PAULO DE FREITAS MENDONÇA
Pajador, poeta, compositor, apresentador, jornalista e diretor do Jornal do Nativismo. Representante brasileiro no Comitê Internacional da Poesia Oral Improvisada. Já improvisou com brasileiros, argentinos, uruguaios, chilenos, espanhóis, porto-riquenhos, panamenhos, canários, cubanos, italianos, norte-americanos e venezuelanos. Possui textos de sua autoria publicados em diversos países. Possui CDs e livros, participa de diversas antologias poéticas no Brasil e exterior. Está lançando Pajador do Brasil – Estudo Sobre a Poesia Oral Improvisada, em livro e CD (espanhol e português).
Transcrevo abaixo um poema de sua autoria, o qual me foi gentilmente enviado por esse grande amigo.
A Suprema Paz
A paz é mais que um evento,
sutil em sua unidade.
Possui mais diversidade
que da terra ao firmamento.
A paz de estacionamento,
por plasmada, nada faz,
ensimesmada lhe apraz
beber do egocentrismo.
Por ser paz de egoísmo
Não é a suprema paz.
A paz de quem não agride
com falso olhar sereno,
por não judiar do pequeno
se julga grande e regride.
Pela empáfia não progride,
pois tem ganância mordaz.
Dança a vaidade fugaz
na guerra embaixo dos panos,
sendo paz de ares profanos
Não é a suprema paz.
A paz falsa que consola
pondo-lhe a mão na cabeça.
Ao contrário que pareça
produz falácia e enrola,
num discurso que controla
a inocência que ali jaz.
É uma paz incapaz
de acalmar alheia dor.
Por ser de esfera inferior,
Não é a suprema paz.
A paz trançada em tratados,
em contrato ou carta régia,
é uma paz de estratégia
com dois lados deformados.
É paz dos desesperados
que são guerreiros, aliás,
com rastros de sangue atrás,
apenas cessam as mortes.
Paz de interesse dos fortes
Não é a suprema paz.
A paz por necessidade
por revanche do vencido
é algo tão sem sentido,
foge a razão da verdade.
É paz sem cumplicidade
que um passo em falso a desfaz.
Logo a guerra se refaz
em sua arte tão ágil.
Por ter fundamento frágil,
Não é a suprema paz.
Paz de interesse vulgar,
gesto de falso cortês,
salgada de insensatez
é gota doce no mar.
Mistura-se ao seu azar
e por mais que seja audaz
torna-se ineficaz
de vestir-se em cortesia.
Por ser paz de antipatia
Não é a suprema paz.
A paz de estar solito
no meio da multidão
ou de arder em solidão
em seu recinto restrito.
É paz que sufoca o grito
da realidade vivaz.
Por sonhador contumaz,
se torna um autorrecluso.
Por ser a paz de um confuso,
Não é a suprema paz.
A paz de grande festejo
só vestida de aparência
é uma paz sem consciência
de destorcido desejo.
Rolam moedas ao tejo
na extravagância voraz.
Quase ninguém é capaz
de conter farto consumo.
Por embriagar seu rumo
Não é a suprema paz.
Paz de alardes frenéticos
de falatórios inúteis
com protagonistas fúteis
e resultados patéticos,
atropela atos éticos,
mostra vistoso cartaz,
porém quem é perspicaz
pouca atenção lhe demanda,
porque a paz de propaganda
Não é a suprema paz.
Contudo, a paz de verdade
tem sopros de onipotência,
de compreensão, clemência,
fé, justiça e caridade,
de infinita bondade,
de servidor pertinaz,
de amoroso tenaz,
vendo a todos como seus.
Só a paz que vem de Deus
É sim, a suprema paz.