Rebobinando com Elzinha...
Era final dos anos 80 quando fui convidado para conhecê-la. Ela morava na Asa Norte. Quem me levou até ela foi a amiga Regina Sucupira Pedroza e seu esposo Antonio Carlos Pedroza, ambos professores da UnB; minha ex-esposa Deise e minhas duas filhas Gabriela e Elisa. Passamos um dia maravilhoso e inesquecível, regado a um delicioso rango e umas saborosas ‘geladinhas’.
A família de Elzinha nos acolheu com uma delicadeza exemplar e iniciou-se uma amizade sólida, por mais de vinte anos. Passamos a militar juntos no Partido dos Trabalhadores – PT e no Programa de Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida, do Herbert de Souza - Betinho.
O reitor da UnB era Antônio Ibanez e sua esposa Marilu, colega minha do CNPq, montou junto comigo e amigos do CNPq o primeiro Comitê de Brasília, do Betinho.
Tínhamos reuniões quase todas as semanas na sede do CNPq da 509. Ajudávamos a dois orfanatos na cidade satélite da Ceilândia, só com as contribuições recebidas dos servidores do CNPq. Um ticket de vale alimentação de cada servidor e mais as doações que conseguíamos no comércio.
Para a escolha desses orfanatos procedemos uma listagem de todas as entidades existentes no DF, em uma pesquisa minuciosa de todas as filantrópicas existentes em Brasília, até chegar na escolha dessas duas.
Os anos foram passando e eu cada vez mais me convencendo que estávamos remando contra a maré, porque precisávamos mudar a estrutura de governo em Brasília e para isso teríamos que empreender esforços para eleger Cristovam Buarque como governador.
Marilu foi a primeira a concordar comigo, mas o PT era fraco e não tinha organização para bancar a campanha. Paralelo a isso, então, ao comitê da fome, inauguramos no Bar Chiquita Bacana da 111 Norte o primeiro comitê para fazer do Cristovam o governador do DF.
Passamos a fazer bandeiras e fitas da campanha na casa da Marilu. Elzinha ia conosco nos ‘bandeiraços’, nas quadras, na plataforma da Rodoviária e na Ponte do Bragueto. Eu acompanhava Cristovam nas visitas às cidades satélites.
O PT tinha 2% de preferência nas pesquisas de intenção de voto e Valmir Campelo do PMDB tinha 38%. Trabalhamos dia e noite para reverter esse quadro de derrota eminente. Elzinha guerreira, sempre do meu lado, me dando forças e militando com entusiasmo. Estávamos começando a virar o jogo das eleições.
O tecido para as bandeiras eu pedia ao meu amigo Elpídeo, do setor de pessoal do CNPq para comprar lá onde ele morava, em Sobradinho, porque o preço era menor.
Apurados os preços tirávamos do nosso salário o dinheiro da compra. Da nossa produção de bandeiras e outros apetrechos de campanha, que vendíamos nas panfletagens, alimentávamos depois os comitês das cidades satélites de Brasília.
No primeiro comício de Cristovam, na Esplanada dos Ministérios havia uma mar de bandeiras vermelhas feitas por mim e Marilu e ela chorou copiosamente quando viu que tínhamos conseguido com as próprias mãos ‘bandeirar’ aquela multidão toda. Elzinha e Regina Pedroza e o Antonio Carlos, mais Deise e minhas filhas estavam lá sem acreditar no que viam.
Todas as noites íamos colar cartazes nos ‘pirulitos’ dos pontos de ônibus com cartazes escritos assim: ‘Amanhã será um dia lindo’. Pela manhã estávamos, antes de ir para o trabalho no CNPq, na saída das quadras e na entrada das escolas, fazendo panfletagem. Com essa militância viramos o jogo e ganhamos as eleições.
Cristovam na preparação de governo, escolheu o marido de Marilu para ser secretário de educação do DF. Como programa de governo Ibanez pediu que eu batesse em meu computador, o plano da Bolsa Escola que ele iria entregar ao Cristovam para aprovar. Um programa que depois ganhou o País inteiro.
Só vim a reencontrar com Cristovam depois de terminar o governo, lá no meu mestrado em desenvolvimento sustentável da UnB. Continuei com Marilu a trabalhar no CNPq e de quebra com o programa da Fome e os tais orfanatos de Ceilândia. Elzinha foi morar na Espanha e depois de certo tempo arrumou trabalho na cidade de Valença, interior da Bahia, como professora.
Quando o CNPq abriu concurso para servidores, ela me procurou para saber se valia a pena trabalhar lá. Eu vibrei com a perspectiva de tê-la ao meu lado e estimulei a transferência dela. A danadinha passou no concurso dificílimo e foi ser minha colega. Eu depois sai de sala em sala apresentando-a aos demais servidores.
Na primeira festa da nossa associação dos servidores -ASCON eu convidei a Elzinha a ir comigo no Clube do Lago e ela aceitou. Fui com minha filha Gabriela e Elzinha me confidenciou que só estava lá por minha causa porque não se sentia à vontade em festas.
A tirei para dançar e a entrosei com o restante dos colegas. Ela logo virou liderança entre os servidores. Sendo secretária de educação e esportes da ASCON por vários mandatos. Quando postei a foto de Elzinha lá no Orkut, depois do assassinato dela, na última quarta feira, em Luziânia, minha filha Gabriela me disse assim. ‘Pai eu me lembrei agora dela e do carinho que você tinha por ela’.
Ela tinha um doutorado em educação que estava pendente de ser concluído, por conta de ter ido trabalhar no CNPq. Ano passado como grande guerreira e lutadora que era, voltou à Espanha, com parcela de apoio do MCT, em abril de 2009, e lá concluiu seu doutorado.
Nesses vinte e tantos anos nunca deixamos de manter comunicação. Seu humor era refinado e soltei boas gargalhadas com as piadinhas que me enviava por email. Ela me tratava por Juquinha e eu a ela por Elzinha.
Descanse em PAZ querida e inesquecível amiga. Você foi LUZ em minha vida... E agora sou só lágrimas de saudades...
Hildebrando Souza Menezes Filho