Legionários

O começo da Legião Urbana foi literalmente um aborto, um Aborto Elétrico, talvez o nome impactante representasse bem mais do que uma simples banda formada por quatro garotos de Brasília, o Aborto Elétrico teve uma contribuição gigante para o cenário do rock nacional atual. Inspirou bandas como Plebe Rude, Capital Inicial e não representou de fato um aborto; pelo contrário, ia ser daquela banda que iria surgir a personificação do rock nacional: A Legião Urbana.

Liderada pelo poeta, compositor e músico Renato Manfredini Júnior, a Legião Urbana fez pequenos shows pelo interior de estados como Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, sendo no Circo Voador, na Cidade Maravilhosa, onde a banda começaria a ver seu futuro traçado.

Assinaram contrato com a EMI - Electric and Musical Industries Ltd. – e um ano depois em 1985, surge o primeiro disco: “Legião Urbana”, com músicas extremamente politizadas, estávamos em uma ditadura militar – que já não se fazia tão presente como nos anos anteriores, sendo que poucos anos mais tarde o então Presidente da República José Sarney promulgaria a tão sonhada Constituição Brasileira de 1988 – e a influência do punk se fazia presente no mundo tudo.

Roupas e visual pesado, letras “revoltadas” e um repertório cheio de sentido formaram o primeiro álbum, que teve sucessos como “Será” faixa inicial do disco que tem uma das introduções mais famosas da música popular brasileira, mas, o fenômeno viria com “Geração Coca-Cola”, onde multidões aderiam ao tom agressivo das palavras, onde se exigia uma mudança radical no sistema político e social brasileiro. O disco entrou na posição de nº 40 na lista dos “100 maiores discos da música brasileira” de acordo com a revista Rolling Stones.

O segundo álbum da banda “Dois” obteve sucesso principalmente pelas faixas “Eduardo e Mônica” e “Tempo Perdido”, onde ele – Renato Russo – faz uma verdadeira convocação aos jovens. A música caiu no gosto da juventude da época e a Legião Urbana alavancou ainda mais sua carreira. “Dois” vendeu 1.2 milhão de cópias e entrou no ranking dos “100 maiores discos da música brasileira” na posição de nº 21.

Após “Dois” ser considerado um álbum romântico por muitos, a Legião Urbana quis reviver seus tempos de punk e lançou “Que País É Este? 1978/1987” em 1987, o single desse álbum – Que País É Este? – explodiu nas rádios e nas paradas de sucesso, sendo considerado um dos clássicos da banda de Brasília, onde reflete a face corrupta da política brasileira e mesmo hoje – 23 anos depois do lançamento – a faixa ainda é executada diversas vezes em debates, conferências ou eventos que envolvam o assunto corrupção, demonstrando que a política brasileira continua suja e que o povo ainda se faz a mesma pergunta utilizando as mesmas frases que fizeram parte dessa era. Nesse álbum também foi lançada a música “Faroeste Caboclo” famos pela duração e quantidade de versos – 159 no total – é uma música que conta a história do nordestino João de Santo Cristo.

Em 1989 chega às lojas de todo o Brasil o quarto álbum da Legião, intitulado “As Quatro Estações” é considerado por muitos o melhor trabalho da banda. Foi o álbum de maior vendagem, com cerca de 1.7 milhão de cópias vendidas, “As Quatro Estações” teve faixas clássicas, como “Há Tempos” onde Renato exibia ainda sua face politizada além de faixas mais românticas, como “Pais e Filhos”, – talvez o maior sucesso do disco – “Monte Castelo” onde a melodia envolvia um poema de Luis Vaz de Camões e trechos da Bíblia, além de “Meninos E Meninas” onde Renato mostrava sua face bissexual, tocando num assunto até então delicado para a juventude.

Continuando o sucesso dos álbuns anteriores “V”, foi lançado em 1991, mais melancólico que os álbuns anteriores, obteve grande destaque graças a música “Vento no Litoral” uma das mais famosas de toda a trajetória da banda. Em uma entrevista a uma rede de televisão, a mãe de Renato Russo declarou que a música fora escrita em meio a crise do filho com seu então companheiro Robert Scott Hickman ou simplesmente “Scott”. O álbum teve a face melancólica devido a problemas pessoas do vocalista, que se descobrira portador do vírus HIV um ano e meio antes.

1993 foi o ano de lançamento do sexto álbum – O Descobrimento do Brasil – onde se destacaram duas músicas: “Giz” onde o próprio Renato declarou sentir orgulho da letra, considerando-a sua obra prima e “Perfeição” mais uma vez refletindo a face política da banda; “Perfeição” foi o último videoclipe da Legião Urbana.

Com o líder já doente, saiu em 1996 o sétimo álbum, “A Tempestade” considerado o álbum mais melancólico de toda a carreira, mostrando claramente o estado debilitado em que se encontrava o líder da banda. Em diversas canções do álbum, Renato aparece com uma voz mais frágil, onde nem de longe lembrava a voz firme de anos atrás. O single foi “A Via Láctea”, única música que ele – Renato Russo – aceitou fazer vozes definitivas, as outras músicas são cantadas pela voz guia – primeira voz gravada para uma música. Destaque para a música “Soul Parsifal” parceria inédita de Renato Russo e Marisa Monte.

Após a morte de Renato Russo, em outubro de 1996, a banda encerrou oficialmente os trabalhos lançando um último disco póstumo – Uma Outra Estação – em que as canções foram gravadas ainda durante o primeiro semestre do ano anterior. Com músicas que inspiram maior reflexão, o álbum teve como Single “As Flores do Mal”.

Após a morte de Renato Russo, foram lançados livros, documentários, entrevistas com os ex-integrantes e existe um forte indício de que um filme sobre a vida e obra de Renato Russo possa ser produzido em breve. Além de diversas coletâneas, caixas especiais, entre outros

As músicas da Legião Urbana ainda são bastante executadas em rádios, um reflexo da magnitude da banda que, mesmo 13 anos após seu fim ainda segue com fôlego e com músicas de temática atual.

Por tais fatores, conclui-se que a obra dos jovens de Brasília – em especial de Renato Russo – ainda irá perdurar por vários e vários anos, amenizando aqueles tantos que ficaram órfãos com o fim da chamada “Religião Urbana”.