ESTAÇÃO 33

A trigésima terceira estação da minha vida foi um momento de reflexão de tudo que eu tinha presenciado ao longo dos anos. Concluí que tinha visto o mundo mudar. Mudaram os mapas, mudaram as tecnologias, mudaram as pessoas, mudou a política. Observei quanto mudança, imediatamente fiz um redirecionamento na minha vida.

Eu vi um amigo morto por uma bala em um campo de futebol

Vi maus professores

Vi e ouvi vinil

Vi a mídia digital

Vi minha mãe nervosa

Vi a minha mãe com 38 kilos

Viu o medo

Vi o choro de uma criança ao ver o mar

Vi o mundo cantar, you are the word

Vi a fome da África.

Vi uma cidade sem polícia

Vi o presidente Collor impedido

Mão Santa impedido de governar o Karnack

Vi a dama de ferro

Vi uma mulher vestida de noiva

Vi o tetra e o Penta

Vi a argentina na bancarrota

Terremoto no México

A queda do muro da vergonha

Vi o urso chorando em Moscou

Vi a tragédia na praça da paz na china

Vi a plenitude do capitalismo

A queda do comunismo

Os caras pintadas

Vi a destruição do Líbano

Vi a maratonista americana cambalear até a faixa de chegada

Vi a inteligência de João Paulo II

Vi a pedofilia do clero católico romano

Vi a queda do líder evangélico Caio Fábio

Vi o inchaço da igreja evangélica

Vi um filho nascer

Vi a vida além da Bahia

A morte do Tom

O “besteirol” dos mamonas, Tiririca e os filhos da égua pocotó.

Vi a morte do poeta de Barbacena

Vi a proclamação da constituição uliciana

Vi a morte do presidente Tancredo Neves

Eu vi a explosão no cabo canaveral

Eu vi homens querendo ser casal (Algo impossível. No máximo dupla).

Vi o crescimento dos tigres asiáticos

Via a separação do século (Charles e Daiana).

Chorei a morte da princesa

Meus olhos viram Jerusalém bombardeada

Yatzak Rabin assassinado

A geração pop morrer de aids e overdose

Eu vi o movimentos diretas já

Vi uma juventude sonhadora com o mundo melhor

Vejo uma juventude insossa, sem sonho

Presenciei a queda dos aviões da Tam

Olhei os 500 anos do Brasil

Vi uma caravela que não funcionou

Vi o ditador bahiano renunciar ao senado e se levantar no pleito seguinte (confesso que no dia chorei; mesmo que ele não me é simpático, mas a bahianidade falou mais alto naquele momento).

Vi o ditador bahiano chorar a morte do filho

Vi a morte de Brizola

Vi minha mãe orar noite e dia

Vi meu pai bêbado, apenas uma vez

Vi meu pai desalentado em um acidente

O Euro como moeda

Vi brasileiros morrerem no México, rumo ao sonho USA

Vi o sofrimento na Serra pelada

A guerra civil nos morros cariocas

Vi a carnificina do Carandiru

Vi chacinas na candelária

A ressurreição do Titanic

Vivi o onze de setembro

Eu vi a fragilidade americana

Vi a morte no submarino russo

Vi o Brasil ressurgir com FHC

Vejo um metalúrgico no poder vendendo a sua alma

Vejo a relatividade na Ética

Vejo vidas embrionárias mortas

Vi minha mãe com duas metástases

Sentir medo da morte

Ouvi London London

Bahia campeão brasileiro

Vi o esporte clube Bahia rebaixado duas vezes (duas dores).

Vi meus conterrâneos empurrados para a periferia na minha cidade do coração, pela indústria do papel, fomentando a plantação do eucalipto, monocultura burra.

A pobreza na feira de sábado da minha cidade

O assassinado de Chico Mendes

A eco 92

O fórum social em Porto Alegre

Vi Dagoz

A Espanha chorando seus mortos

Vi Sadan preso

A morte do bandido da luz vermelha

A sorte dos anões do orçamento

Vi o rockim`rio I, II

Vi jornalismo barato

Via a sutileza da Igreja Universal

Vi a fé do bispo Macedo

Vi Baquidá bombardeada

Romário ganhar a copa

Bebeto embalando o filho

Vi o gozo de uma mulher

Vi o choro de Romário e o desprezo de Scolari

A guerra fria acabou

Vi Rod stuart, Madona, Maradona, Leonel Ritchee

Pessoas possessas por espíritos do mal

Vejo pessoas promovendo o mal através de belas idéias e ideologias

Bádio com as mãos na cabeça

Vi o sol do Equador

Vi gado pastando, jegue copulando uma égua.

Vi o meu filho sentido prazer com o pênis na mão

Vi flores no túmulo da princesa

Vi novelas da globo

Vi um pastor chutar o ídolo brasileiro

Vi a reação do catolicismo romano

Ouvi declaração de amor

Sentir amado por uma mulher

Sentir medo de viver, e vivi dias de trevas

Abracei uma mãe que perdeu o filho

Ouvi velhos chorarem porque foram medíocres nos dias da sua força

Vi religiosos orgulhosos, apegados ao poder

Senti-me um estranho na casa dos meus pais

Vi o senhor da guerra ser reeleito

Vi Deus na Bíblia me chamando

Sentir Deus nas minhas trevas

Tive medo da capital

Vi sonhos ir ralo abaixo

Vi minha esposa nervosa

Vi pessoas nervosas em celebrações religiosas

Sentir toda a emoção de um orgasmo

Fiz uma roça de milho

Saboreie sarapatel

Ouvir gemidos de prazer

Ouvi fofoca de religiosos

Ouvi desabafos de pastores massacrados pela religião que não sabe perdoar

Ouvi sonho de gente frustrada

Participei da felicidade de gente realizada

Fiz um filho, sem planejamento.

Mentir muitas vezes para levar vantagem

Fiz discípulos para Cristo

Sentir traído por colegas

Já sentir emoções desprazíveis, animalescas.

Um outro dia vi o nascer do sol

Vi Tête cantando escrito nas estrelas

Vi Mandela preso

Vi Desmo Tutu

Senti-me forasteiro

Vi Teresina, Piauí, (bela cidade).

Vi um mendigo arrogante

Vi o Ceará-Fortaleza, Salvador, Vitória, Aracajú, Montes Claros, Porto Seguro...

A Casa onde eu nasci

Vi a minha parteira

Vi Bíblia em sebo

Vi livros riquíssimos em sebos (amo esse ambiente, pena que tenho alergia).

De tanto ver, sentir, agir, fazer, ouvir eu protagonizei os meus 33 anos de vida. O que virá pela frente? Não sei, mas vou viver intensamente, serei o construtor da minha vida, abaixo Daquele que tem todos os desígnios, patente aos seus olhos.