Baladas romãnticas

Baladas Românticas - Negra...

Possas chorar, arrependida,

Vendo a saudade que aqui vai!

Vê que inda, negro, da ferida

Aos borbotões o sangue cai...

Que a nossa história, assim relida,

O nosso amor, lembrado assim,

Possam fazer-te, comovida,

Inda uma vez pensar em mim!

Minh'alma pobre e desvalida,

Órfã de mãe, órfã de pai,

Na escuridão vaga perdida,

De queda em queda e de ai em ai!

E ando a buscar-te. E a minha lida

Não tem descanso, não tem fim:

Quanto mais longe andas fugida,

Mais te vejo eu perto de mim!

Louco! e que lúgubre a descida

Para a loucura que me atrai!

- Terríveis páginas da vida,

Escuras páginas, - cantai!

Vim, ermitão, da minha ermida,

Morto, do meu sepulcro vim,

Erguer a lápida caída

Sobre a esperança que houve em mim!

Revivo a mágoa já vivida

E as velhas lágrimas... a fim

De que chorando, arrependida,

Possas lembrar-te inda de mim!

Baladas Românticas - Verde...

Como era verde este caminho!

Que calmo o céu! que verde o mar!

E, entre festões, de ninho em ninho,

A Primavera a gorjear!...

Inda me exalta, como um vinho,

Esta fatal recordação!

Secou a flor, ficou o espinho...

Como me pesa a solidão!

Órfão de amor e de carinho,

Órfão da luz do teu olhar,

- Verde também, verde-marinho,

Que eu nunca mais hei de olvidar!

Sob a camisa, alva de linho,

Te palpitava o coração...

Ai! coração! peno e definho,

Longe de ti, na solidão!

Oh! tu, mais branca do que o arminho,

Mais pálida do que o luar!

- Da sepultura me avizinho,

Sempre que volto a este lugar...

E digo a cada passarinho:

"Não cantes mais! que essa canção

Vem me lembrar que estou sozinho,

No exílio desta solidão!"

No teu jardim, que desalinho!

Que falta faz a tua mão!

Como inda é verde este caminho...

Mas como o afeia a solidão!

Baladas Românticas - Azul...

Lembra-te bem! Azul-celeste

Era essa alcova em que te amei.

O último beijo que me deste

Foi nessa alcova que o tomei!

É o firmamento que a reveste

Toda de um cálido fulgor:

- Um firmamento, em que puseste

Como uma estrela, o teu amor.

Lembras-te? Um dia me disseste:

"Tudo acabou!" E eu exclamei:

"Se vais partir, por que vieste?"

E às tuas plantas me arrastei...

Beijei a fimbria à tua veste,

Gritei de espanto, uivei de dor:

"Quem há que te ame e te requeste

Com febre igual ao meu amor?"

Por todo o mal que me fizeste,

Por todo o pranto que chorei,

- Como uma casa em que entra a peste,

Fecha essa casa em que fui rei!

Que nada mais perdure e reste

Desse passado embriagador:

E cubra a sombra de um cipreste

A sepultura deste amor!

Desbote-a o inverno! o estão a creste!

Abale-a o vento com fragor!

- Desabe a igreja azul-celeste

Em que oficiava o meu amor!

Baladas Românticas - Branca...

Vi-te pequena: ias rezando

Para a primeira comunhão:

Toda de branco, murmurando,

Na fronte o véu, rosas na mão.

Não ias só: grande era o bando...

Mas entre todas te escolhi:

Minh'alma foi te acompanhando,

A vez primeira em que te vi.

Tão branca e moça! o olhar tão brando!

Tão inocente o coração!

Toda de branco, fulgurando,

Mulher em flor! flor em botão!

Inda, ao lembrá-lo, a mágoa abrando,

Esqueço o mal que vem de ti,

E, o meu rancor estrangulando,

Bendigo o dia em que te vi!

Rosas na mão, brancas... E, quando

Te vi passar, branca visão,

Vi, com espanto, palpitando

Dentro de mim, esta paixão...

O coração pus ao teu mando...

E, porque escravo me rendi,

Ando gemendo, aos gritos ando,

- Porque te amei! porque - te vi!

Depois fugiste... E, inda te amando,

Nem te odiei, nem te esqueci:

- Toda de branco... Ias rezando...

Maldito o dia em que te vi!

in memoriam Olavo Bilac

Conde Diego O Poeta
Enviado por Conde Diego O Poeta em 31/05/2010
Reeditado em 31/05/2010
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