O POETA DO ESPORTE

Ontem, 29/3/10, morreu aos 83 anos no Rio de Janeiro o cronista esportivo mais refinado do país, o grande Armando Nogueira, vitimado por um câncer no cérebro.

Nascido em 14/01/1927 no Xapuri, Acre, partiu rapazinho aos 17 anos para o Rio de Janeiro atrás dos seus sonhos, com a cara, a coragem e uns minguados trocados no bolso. Mas, como ele foi sempre um lutador, arranjou seu primeiro emprego como ensacador num comércio e, logo após, como revisor na redação do “Diário Oficial do Governo do Acre”. Iniciava assim sua busca do ideal de se tornar um grande jornalista.

Algum tempo depois ingressou no “Diário da Noite” onde começou a mostrar suas qualidades. Passou em 1950 para o “Diário Carioca”, onde conviveu e trabalhou com alguns expoentes das letras brasileiras, entre eles Otto Lara Resende, Rubem Braga, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. Deste para a famosa revista “O Cruzeiro”, de 1957 a 1959, Jornal do Brasil em 1959 e depois para a “TV Globo”, convidado por Walter Clark, onde teve o seu excepcional talento reconhecido e aproveitado, sobressaindo-se como um dos criadores do JORNAL NACIONAL ao lado de grandes nomes do jornalismo brasileiro.

O esporte era a sua paixão e Armando Nogueira especializou-se em comentar e escrever sobre esportes, notadamente sobre futebol, o que lhe valeu o apelido de “Poeta do Esporte”. Assistia e comentava um jogo de futebol (principalmente os do Botafogo, seu time do coração), levava para o papel sua narrativa em forma de crônica esportiva e, num estilo elegante, alegre, inconfundível, maravilhava seus leitores e ouvintes de todo o Brasil. Suas crônicas são consideradas antológicas no contexto jornalístico nacional.

Armando Nogueira, como Nelson Rodrigues, outro amante do futebol e apaixonado pelo seu Fluminense, conversava, falava e escrevia sobre futebol como ninguém, fazendo jús ao título de “Poeta do Esporte”. Vendo um jogo da Seleção Brasileira no Maracanã, pelas eliminatórias da Copa de 1970, comentou sobre a dupla Pelé e Tostão, driblando e envolvendo a defesa contrária:-

“- Quem vê esses dois, Pelé e Tostão, jogando e tabelando desse jeito, acredita que Deus existe! ...”

Noutra ocasião, fazendo seu comentário futebolístico num programa da “TV Globo”, saiu-se com esta pérola:-

“- Garrincha é gênio! O espaço de trinta centímetros quadrados junto à linha do campo, pra ele, é um latifúndio! ...”

E não era pra menos, pois Garrincha enfileirava dois ou três “Joãos”, como ele os chamava, os gringos zagueiros adversários, driblava pra cá, pra lá e acabava entortando todos os três e quem mais viesse pra marcá-lo, saindo leve e solto com a pelota dominada e cruzando para a área contrária.

A torcida brasileira perdeu seu poeta da bola, as crônicas e os comentários do famoso jornalista, mas a eternidade ganhou sua presença para sempre, junto com seu talento, sua lhaneza de trato e seu espírito altruísta.

Vá em paz, Armando Nogueira, e que Deus o receba entre os justos, caro cronista do futebol. Assim seja! ...

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B.Hte., 30/3/10

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 30/03/2010
Reeditado em 30/03/2010
Código do texto: T2168124
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