AURELIANO DE FIGUEIREDO PINTO

Aos domingos, tentarei postar neste espaço, uma pequena biografia, acompanhada de versos, ou um pequeno texto, de escritores gaúchos, pois há muito tempo venho notando que os nossos autores são praticamente desconhecidos no restante do país. Vou iniciar com aquele que é considerado um grande poeta e escritor deste estado, embora, por modéstia, não gostasse de ser tratado como tal.

AURELIANO DE FIGUEIREDO PINTO

Nascido em Tupanciretã – RS, em 01/08/1898, médico, escritor e poeta. Adotou como sua terra a cidade de Santiago-RS , e por ela foi adotado, sendo considerado com um de seus mais ilustres filhos . Faleceu em 22/02/1959. Foram editados até agora quatro livros, sendo que somente o primeiro foi de seu conhecimento, pois já se encontrava bastante enfermo, quando de sua publicação. Livros:1º) Romance de Estância e Querência- Marcas do Tempo, 2º)Armorial de Estância e Outros Poemas, 3º) Memórias do Coronel Falcão) (considerado pelos críticos como um dos 10 melhores romances gaúchos), e por último Itinerário –Poemas de Cada Instante.

Vou transcrever dois sonetos, para que notem a abrangência de seus versos. Espero que gostem:

DOMINGO FEIO

Hoje... Refugo... E no galpão me empaco!

Quieto... Não gabo, mas também não xingo.

Vou passar chimarreando este domingo

E pitando as fumaças de meu naco.

Na estrebaria nem relincha o pingo.

Um frio... Cai a garoa piaco-piaco.

E acendo as lavaredas de cavaco

Mais pensativo do que noivo gringo.

Hoje sofro de angústias machucadas

Com um flete a mancar de judiarias

Que a guerrilha deixou pelas estradas.

-Tarumã seco das canhadas frias

Sem dar um canto para as madrugadas

E um ajutório para as ventanias...

DO LIVRO ITINERÁRIO – POEMAS DE CADA INSTANTE

VERSO XI

Em teu corpo de lânguido abandono

Sinto as fronteiras de um país fechado.

E nos meus desesperos de exilado

Rondo os domínios de teu rude dono.

Como é precária a posse desse trono

Se é minha, a luz de teu olhar pisado.

Se o que te dou de glória e de pecado

Te enche a vigília e me ilumina o sono.

Bandoleiro romântico e tristonho,

Violo a fronteira do estupendo império,

Transpondo oculto a divisória linha.

E a passos ébrios, nos jardins do sonho,

Sorvo a flor de legenda e de mistério

Nessa loucura de sentir que és minha.

Glossário: Chimarreando -RS: Tomando mate, bebida típica do sul, servida em cuia contendo erva-mate, sorvido através de uma bomba. (ver na minha foto).

Gringo - RS: Imigrante italiano, e seus descendentes.

Flete- RS: Cavalo bonito,de boa estirpe e bem encilhado.

Canhadas – RS: terreno baixo entre coxilhas ou colinas.