UMA CANÇÃO PARA UMA AMIGA

Uma canção para uma amiga,

Antiga cantiga

De terras lusitanas vinda

Calou-se hoje.

Não haverá mais versos finos,

Rimas em linguagem culta

Porque a inspiração

A morte tratou de exilar.

Ah, esta cantiga antiga!

Fados da Alfama vazia

Onde, na madrugada fria,

Ouve-se o lamento de Amália;

Os versos picantes do Bocage,

Os suspiros de Camões

Ardendo em fogo que não se vê,

Caminhando sobre as brasas dos Lusíadas.

O choro das guitarras tão perto

Faz-me pensar, por certo,

A vida é um céu encoberto

O sol está do outro lado

Aquecendo o musgo do chão

Para ela pisar etérea

Envolta em véus de amores

Deixados do lado de cá.

Ah, minha amiga!

Hoje tu és uma pérola de vida

Porque na praia da eternidade

Encontraste a concha perdida.

20/08/06.

(em memória de Maria Helena Sarmento Pimentel Maciel)