Homenagem a um Buraco

 

     Buraco, já há algum tempo venho acompanhando com curiosidade a sua evolução. Posso dizer que o vi nascer.



     A princípio você era apenas um buraco inexpressivo, abandonado ali na calçada.

     Um buraco a céu aberto, triste, ansioso talvez, para que alguém importante o descobrisse ali.

     Um buraco com a boca aberta para o mundo, um mundo insensível incapaz de ouvi-lo.

     Um pobre buraco na calçada de uma ponte sobre um rio de águas poluídas e fétidas.

     Um buraco triste, sujo, poluído.

     Enfim, um pobre buraco...

     Felizmente parece que as coisas começaram a mudar pra você.

     E tudo, pode-se dizer, graças àquela chuva forte da semana passada que o lavou por inteiro e lhe deu novo ânimo!

     Parabéns!!! Conseguiu sair de sua letargia e reagir! Evoluiu bastante!

     Evoluiu tanto que conseguiu atrair a atenção de muitas pessoas!

     E, não só atraiu como também se afeiçoaram a você e o cercaram com muito carinho.

     Tanto carinho que até o enfeitaram com fitas coloridas!

     Pensa que não tenho visto isso?

     Agora sim está um buraco importante!

     Até a chuva parece que gostou tanto de você que voltou com força redobrada para lavá-lo novamente.

     Percebo que está mais entusiasmado. Tão entusiasmado que já avança, sem medo, para o meio da avenida.

     Afinal de contas agora já não é um buraco qualquer.

     É expressivo. Está todo enfeitado. É um buraco elegante!

     Pode muito bem atravessar a avenida para abraçar aquela outra calçada.

     Não tenho dúvida nenhuma quanto à sua determinação.

     Você vai vencer, com certeza!

     Conseguirá realizar seu sonho de abraçar a outra calçada!

     E, com um pouco mais de sorte, conseguirá abraçar também alguns carros e algumas pessoas que estiverem por ali.

     Desejo a você toda a sorte do mundo, Buraco!

     Afinal de contas você merece!!!

     E que Deus, na sua infinita misericórdia, cuide de nós, hoje e sempre. Amém!

 

Do Livro: “Denúncias Poéticas, Contos e Crônicas” - Pág. 46