Chá das nove

Atualmente, temos um pedaço da Inglaterra na cidade de Fortaleza. Isso mesmo, o famoso chá inglês chega à terra da luz adaptado para o horário das nove horas. Os consumidores? Isso é o melhor de tudo. Os consumidores são os nossos motoristas de ônibus. Interessante, não é? As empresas de ônibus e a prefeitura uniram-se para treinar os motoristas ao modelo inglês, uma pena eles terem esquecido a pontualidade e a educação dos ingleses.

Enquanto os motoristas tomam o seu chá das nove, as pessoas esperam durante horas nas paradas dos ônibus com o intuito de se locomoverem para seus trabalhos e escolas. Alguns, chegando a perder o emprego por causa dos atrasos causados pelo “chá”.

Quando a pessoa não quer se prejudicar, precisa acordar com o sol para ir espremida dentro da “lata”, mas não diria necessariamente um enlatado, porque até mesmo as sardinhas possuem mais espaço dentro de suas latas que os braços trabalhadores e as cabeças pensantes da nossa cidade. Mas aqui é lugar de gente pacata, todo mundo vai espremido sem nenhum problema, afinal de contas, as pessoas só querem chegar aos seus destinos. E com tantos problemas que já têm, quem vai querer arrumar mais confusão?

A maioria da população pensa que só há dois jeitos de se resolver o problema: ir conformado ou comprar um carro. Mas se o transporte é público, se pago impostos e ainda tenho que pagar uma taxa para me locomover (o que chega a ser no mínimo contraditório, já que é algo “público”), então tenho direito ao mínimo de respeito, de uma locomoção digna.

Chega de ficar preso nas portas dos ônibus ou de ir pendurado arriscando a própria vida. Chega de passar horas na parada esperando a boa vontade do motorista pra colocar o ônibus para andar. Chega de ir espremido, muitas vezes sendo vítima de assaltos por causa da superlotação (e da falta de segurança). Cansei de ser pacata, calada, humilhada. Cansei, isso não é vida para cidadão, isso não é vida para nenhum de nós. Não vivemos mais na ditadura, mas todo dia me pergunto que democracia é essa na qual vivemos, onde as pessoas não têm voz. Que democracia é essa, na qual vivemos, onde não temos o direito de ir e vir? Para mim, isso não é uma democracia, é uma ditadura disfarçada. O povo sempre teve o poder nas mãos, mas nunca soube, por isso essa cidade e esse país não vão pra frente, sempre empacando em coisas como o chá das nove.

Bom apetite!