VOLTEI PRA TE ABRAÇAR.
‘Acorda menino, é hora de ir pro colégio’!
‘Me deixaeu dormir, mãe!Estou muito cansado. Alem disso as aulas de hoje não são importantes’.
‘Deixa de besteira, menino! Não tente me enrolar! Todas as aulas ‘é’importante.Levante logo, que eu preciso trabalhar’!
O menino levanta, resmungando. Toma banho, escova os dentes... Parece se animar. Afinal, vai encontrar a garota de seus sonhos. É preciso caprichar.
Dá um beijo na mãe, come apressado, pega a mochila e sai correndo...Mas algo mais forte o faz voltar.
‘Que foi agora, menino? Esqueceu o que dessa vez?’
‘Não esqueci nada, não. É que me deu vontade de te dá um abraço bem apertado, como nunca te dei’.
A mãe corresponde o abraço, mas apressa o filho para não perder o horário escolar. Afinal, a diretora é rigorosa e depois que os portões ‘são fechados, ninguém pode entrar.
Também tem que correr contra o relógio. Hoje é dia de faxina, e se ajeita para ir trabalhar.
......
Às dez horas, enquanto ela limpa o tapete da sala, sente uma dor no peito. Desse tipo de dor que não pode ser identificada... O coração acelera, aperta... Mas, precisa continuar. Há tanta coisa ainda por fazer!
Daqui alguns minutos o telefone toca, dona Célia atende e a chama até o gabinete do marido. Percebe que a patroa não está bem. Pálida, trêmula, gaguejando... ‘O que será que aconteceu com minha patroa, que a deixou tão perturbada’? Pergunta a si mesma, pois não ousa invadir a intimidade daquela família tão boa, que lhe acolheu num momento tão difícil. Chegara ali, grávida de quatro meses, deixada do marido, ninguém a queria lhe dar emprego. Mas, esse casal não só lhe deu emprego, como também comprou todo enxoval pro seu menino, e ainda todo ano lhe dava presentes em roupas e calçados, além de brinquedos.
Dona Célia lhe pede pra parar o ser viço, trocar de roupa, pois o doutor Plínio está pra chegar. Ainda sem entender nada, segue rigorosamente as instruções, e quando é chamada novamente ao gabinete é convidada para sentar, dão-lhe um copo com água... ’Mas não tinha gosto de água!?’... E por fim dão a notícia que faz seu mundo desabar. Seu filhinho, seu único filho fora alvejado na sala de aula!
Sala de aula que deveria ser lugar de aprendizagem para a vida, e não um local onde vidas eram ceifadas. Enquanto estudava... Longe das drogas, dos maus companheiros, buscando atingir sonhos... Morria sem saber os motivos. Por quê?
Vivia do trabalho para casa. Cada trocado sendo colocado à parte para suprir as necessidades do lar... Aquela dor imensa vai tomando seu corpo, e como escape, desmaia. Os patrões dão toda assistência, vão até o necrotério, tentam minimizar o que não pode ser minimizado. Aquela mãe perdeu o filho. Uma criança perdeu a vida. Os culpados soltos para trazerem mais dor por onde quer que passem.
Obs. Escrevo esse texto prestando uma homenagem a todos os inocentes que foram mortos por balas perdidas. Não tenho estrutura para corrigir os erros que com certeza são muitos, mas por pura emoção mergulhei, digitando sem parar, e agora, não consigo conter a dor que invade a minha alma.
16/07/10