Sonho de João

Vi uma ave pousar no solo seco do cerrado

Pássaro de cimento, monolitos e concreto

No Paranoá fez casa e em tua margem albergado,

Encontrou João-de-barro, o famoso arquiteto.

E João (o incansável) trabalhava noite e dia

Como o bom brasileiro na labuta madrugava

Com a ave construía o sonho de Brasília

Cuja base é o progresso que seu manto flamulava.

E cresceram as Asas pelo Sul e pelo Norte

Sustentadas pelo Eixo de beleza Monumental

Via em que o morador parasita faz transporte

Apressado em cumprir pela manhã seu ritual.

Ave esguia, jovial, cinquentona em crescimento

Sufocado na gravata, desmando de democrata

Do projeto inicial de Oscar brota um lamento

De João, cidadão, alvo de negociata.

Entretanto é teu ar puro que transcende o acre esgoto

Não manchando o azul traçado retilíneo de seu céu

Cruzo as nuvens planando, pois no Plano sou Pìloto

Que viaja em tua brisa, rumo incerto errante ao léu.