APPARICIO SILVA RILLO

Nascido em 08/08/1931, em Porto Alegre, fixou residência em São Borja (RS), onde morou até falecer em 23/06/1995. Contabilista e corretor de imóveis, poeta, escritor, deixou mais de 40 obras editadas, entre poesias, ficção, folclore, história e peças de teatro. Inúmeros de seus poemas foram musicados.

Aqui estão dois poemas seus:

PAGO VAGO

Vago é meu pago.

Este que trago,

cicatriz dentro de mim.

Raiz de minhas íntimas origens,

veio subterrâneo de onde vim.

Vago e meu pago.

Este que trago,

em músculos e ossos.

Inteiro com foi porque é memória

flor de perenidade entre destroços.

Vago é meu pago.

Este que trago,

como sombra e manto.

É meu destino a cruz de sustentá-lo

nos alicerces de vento de meu canto.

NATALINAS III

No rancho de pau a pique

com filho novo e mulher,

mateia amargos lavados

o posteiro Zé Qualquer.

Maria cuida da cria

num peleguito a seus pés,

a mirar, janela afora

a Estrela acesa nos céus.

José, Maria e seu filho

e um rancho na solidão.

Natal de fome e silêncios

doendo no coração.

Não quero Natais em festa,

ao menos enquanto houver

tanta pobreza amargando

os ranchos do Zé Qualquer.

Glossário: Pago (RS)- torrão natal, local de nascimento.

Mateia (RS) - tomar mate, sorver o chimarrão.

Posteiro (RS) - homem que mora e cuida de uma parte de uma fazenda.

Peleguito (RS) - pequeno couro de ovelha, com lã.