O que é ter sucesso?
Uma pergunta simples de responder, mas não muito fácil. Claro que cada resposta estaria de acordo com os conceitos de cada um. Mas percebo em nosso tempo, que as pessoas têm uma concepção de sucesso distorcida, onde ser bonito, ter dinheiro, e indispensavelmente um carro do ano, são pré-requisitos para ser aceito na sociedade e ser visto como um homem bem sucedido.
Vou contar a história...
Era uma vez Seu Adélio, o agricultor
Seu Adélio era descendente de italianos, morava num lugarejo do interior do Rio Grande Do Sul, chamado Santo Antônio. A vida de Seu Adélio foi marcada por muitos percalços, muito sedo perdeu seu pai, quando tinha apenas 11 anos de idade e ainda criança sentiu a dor de não ter alguém para apoiá-lo, aprendendo realmente o valor das coisas. Teve que pegar no cabo do arado de boi pra ajudar sua mãe a criar seus cinco irmãos. A vida era difícil muitas bocas pra comer, gente pra vestir e o pouco que rendia na roça já não era mais suficiente para todos, vendo que seus irmãos já estavam grandes o suficiente para trabalharem na roça, aos 16 anos Seu Adélio foi tentar a vida fora de casa, chegando a Caxias do Sul – RS trabalhou como mecânico, torneiro, marceneiro, cobrador, quando estava se estabilizando veio a má noticia, sua mãe estava doente e ele precisava voltar para casa, e seu sonho de “ser alguém na vida”, foi interrompido.
Novamente em casa, tentou novamente aventurar-se, mas a saúde de sua mãe era frágil e precisava de atenção. O tempo passou e Seu Adélio fixou residência em Santo Antônio, aonde veio conhecer o a mulher de sua vida, Dona Lenir, com a qual se casou.
Passado tempo após o casamento, tiveram uma filha, que infelizmente Deus levou antes da hora, Juliana foi internada com alguns meses no hospital da cidade e devido a um erro médico veio a falecer. Mesmo abalados por essa tragédia o casal seguiu em frente, batalhando, ambos trabalhando de sol a sol para ter uma vida melhor e alguns anos depois resolveram ter outro filho e dessa fez veio um menino.
Como as terras da família eram poucas e a maioria dos irmãos também tinha casado, dividindo assim as terras, para Seu Adélio restou pouco mais que um equipare em seu nome, obrigando ele a arrendar certa porção de terra para tirar o sustento da família que havia crescido, mas, infelizmente as contas não estavam fechando com o que ganhavam com a produção agrícola e mais uma vez seu Adélio foi tentar a vida fora de sua cidade natal, levou sua mulher e filho de dois meses, para Flores da Cunha – RS, onde trabalhou no cultivo da videira e produção de vinhos, cultura repassada ainda por seu pai quando vivo e que sempre fascinou Seu Adélio, que realizava seu trabalho com amor.
Após três anos retornou para a cidade natal e começou a trabalhar com o cultivo da videira, paralelo ao trabalho de pedreiro. Nessa época Seu Adélio tinha residência no porão da casa de sua mãe, que era de madeira e não tinha condições nenhuma de abrigar uma família, muito menos com uma criança pequena.
Não bastavam as dificuldades para sustentar sua família, em 1994 acontece uma tragédia que marcou pra sempre a vida de Seu Adélio. Na comunidade aonde vivia e nas comunidades vizinhas eram comuns os campeonatos de futebol, normal também era o transporte da época, um caminhão sem as mínimas condições de segurança levava os atletas para os eventos, normalmente 40 a 50 pessoas entre torcedores e jogadores subiam no veículo para uma viagem arriscada, infelizmente naquele dia de verão o por do sol não seria tão lindo, na volta para casa o caminhão deslizou em uma ribanceira capotando morro a baixo, quando parou deixou três mortos e muitos feridos graves dentre eles Seu Adélio, que teve a bacia e o fêmur fraturados e três anéis da coluna deslocados, por conseqüência disso ficou enfermo sem caminhar, sua esposa Dona Lenir, que fazia quarenta dias que tinha ganhado seu segundo filho, uma menina linda, cheia de saúde, teve que encarar todo o sofrimento de ver seu marido embrenhado em uma cama sem saber direito se voltaria a caminhar. Nesse momento Dona Lenir demonstrou toda sua força de mulher, de mãe e cuidou de seu marido e seus dois filhos sozinha. Ela sustentava a família da venda de produtos colônias (ovos, verduras, frutas, queijo) que eram levados até a cidade mais próxima a pé em sextos feitos de vime. Sempre firme, sem desistir, sem deixar de acreditar na recuperação de seu marido.
Pode-se imaginar todo tipo de sentimento que deve ter passado pela cabeça de Seu Adélio imóvel em uma cama, sem poder fazer nada para ajudar sua mulher que trabalhava dia e noite, para por a comida na mesa. Mas, como Deus é sempre justo, e milagres existem, Seu Adélio voltou a caminhar, e ainda de começou a trabalhar, seguindo a idéia de sua mulher, continuou a cultivar frutas e verduras as quais entregava na cidade mais próxima com o auxilio de um trator Agrale de propriedade conjunta da família.
O tempo passa e Seu Adélio é surpreendido novamente, parece muita tragédia para uma só família, mas às vezes a vida tem coisas que não podemos entender. Dona Lenir sofre uma hemorragia gravíssima ficando entre a vida e a morte, devido a rapidez de sua filha que tinha apenas seis anos, a qual avisou seu tio que vizinhava com a família conseguiram levar Dona Lenir no hospital e socorrê-la a tempo, mesmo assim ela ficou em uma cama por alguns meses, Seu Adelio a exemplo da mulher cuidou dela e de seus dois filhos até o término de sua recuperação.
Mesmo perante a tantas dificuldades Seu Adelio e Dona Lenir nunca deixaram de acreditar, criaram seus dois filhos com dignidade, educaram, ensinaram a eles o valor da família, a serem éticos a respeitar as pessoas, e principalmente nunca desistir da vida, como diz Dona Lenir: - Um dia não é nunca!
Hoje Seu Adélio e Dona Lenir têm a sua casa e carro próprios, vivem do cultivo e da venda de frutas e verduras, sua filha mais nova filho mais velho cursa faculdade de Direito e sua filha mais nova está se formando no ensino médio.
Seu Adélio não ficou rico nem famoso, mas pergunto a vocês, se sua historia de vida não é uma historia de sucesso?
Sucesso é muito mais que fama e riqueza, glamour, sucesso significa realização pessoal, felicidade. A vida sempre colocará pedras e espinhos no seu caminho, pra seguir em frente você vai se arranhar vai tropeçar, mas nunca desista, no final sempre vai valer à pena.
Como diz Dona Lenir: - Um dia não é nunca!
Um dia não é nunca!
Dedico esse texto a meu pai Adélio Carini e minha mãe Leni Salete Bernardi Carini, muito obrigado por tudo, amo vocês de todo meu coração de toda a minha alma.