cônego Ribamar Carvalho. Tanto a Ata de Fundação do Ateneu Pedreirense, escola esta fundada por ele (1949-1950), assim como o Livro de Tombo da Paróquia relatam as investiduras deste homem na área da Educação.

Os registros da Paróquia de Pedreiras constatam que, em 19 de março de 1949, o educador assumiu a diretoria da Escola e que, em um ano após, produziu um documento fabuloso, intitulado “Carta Aberta ao Povo de Pedreiras”, onde é relatado que tudo foi feito com muito sacrifício, luta e dissabores. Este documento é de extrema importância para se conhecer a vocação humana do Cônego Ribamar. Documento este, publicado pela “voz do Comércio”, por ocasião de sua despedida da Paróquia de Pedreiras.

Em Pedreiras, ainda, organizou o Congresso Eucarístico de Pedreiras, na oportunidade, escreveu a letra e produziu a música do referido Congresso. Eis a produção, como descreve Jacinto de Brito:

1. Sobre o vale formoso das matas

Onde a terra fascina e seduz,

Brilha a Hóstia de luz em cascatas:

Corpo e Sangue de Cristo Jesus.

Ref.: Cristo Rei, de infinita grandeza,

Sol divino de paz e de Amor,

De teu trono, na Terra Princesa

Abençoa o universo, Senhor (bis).

2. Terra virgem, celeiro da gente,

De riqueza do infinito valor,

És agora o Sacrário imponente

Do Mistério divino do Amor.

3. Cantem aves nas verdes ermidas,

Cante o céu todo um hino de luz,

E as palmeiras, de palmas erguidas,

Batam palmas, louvando a Jesus.

4. Seja o canto solene e profundo

Do Brasil ante o Altar do Mearim.

Glória à Virgem, Rainha do Mundo,

Glória a Deus pelos séculos sem fim.

Em 14 de janeiro de 1950 recebeu a nomeação de Pároco de São Vicente Férrer e encarregado de Bacurituba. Aos dias 31 do referido mês foi transferido para a Paróquia de Araioses,na função de Pároco, onde trabalhou durante dois anos, tendo também fundado nesta cidade outra Escola, o Ateneu São José, a exemplo do que havia realizado em Pedreiras. Após o exercício de seu ministério em Araioses, foi transferido para a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em São Luís.

Aos dias 12 de fevereiro de 1955 foi eleito Cônego Catedrático do Cabido da Catedral de São Luís, onde desenvolveu várias funções na Cúria Metropolitana. Em outubro do referido ano deu início às obras de construção da sede da paróquia Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Monte Castelo, onde, posteriormente, recebeu um Vigário Coadjuntor, jovem presbítero, recentemente chegado da França, hoje Dom Xavier Gilles, Bispo da Diocese de Viana-MA. Parafraseando o poeta, podemos dizer: se queres olhar uma construção sagrada, construída pelo Cônego Ribamar, entre na igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Monte Castelo! Seus feitos estão ali registrados!

Nosso elogiado desta noite foi um homem apaixonado pelo trabalho com a juventude. Assistiu diretamente aos trabalhos da Juventude Universitária Católica, Juventude Independente Católica e o Setor Masculino da Juventude Operária Católica. Tudo isso, porque era consciente da riqueza pela economia do Maranhão e que só a juventude poderia mudar, se não transformar as estruturas de um Estado que sobrevivia em função de poucos à custa de uma massa de não alfabetizados. Assim era seu caminho. Não tendia pela força bruta com expressão da violência tirana, mas através da força maior que um povo civilizado possui, a única capaz de desmontar, reconstruir e edificar com solidez qualquer império humano: a Educação. Os jovens foram seu alvo de crendice da mudança, da transformação, porque ele mesmo foi sempre jovem. Jovem nas palavras, nos feitos e em suas ações.

Aos dias 07 de maio de 1957 foi nomeado Diretor da Faculdade de Filosofia de São Luís, onde se destacou como gestor do ensino superior pela sua capacidade intelectual brilhante.

No ano de 1959 ausentou-se do Brasil para estudar na Universidade de Sorbonne, França, obtendo a licenciatura em Psicopedagogia. Em sintonia com a realidade maranhense, nesse período, realizou estágios em vários Centros Pedagógicos da França e Itália. Na Itália, estudou Reforma Agrária e Fundiária. Na Alemanha, participou do Congresso Eucarístico Internacional de Munique. Como homem de profunda espiritualidade, fez peregrinação durante vinte e cinco dias na Terra Santa, sobretudo em Jerusalém.

Ao retornar, o Arcebispo Dom José de Medeiros Delgado identificando as qualidades inerentes ao Cônego Ribamar o encarregou para elaborar estudos sobre a Universidade do Maranhão.

Em março do ano de 1961 recebeu a nomeação de Diretor Geral do Departamento de Educação do Estado do Maranhão. E em setembro e outubro do ano de 1964, esteve nos Estados Unidos, a convite do Presidente Norte Americano, onde viajou com fins de estudos, cursando por lá Administração Educacional.

O Cônego Ribamar era um jornalista nato. Publicou várias poesias e inúmeros artigos em jornais do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Fortaleza, Parnaíba, Teresina, São Paulo e São Luís. Redator do Jornal o Combate, O Jornal do Dia, Sócio da Associação Brasileira da Imprensa, colaborador do Anuário do Maranhão, Jornal do Dia, Jornal do Maranhão de São Luís e do Jornal Âncora, de Fortaleza.

Escreveu sobre vários assuntos , inclusive sobre Divórcio, Reforma Agrária e Mandado de Segurança.

No campo das Letras possuiu três amigos que o incentivaram: prof. Ladislau Papp, o escritor Dom José de Medeiros Delgado e o poeta Carlos Cunha.

Recentemente foi restaurada uma das mais valiosas fontes históricas de pesquisa em nossa São Luís, o “Jornal do Maranhão”. Durante sua existência passou por três nomenclaturas: nasceu como “Correspondente”, depois “Maranhão” e finalmente “Jornal do Maranhão”. Possui suas origens na década de trinta, precioso pelos relatos históricos tanto da Arquidiocese quanto da cultura, da arte e da literatura do povo maranhense. O Cônego foi um fiel colaborador desta grandiosa fonte histórica, como havíamos referido alhures. Lá se encontra parte da referência de seu legado intelectual. Pena que poucos historiadores maranhenses possuam conhecimento desta fonte preciosa de pesquisa.

Foram restaurados em torno de 70 volumes. Um verdadeiro baú de preciosidade. Como quem os fala foi um dos principais autores da façanha da restauração, em contato com alguns volumes, constatamos escritos sobre as principais instituições de nosso Maranhão, inclusive da própria Universidade Federal, Liceu e outras.

Desta feita, pesquisadores do quilate de Leopoldo e Delzuite Vaz e tantos outros serão beneficiados em suas pesquisas incansáveis sobre a memória e o resgate histórico do Liceu Maranhense. Fontes para pesquisadores maranhenses, dos escritores Carlos Cunha, Jose Nascimento Moraes Filho, historiador e jurista Lima Filho, Prof. José Moreno de Sant’Ana, jornalista, orador e latinista Arias Cruz, o qual foi sócio fundador, pertencente à comissão de bibliografia desta Casa, e por questão de honestidade, declaro-os que ali se encontra boa parte de seu legado jornalístico, além de inúmeros escritos de principais professores da Faculdade de Filosofia, da Fundação Paulo Ramos e tantos outros que o tempo presente não nos permite relatar.

Lecionou várias disciplinas, em diversos estabelecimentos de ensino, do médio ao superior, nos municípios e na Capital, dentre as quais, Cosmologia, Filosofia Geral, Psicologia Educacional, Didática, Introdução à Filosofia, Religião, Relações Humanas, Oratória, Filosofia da Educação e Doutrina Social da Igreja. Foi um dos maiores professores do Seminário Santo Antônio, onde lecionou Geografia, Matemática, Português, Literatura Portuguesa e Brasileira.

Aos jovens políticos da época lecionou Geopolítica do Maranhão. Além disso, foi professor no SENAC de São Luís, onde ministrou Educação Moral e Cívica e professor no curso de Orientador Vocacional da JEC.

Recebeu as condecorações de “Cavaleiro das Palmas Acadêmicas” (1963) concedida pelo Governo Francês; Ordem do Mérito Timbira (1964) e Medalha dos 350 anos de São Luís (1962).

O Cônego Ribamar Carvalho pertenceu à Academia Maranhense de Letras, ocupou a cadeira nº 19, patroneada por Teófilo Dias e fundada por Maranhão Sobrinho. Iniciou-se na literatura maranhense com o livro “Uma janela Aberta para a Noite”, que lhe garantiu a “imortalidade”. Eleito para a Academia no dia 1º de agosto de 1959 e recepcionado pelo acadêmico do autor Gomes de Souza e sua Obra , no dia 17 de outubro do mesmo ano, o qual também teve a honra de ser membro desta casa.

O poeta Ribamar Carvalho, no dizer de Dom Delgado “Deus lhe deu um dom que poucos de nós temos – o dom da poesia – e foi dentro deste dom da poesia que Deus apareceu nos lábios dele para dizer o que ele não devia dizer, para dizer o que Deus queria que ele dissesse!”. Assim, foi um pesquisador da literatura de Catullo da Paixão Cearense, os versos catulianos do “Boêmio” lhe influenciaram profundamente o conceito de poesia. Era extremamente apaixonado por “Luar do Sertão. É de Ribamar Carvalho um dos conceitos de poesia, já mais bem elaborados entre os intelectuais maranhenses do século passado:

Poesia não é apenas um estado d’alma, e uma atitude diante da beleza. É sobretudo um esforço generoso de penetração do ser das pessoas e das coisas, uma reflexão à margem do complexo da vida, acompanhando-lhe as vicissitudes, extraindo-lhe, muitas vezes, entre desesperos e revoltas, a margem oculta, que há nos seres que vivem, nas coisas que existem apenas.

E apoiando-se ainda na filosofia do poeta que foi um “rústico, um autêntico, um filho da natureza indômita e inculta, que fez do violão a sua harpa e da modinha a sua elegia”. E insiste ele:

É que, senhores, a poesia, como a música, é uma atitude diante do belo e uma resposta da alma enamorada a um aceno de amor.

Ambas se espalham pela natureza: na voz do vento, no canto das aves, no ribombar dos trovões, no linguajar solene das procelas, numa florinha perdida, num fio d’água que passa, canta, brilha e se some na mata.

Porém, coerente que foi sem deixar que a paixão o tomasse pela mão e o conduzisse ao desencanto, soube denunciar a fraqueza do “Filósofo de chapéu de couro”, como descreveu certa vez:

Não pode e nem deveu ser chamado gênio, quer pelas limitações que a própria língua lhe impôs, quer pela superficialidade de sua cultura que teve e ainda mais pela desmoralização do conceito pespegado em muita mediocridade empavonada aqui e alhures.

Foi só seresteiro; foi e só poeta popular, espontâneo e por isso definitivo. Sua obra, que não teve as veleidades da perpetuação, tornou-se perpétua em virtude dos próprios fatores integrantes e constitutivos em que mergulha. Por temperamento foi um tímido que, por contra posição, atingiu as raias de um destemido orgulho, como forma de reação a um meio “snob” e sofisticado, onde o violão era uma blasfêmia estética e a poesia cabocla uma como palavra feia, face à água perfumada dos versinhos de amor de então.

Desta feita, senhores e senhoras, é nesse contexto que, por exemplo, se pode abstrair a explícita coragem e coerência intelectual daquele que foi sincero consigo e com os outros.

Contudo, ninguém neste país pode negar a originalidade e a beleza da produção catuliana. Quem confirma é o maior cronista do Brasil, o maranhense HUMBERTO DE CAMPOS. Assim disse ele:

Catullo é realmente um misto de singeleza e de opulência, um ponto em que se misturam, formando o mais pitoresco dos riachos, os veios que passam pelos campos cultivados e as fontes que descem, gementes e ligeiras, do largo seio das matas indomesticadas. A sua poesia simples, doce e ingênua, mas em versos de métrica perfeita, é uma resina do sertão a arder, cheirosa, num turíbulo de prata ou de ouro. Evolam-se das suas rimas os mais inocentes perfumes da terra: cheiro de baunilha, de leite, de folha machucada, de gado sadio, de benjoim, do sertão do Norte, em Maio, pelos fins d’água...

(...) Catullo não quer, porém, que os seus frutos nasçam no jardim ou brilhem em vasos de porcelana: quer conservá-los no mato, envoltos nas folhas. A seiva para o fruto quem dá é Deus. A árvore compete, apenas, dar forma ao pômo.

Ademais, o Cônego Ribamar Carvalho exerceu o cargo de Vice-Reitor da Universidade do Maranhão, de 1962 a 1966. Nomeado Reitor em 1963 a abril de 1967 da Universidade do Maranhão, cognominada por alguns, “Universidade Católica do Maranhão”. Fundou a Faculdade de Filosofia e Faculdade de Enfermagem. Estas incorporadas posteriormente à Universidade Federal do Maranhão. Foi Secretário de Educação de Cultura do Estado do Maranhão (1962-1966)

Acredito que a Arquidiocese de São Luís juntamente com o Instituto de Ensino Superior do Maranhão, este mantido pela SOMACS podem e devem fazer um estudo de toda a experiência universitária que Dom Delgado implantou através da Universidade do Maranhão. Só quem tem a ganhar são os atuais gestores da Sociedade Maranhense de Cultura Superior do Maranhão.

Foi Dom João José da Mota e Albuquerque, o então Arcebispo de São Luís, que pela última vez realizou um levantamento, resumido que seja, em discurso pronunciado por ocasião da solenidade de instalação da Fundação Universidade do Maranhão, a 27 de janeiro de 1967, no Palácio do Governo Estadual, quando declarou em público a doação dos bens da Universidade do Maranhão, valor estimado em 1 bilhão e 500 milhões de cruzeiros antigos para o Governo Federal. Disse ele:

Seria injúria pensar que haja alguém que desconheça o enorme impulso que a Universidade Católica trouxe à Educação e à Cultura, nos seus anos de existência. Um relato estatístico ajuda a confirmar esta realidade. A FACULDADE DE FILSOFIA diplomou 322 Professores. E em 1966 teve 287 alunos matriculados. Seu corpo docente é formado de 57 professores. A FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS, em quatro turmas, diplomou 76 Médicos. Sua matrícula, em 1966, foi de 200 alunos, com o corpo docente de 88 professores. A ESCOLA DE ENFERMAGEM, em 12 turmas, diplomou 96 Enfermeiras. Sua matrícula em 1966 foi de 35 alunas, com o professorado de 30 mestres. A ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL, em 8 turmas, diplomou 53 Assistentes Sociais. Sua matrícula em 1966 foi de 47 alunas, com 22 professores. TOTAL: 547 diplomados, 569 matriculados, em 1966, 197 Professores. Não há sinceridade de grandes esforços de inteligência para se concluir que a grandeza do momento histórico que estamos vivendo agora, tem sua origem e seu fundamento na Universidade Católica do Maranhão.

Contudo, como ato de justiça, declarou a seguir: “seria pecado de omissão, imperdoável pecado, silenciar Cônego José de Ribamar Carvalho, Magnífico Reitor da Universidade Católica, e todos os mestres e funcionários da Universidade existência até hoje se deve à doação de suas existências à grande causa da implantação no Maranhão de uma mentalidade universitária”.

Percebe-se que memória da Universidade do Maranhão ainda está viva entre nós. Se eu perguntasse entre os presentes, quem teria estudado na antiga Universidade do Maranhão, sem dúvida alguns se manifestariam. O Prof. Altamiro Cavalcante de Carvalho, aqui presente, detém excelentes recordações do tempo das lutas estudantis do Centro Acadêmico. Ele mesmo contou-me que, certo dia, por determinação da agremiação impediu-se o Reitor Dom Fragoso de adentrar as portas da Universidade, por ordem do comando de greve estudantil. Um resgate oral das lutas e conquistas daqueles que construíram história na Universidade do Maranhão! Mas isso tem que ser logo, o tempo urge. Daqui há alguns anos, tornar-se-à mais difícil registrar-se a história desse monumento social maranhense.

Exerceu o cargo de Vice-Reitor Pedagógico da Fundação Universidade do Maranhão, de 1967 a 1968, e passou a ser Reitor de 1968 a 1972. Destacou-se na gestão do Cônego Ribamar Carvalho a construção do Campus Universitário Bacanga, obra que se tornou fundamental para o crescimento e desenvolvimento do ensino superior do Maranhão.

O Reitor, Prof. José Maria Ramos Martins, homenageou o ex-Reitor da Universidade do Maranhão, Ribamar Carvalho, ao qual o referido Professor dedicou um busto de bronze que se encontra em um das dependências do Campos Universitário. A homenagem é justa, mesmo porque foi ele, Ribamar Carvalho, quem conseguiu implantar na Universidade uma gloriosa tradição acadêmica, por representar uma das figuras mais insignes da historia da Universidade do Maranhão.

Percebe-se que o Cônego Ribamar Carvalho foi um homem preparado para a gestão universitária, contudo isso não aconteceu por obra do ocaso: foi fruto de um investimento de Dom José Medeiros Delgado. Ele confessou em público por ocasião da missa das bodas de prata de sua ordenação, em 8.12.72, pouco antes de vir a falecer. Eis o trecho de improviso, em agradecimento à homilia de Dom Delgado, que veio de Fortaleza só para presidir à celebração da Eucaristia. Assim se expressou:

Desejo agradecer a Dom Delgado, evidente quando ele falou de mim, falou como um amigo e os amigos vêm sempre pelos óculos azuis ou cor de rosa da boa vontade, da afetividade e da amizade. É uma das amizades que eu agradeço a Deus haver encontrado ao longo do caminho. Se alguma coisa ele fez por mim, posso dizer que ele neste instante, representou 50% desses anos de sacerdócio.

Ao que após sua morte, apareceu em um jornal local: “Calou-se a mais espontânea voz de poeta maranhense de hoje, emudeceu o orador mais fulgurante de São Luís dos nossos tempos, morreu um sacerdote que amou sua terra, dando-lhe por um quarto de século, o que de melhor possuía de seu coração e de sua inteligência”. Era Dom Delgado que fizera publicar de Fortaleza em São Luís estas palavras.

O imortal, patrono da cadeira nº 60 desta Casa faleceu nesta capital, ainda muito jovem, vítima de um ataque cardíaco fulminante, aos dias 27 de dezembro de 1972. E eu cá em meus pensamentos de criança, sonhei que misteriosamente aquele corpo aparecera ali, na rua do Sol, que já não havia raios e luz do dia. Aquele corpo já sem vida, dentro de um automóvel em frente ao Teatro Artur Azevedo. Lugar de muito discurso e pouco silêncio. E ele continuava ali: sem discurso e muito silêncio! Pois nesta noite, senhores e senhoras, prefiro acreditar que o Cônego Ribamar não haja falecido ali, mas que um coro de querubins e serafins amigos, na tentativa de reconduzi-lo à vida terrena, o trouxe em suas asas e como estava cansado, o depositaram ali por certo tempo, corpo sem vida, sem sangue, pois já não possuía importância para os seus na terra. Quem sabe se aqueles anjos não o teriam deixado ali para que pudesse produzir seu último discurso, mais bem improvisado, como a morte o encontrou e surpreendeu a todos, sem uso da voz e gestos.

A notícia da morte logo chegou aos ouvidos dos amigos. Imediatamente foram produzidos vários discursos. E ele, para os que estavam na terra, permanecia calado, inerte. Um dos únicos sepultamentos que o povo foi em procissão do Monte Castelo ao Cemitério do Gavião, a caminhar, ouvindo-se o silêncio do poeta que orou por todos.

Senhores e senhoras,

O Cônego Ribamar Carvalho, por essas alturas, já deve ter proclamado seu discurso, nós é que somos incapazes de escutá-lo ou percebê-lo, porque podemos ser até “imortais”, mas ainda distantes da eternidade.

Senhoras e senhores, obrigado por ter-me concedido generosa atenção e ter usufruído o tão precioso tempo de cada um, de cada uma. Mas não poderia deixar de agradecer à sobrinha do grande orador sacro de Caxias, Mons. Arias Cruz, Sra. Estela Cruz de Medeiros, pelo incentivo e amizade, a Dom Xavier Gilles, pelo apoio, sobretudo nos momentos decisivos em que precisei para aprofundamentos dos estudos; aos irmãos presbíteros da Arquidiocese, ao Pe. Ms. Clauber Pereira Lima, que, mesmo distante, não esquece a amizade deixada na terra por onde pregou Antônio Vieira e que reitera este liame, publicando seus artigos pelos principais Jornais de São Luís, com o que demonstra seu amor e presteza pela Ilha de São Luís, a todos da Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Foz do Rio Anil, em especial aos Conselheiros, que sabem compreender os motivos de minhas ausências. A Dom Paulo E. Andrade Ponte, meu bispo ordenante, pelo apoio e aos estudos de doutorado. Aos Professores Leopoldo Gil Dulcio Vaz e Delzuite Vaz, pelo convívio fraterno e, ainda, pelo presente de “Souzinha”, de Bacelar Portela, preciosidade da Literatura maranhense, agora é meu! Aos músicos profissionais maranhenses, Norlan Aragão e sua maravilhosa família pelo convívio amigo e desinteressado. Ele, pai da cantora mirim Amanda. Ainda aos músicos, Lúcio Xavier e Celso Bastos pela mestria e arranjo instrumental, à obra prima do boêmio, Catulo da Paixão Cearense, poeta amante das noites de luar do Maranhão.

Sinceramente, e não posso deixar de expressar meu muito obrigado a meu pai, João Jose de Meireles, a minha mãe, Maria Gomes Sá de Meireles, aos meus irmãos José, Maria das Dores, Bárbara, Erotildes, Eronildes, sobrinhas e sobrinhos, afilhado Rogher, primas e ao meu mais novo oferecido afilhado, Lucas, a todos os amigos e amigas aqui presentes. Meu muito obrigado às autoridades que atenderam ao convite da nossa Presidenta, abrilhantando este evento.

Obrigado, na verdade, pela paciência em me escutar.

Despeço-me não com minhas palavras, mas com as daquele que me trouxe a esta Casa, atribuindo-me alegria, orgulho e responsabilidade. Hospedagem perpétua do que outrora governou São Luís, magistrado polido, Secretário Perpétuo deste Silogeu, o poeta Antônio Lopes, um dos maiores estudiosos do negro no Maranhão.

Enfim, disse o patrono, certa vez, em uma de suas magistrais despedidas: “Feci quod potui, fortiora faciant potentes. Fiz o que pude; que os mais poderosos façam coisas mais grandiosas. Aqui está encerrada a minha participação no processo de engrandecimento de minha terra..” E que esta minha modestíssima alocução se assemelhe a uma Habent Sua Fata Libella!

Contudo o meu desejo intrínseco, ao final destas palavras, era desviar-se da liturgia deste rito e finalizar com os versos do “boêmio”, Catulo, como o Cônego Ribamar o tornou tantas vezes memorável em seu coração. Respinga a verdade que certa vez disse Pedro Lessa: o “Luar do Meu Sertão” “é o Hino Nacional do coração dos brasileiros”, que certamente o foi do coração do Cônego José de Ribamar Carvalho!

Meu muito obrigado.

Raimundo Meireles
Enviado por Raimundo Meireles em 02/09/2010
Código do texto: T2473560
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