Pedro Yamaguchi Ferreira

No sonho sonhei

Que havia sonhado

Em seu mundo entrado

Você veio até o meu também

Gracioso, atento, preocupado

Mostrava ares de anjo, serenidade...

Ah, Pedro, quanta saudade!

Que vazio você deixa!

Sua partida prematura

É também um paradoxo

Faz-me pensar nos cem anos

Que viveu

Dentro dos seus vinte e sete

Mas essa noite Pedro

Essa noite...

Eu sonhei

E no próprio sonho

Acordei

Feliz, saudosa e agraciada

Pela sua visita contemplada

04.08.10

Pedro foi advogado da Pastoral Carcerária em São Paulo por três anos. Sempre foi um menino atento e dedicado à causa dos mais pobres. Em fevereiro desse ano foi em missão prestar assessoria jurídica na cidade de São Gabriel da Cachoeira no estado do Amazonas, cidade em que 95% da população é indígena. Ao chegar em São Gabriel, rapidamente tornou-se amigo dos índios, que insistiam em chamá-lo de doutor, ao que ele recusava, ‘sou somente Pedro’. Rapidamente entrou no time de futebol da cidade conquistando a todos pela simpatia e habilidade com a bola. Já nos primeiros dias que esteve ali, uma de suas primeiras atividades foi visitar o presídio, onde percebeu que permaneciam presos, muito daqueles que já haviam cumprido pena e que pagavam um preço caro por terem praticado pequenos furtos. Conversando e ouvindo atentamente a cada um, pôde perceber que lhes faltavam oportunidades. Buscou caminhos na lei e junto a liderança daquela comunidade, promoveu a soltura dos presos oferecendo emprego a eles. Entre os cinco, um deles enveredou-se no caminho das drogas. Pedro não o abandonou, cuidou dele e buscou tratamento em casa de reabilitação.

Eu amo Pedro por vários motivos: ele tinha um sorriso lindo (nunca vi dentes tão brancos), brincalhão, solidário ao sofrimento do outro, e como poucos defendia seu ideal até o fim. Certa vez saímos e pedimos algo pra comer, antes de irmos embora ele pediu ao garçom que embrulhasse o que não havíamos comido e ofereceu a um dos rapazes que morava na rua. Em épocas de balada chegava em casa com um chocolate pra cada um de seus cinco irmãos. Uma grande figura, radicalmente contra o consumismo exacerbado e toda forma de injustiça social. Há muito a falar sobre Pedro. Fica aqui meu eterno abraço a ele e a rica oportunidade de ter compartilhado momentos de sua vida. Infelizmente, em junho desse ano recebemos a notícia de que ao nadar nas águas do Rio Negro, foi levado junto a correnteza. Quando fiquei sabendo de sua partida, um pouco de minha alma saiu pelos olhos em forma de lágrima. Doeu.

Isabel Cristina Rodrigues
Enviado por Isabel Cristina Rodrigues em 05/08/2010
Reeditado em 06/08/2010
Código do texto: T2419366
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