Homenagem póstuma a um buraco

Quem diria, Buraco, que seu fim estava tão próximo? Quem diria?

E logo quando você parecia tão entusiasmado...

Quando todos já o viam avançando destemidamente para o meio da avenida, eis que surge alguém e barra sua caminhada.

Quem seria essa pessoa insensível, que poria fim ao seu grande sonho de cruzar a avenida e abraçar a calçado do outro lado? Quem seria?

Muitas pessoas com certeza, mas, apenas uma assinou a sentença mortal.

Uma apenas assinou sua pena de morte, e os carrascos o executaram.

Sei que você resistiu por muito tempo, mas sozinho e com tantas pessoas contra você era, realmente, impossível sobreviver.

Hoje estou aqui para prestar-lhe minha última homenagem.

Você foi muito valente!

Mas, é a lei da Física... Todos os buracos acabam morrendo um dia, mesmo os mais valentes, como foi seu caso.

Foi triste, mas ao mesmo tempo glorioso o seu fim.

Ei-lo agora sob uma lápide de concreto, rodeado por colunas e enfeitado com galerias.

Que essas galerias que o enfeitam agora, possam recolher, para sempre, as lágrimas pluviais do tempo.

Adeus, Buraco! Seja feliz aí nas profundezas da ponte!

 

Do Livro: “Denúncias Poéticas, Contos e Crônicas” – Pág. 48