MAIO. MÃE. MARIA. MULHER
Sérgio Martins PANDOLFO*
“Eu vi minha mãe rezando,
Aos pés da Virgem Maria:
Era uma santa escutando
O que outra santa dizia".
(Trova de domínio público)
“Maio das noivas e das novenas / Maio dos lírios e dos missais / Maio das Virgens brancas e serenas / Maio dos sonhos que não vêm mais”.
Assim principia a letra da belíssima canção “Mês de Maio”, de 1942, do notável e multifário intelectual parauara, Edgar Proença, em parceria com o saudoso e muito conhecido músico carioca Custódio Mesquita.
Com efeito, o quinto mês dos calendários juliano e gregoriano é, por tradição e eventos que consagra, o mês da mulher. Primeiro porque – já é prática arraigada – é o escolhido pelas noivas para se tornarem esposas; depois porque é mundialmente comemorado, em seu segundo domingo, o Dia das Mães; acrescente-se ser maio, ainda, tempo de flores que marcam a primavera, de alegrias, de jovialidade, muito a condizer, assim, com a alacridade própria da alma feminina; finalmente, pelo ser esse o mês consagrado à mais santa e virtuosa das mulheres, a Virgem Maria, mãe de nosso Salvador.
Essas rememorações se me assomaram ao dar-me conta do papel que desempenham hoje as mulheres na sociedade: a esposa, a companheira; a mãe de nossos filhos e de nós próprios; a lutadora de todos os dias; a perpetuadora da espécie; a mulher, enfim, em todas as suas admiráveis nuanças, que pensa com o coração, age pela emoção e vence pelo amor, de quem já se disse “que hospeda no ventre outras almas, dá à luz e depois fica cega, diante da beleza dos filhos que gerou”; todas terão seus nomes e suas magias enlevados e exalçados por tantos de nós e reconhecida a distinção de obra máxima da divina criação.
Maria deixou para a humanidade o exemplo de mãe perfeita, ideal, abdicando mesmo dos prazeres da mundanidade para credenciar-se a ser a mãe de Jesus, concebida, fecundada, sem a interveniência carnal, sem o pecado original. Sacrificou-se pelo seu Filho amado arrostando mil privações, vicissitudes e perigos, p.ex., aquando da fuga para o Egito. Depois, e provação maior, ao assistir o martírio, a flagelação, a crucificação do Mestre, que ela suportou com humildade e estoicismo, para, finalmente, glorificar-se e rejubilar-se no momento extraordinário da ressurreição e no triunfo da Ascensão do Senhor, seu filho redivivo agora.
Todas as mães, de uma forma ou de outra, cumprem missão e desígnios mais ou menos semelhantes, daí porque são todas glorificadas. Haverá coisa mais sublime que o santo mistério da concepção da vida? E da garantia de continuidade dessa vida tenra nos primeiros tempos, com a amamentação? Todo homem, por mais poderoso e forte que seja, terá sempre provindo de um ventre de mulher, quanta vez fragilizado, doentio, a ponto de nem suportar o esforço supremo da maternidade e sucumbir. Eis o excelso sacrifício a lhe extinguir a vida.
Por isso que mãe é nome doce, suave, via de regra o primeiro a ser balbuciado pelo novo organismo em crescimento, exigente explorador de sua vitalidade, a solicitar-lhe os préstimos da seiva láctea.
O mais empedernido coração, o mais arrogante dos mortais, quase sempre se enternece frente à candura materna, obediente aos rogos e exortações dessa doce criatura. Aos olhos do filho a mãe tem alguma coisa que transcende a materialidade humana, alguma coisa sobrenatural, alguma coisa divinal.
“Doces saudades dos meus cismares / Num mês de maio que não volta mais”, conclui a letra magistral da composição do “Velho” Proença e será, por certo, o que todos sentiremos no transcorrer deste auspicioso reencontro cirandeiro maiolino, alguns nos verdoengos anos da vida, outros já encanecidos, maduros e experimentados, mas todos amigos e com objetivos comuns.
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Nota: Homenagem do Autor a todas as mães, essa criatura divinal que nos dá a vida e nos supre da seiva láctea alimentar dos primeiros tempos, e a todos quantos ainda têm a ventura de, dirigindo-se a ela, chamar: MÃE.
Este será o primeiro maio em que não poderei mais abraçar-te e receber ter beijo amado, MÃE.
(*) Médico e Escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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