Coisas da Vida (Lúcia Helena Moura)
Tentei imaginar como seria ser uma ave, sem nada na cabeça além de voar e comer. Lembrei-me de ter lido que o menor dos pássaros podia viajar por milhares de quilômetros através do Pacífico, desembaraçada e sozinha...
Uma vida e tanto, essa minha. Especulei se aquele pássaro alguma vez se sentia solitário. Mas mesmo assim, parecia perceber o rumo apropriado para a mi-nha vida.
Essa sensação de pertencer a “tudo” me proporcionava mais prazer do que qualquer outra coisa. Mais prazer do que trabalhar, do que simplesmente fazer amor, do que ser bem-sucedida em qualquer das atividades humanas a que as pes-soas se devotam a fim de conseguir a felicidade.
Eu adorava pensar nisso. Adorava me concentrar, me integrar às coisas que estavam fora de mim.
Coisas da vida.