HINO À ARVORE

Da grande poetisa chilena Gabriela Mistral (**), homenagem à nossa irmã "Ávore" - (ao seu dia em 21 de setembro):

"Árvore irmã que bem cravada

por ganchos escuros ao solo

a clara fronte levantaste

numa sede intensa de céu.

Faz-me piedoso para a escória

de cujos limos me mantenho

sem que se adormeça a memória

do país azul de onde venho.

Tu que anuncias ao viandante

a graça de tua presença

com ampla sombra refrescante

e com o nimbo de tua essência;

faze com que a minha presença

revele, nos prados da vida,

dúlcida e cálida influência

por sobre as almas exercida.

Árvore criadora dez vezes:

a que tem frutos cor de rosa,

a de madeira construtora,

a de zéfiro perfumada,

a de folhagem protetora,

a de bálsamos suavizantes

e a de resinas milagrosas

repleta de pesados ramos

e de gargantas melodiosas;

torna-me doador opulento,

faze-me como tu fecundo:

o coração e o pensamento

me sejam vastos como o mundo.

E todas as atividades

não cheguem nunca a fatigar-me;

as magnas prodigalidades

surjam de mim sem esgotar-me.

Árvore, em que é tão sossegada

a pulsação do existir,

e vês meu alento a agitada

febre do mundo consumir;

faze-me sereno, sereno,

dessa viril serenidade

que deu aos mármores helenos

o seu sopro de divindade.

Tu que não és outra coisa

que doce entranha de mulher,

pois cada rama guarda airosa

em cada leve ninho um ser,

dá-me ramagem vasta e densa,

tanto quanto hão de precisar

os que no bosque humano imenso

não tenham lenha para o lar.

Árvore que onde se levante

teu corpo cheio de vigor

assumes invariavelmente

o mesmo gesto protetor;

faze que ao longo dos estágios

da vida, no prazer, na dor,

minha alma assuma um invariado

e universal gesto de amor".

(**) Poema traduzido por Henriqueta Lisboa.

Gabriela Mistral nasceu no Chile em 7 de abril de 1889. Viveu alguns anos no Brasil,em Petrópolis, RJ, durante a segunda guerra mundial. Em 1945, recebe o Prêmio Nobel de Literatura, o primeiro Nobel concedido para um autor da América do Sul. Faleceu em Nova York, em 11 de janeiro de 1957. Considerada a grande poetisa da misericórdia e da maternidade adotiva.

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 20/09/2006
Reeditado em 09/01/2009
Código do texto: T245161
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.