Antes que seja tarde

Em uma manhã ensolarada, ou noite sombria e tempestuosa. Com toda calma e preparo, ou mergulhado no desespero do novo... De alguma forma, os filhos nascem!

É quase injustiça divina não podermos escolher o sexo, a cor dos cabelos e olhos, as feições do rosto e mínimos detalhes. Mas se assim fosse, que descoberta teríamos? Que surpresa teríamos?

Assim aprendemos a cada momento com o suspiro de tranqüilidade, ou a respiração ofegante de medo. Cada sorriso e cada lágrima nos afirma da missão ao lado daquele que lhe chama de filho.

Outra grande injustiça é aquele pequeno ser a quem pegamos no colo crescer, ganhar vida própria, personalidade e caminhos tão diversos.

E que dor a um pai, quando estes caminhos são obscuros, são sem futuro.

Porque um pai nunca verá o homem ou a mulher seu filho, e sim a eterna criança que lhe pedia ajuda com os deveres e adormecia no seu colo. Ele sempre verá o bebê frágil e pequeno na sala de parto.

A cada sofrimento de seu filho, muito maior será seu sofrimento de pai, que bem maior não pretende nem a si mesmo. Assim como cada vitória, cada conquista, exaltação muito maior será a do pai, pois ele tem um pedaço da sua vida naquela criatura que sonha, realiza, acontece e tantas vezes nem lembra que um pai existe.

Por isso, e mesmo que não seja assim: não perca tempo, aproveite! Faça tudo o que desejar com seu filho.

Não economize nas bolas e vidraças alheias, e tente rir quando precisar acordar a noite.

Não conte histórias antes de faze-lo dormir, invente-as, seja ator e personagem de cada conto.

E antes que eles cresçam e se mudem pra bem longe, leve-os e busque-os na escola e faça questão de dizer a todos que você é pai!

Antes que eles liguem só duas vezes por semana e venham apenas nas festas de família ou finais de semana, vá com ele a praia, ao jardim, ao campinho, no quarto, nem que seja pra não fazer nada, e apenas sentir sua presença, sua respiração ou ouvir seus passos no meio da noite... Você vai sentir falta deles.

Não negue a mais simples brincadeira, nem os desenhos de giz de cera.

Quando for leva-los ou pegá-los na balada, dê um beijo forte na bochecha e grite: “o pai te ama”. Vão te odiar por isso, mas entenderão um dia.

Não deixe o que prometeu a ele para fazer amanhã, ele espera o que um pai prometeu como se fosse um tesouro no fim do arco íris. Mesmo assim, se deixar para amanhã, não se queixe se no futuro não tiver muito crédito com ele.

Tente compreender se ele te obedecer apenas durante alguns minutos e depois voltar a errar, pois filho é igual a shampoo: te promete mil coisas, mas no resultado não cumpre nem metade.

Invente códigos e brincadeiras que só vocês sabem... Abrace apertado, de verdade, mesmo que doa um pouco, é importante este contato chamado de carinho, e saber que o amor as vezes pode doer.

Proteja-o, leve o no colo, aperte suas bochechas, deixe o andar com os pés sobre os seus, isso vai durar tão pouco.

Conversem, conversem, falem bobagens. Não economize palavras nem besteiras, criem todos os universos possíveis, para quando crescerem, não se tornarem adultos chatos, previsíveis que só sabem contar o que lêem nas revistas.

Deixe-os livres um pouco, deixe-os se machucar um pouco, assim conhecerão o que costumamos chamar de dores e limites.

Desde o começo prepare-se para que eles escolham tudo ao contrário do que você imaginou a eles, pois isso quase sempre acontece e deve ser respeitado, afinal de contas, você é um dos responsáveis por ele ter personalidade.

Não brigue pelas paredes riscadas nem pelos objetos quebrados... Pois chegará o dia em que essa mesmice vai pedir para eles voltarem à infância. Mas ela não vai voltar. Até hoje ninguém descobriu como isso se faz, e se descobriu, guardou para si os efeitos de tão bom que devem ser. Então aos pais de crianças, aproveitem, porque logo logo isso vai passar.

E aos pais dos adultos, sempre é tempo de recomeçar. Não tenha vergonha de beijar este marmanjo barbado ao seu lado, nem tenha medo de parecer ridículo. Ridículo é quem não quer ser ridículo. Faça tudo o que ainda tem vontade de fazer com seu filho, sem preguiça, nem preocupações com o que irão achar... A sociedade não vai suprir seus sentimentos ou carências, apenas condená-lo, então não se preocupe e realize, ainda há tempo, antes que seja tarde, e este tarde pode ser bem de repente!

E eles crescem, tem de crescer para que ao lado de seus companheiros possam ver a alegria de um pai, ou côo protagonistas da história de hoje, possam proporcionar a outro ser a felicidade de ter e ser pai.

Mas sempre, mesmo já sendo mães e pais, você sempre os verá fazendo aquela encrenca na mesa do café da manhã e com o uniforme da escola, mochila nas costas e acenando tchau com pressa.

Justo mesmo seria congelar os momentos para podermos voltar e vive-los sempre que quiséssemos. E que apenas em um toque na fotografia pudéssemos ser transportados para todos aqueles sentimentos de volta...

Mas os anos vão passando e á não cabem mais no colo, um precioso tempo se foi.

Tantas coisas foram planejadas, mas a maioria não fizeram, e nem sabem dizer o porquê.

Simplesmente escaparam entre os dedos e não vão voltar.

E que passem as décadas, sempre o verá vestido com o uniforme da escola, mochila na mão acenando tchau apressado.

Mas por que chamá-lo de pai, se o único que chamamos de pai é o senhor Deus?

Porque tu és a coisa mais poderosa e bendita que ele conheceu antes de saber que Deus existe.

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Douglas Tedesco – agosto de 2010

Douglas Tedesco
Enviado por Douglas Tedesco em 02/08/2010
Reeditado em 04/08/2010
Código do texto: T2414979
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