Clarice na Esteira
Na minha absoluta falta de tempo para tantas coisas, começo a partilhar o tempo que tenho com tudo que é possível fazer ao mesmo tempo.
Assim, enquanto dirijo, estudo música, enquanto assisto aos noticiários atualizo “meus bichos” no site da ProAnima, converso com amigos pela internet ou escrevo. E, às leituras, sobrou-me o tempo compartilhado da minha esteira ergométrica. Enquanto gotejo suor, ofego e bufo, absorvo o humor, o amor, sentimentos, invencionices... viajo enfim, dentre mágicas palavras nas páginas de um livro.
Ultimamente, quem tem me acompanhado em meus quase cinco quilômetros diários é Clarice Lispector. Genial Clarice em suas correspondências para as irmãs, o marido (enquanto namorado), amigos e outros grandes autores seus contemporâneos, bem como algumas das respostas destes. Fascinante como bisbilhotar pelo buraco da fechadura, mas muito diferente de ler uma revista de fofocas qualquer. Conhecer as cartas de Clarice, invadir sua intimidade, mostra que ela é inacreditavelmente brilhante até numa pretensa intimidade. Guardadas as proporções, observo orgulhosa, que seu processo criativo compreendia apoio e crítica dos amigos Fernando Sabino ou Lúcio Cardoso, de uma forma não muito diferente do meu com as amigas Zélia Freire ou Malu.
Há porém, um desconforto com a idéia de ter Clarice ao meu lado, na esteira: Clarice merece registro. É impossível ler Clarice sem desejar anotar-lhe algumas palavras, expressões... É quando esbarro na dificuldade operacional de segurar o livro, papel, caneta e ainda manter-me equilibrada sobre o equipamento, tarefa que só consigo executar com alguma eficiência porque agarro-me fortemente às barras de proteção laterais.
Desisto de anotar e perco preciosidades como: “Só quem diz a verdade é quem não gosta da gente ou é indiferente”. Talvez o caro leitor pense que estou me lamentando à toa. Em tempos de internet, basta entrar no Google e digitar “Clarice Lispector frases” e encontrarei uma infinidade de sites com o ouro de Clarice já devidamente garimpado. O que não podemos esquecer, no entanto, é que o contexto faz toda a diferença. Além, claro do enorme prazer provocado pelo fenômeno de registrar tempestivamente, aquela frase que naquele momento disse-me tanto.
Resta-me a esperança de um dia tornar a ler esses livros, da forma como eles merecem, calmamente esparramada numa rede, sob árvores frondosas, ouvindo pássaros cantando e o borbulhar das águas de um rio manso. Então, com uma daquelas canetinhas de cores exuberantes, marcar as pérolas incrustadas nos escritos de Clarice.
Na minha absoluta falta de tempo para tantas coisas, começo a partilhar o tempo que tenho com tudo que é possível fazer ao mesmo tempo.
Assim, enquanto dirijo, estudo música, enquanto assisto aos noticiários atualizo “meus bichos” no site da ProAnima, converso com amigos pela internet ou escrevo. E, às leituras, sobrou-me o tempo compartilhado da minha esteira ergométrica. Enquanto gotejo suor, ofego e bufo, absorvo o humor, o amor, sentimentos, invencionices... viajo enfim, dentre mágicas palavras nas páginas de um livro.
Ultimamente, quem tem me acompanhado em meus quase cinco quilômetros diários é Clarice Lispector. Genial Clarice em suas correspondências para as irmãs, o marido (enquanto namorado), amigos e outros grandes autores seus contemporâneos, bem como algumas das respostas destes. Fascinante como bisbilhotar pelo buraco da fechadura, mas muito diferente de ler uma revista de fofocas qualquer. Conhecer as cartas de Clarice, invadir sua intimidade, mostra que ela é inacreditavelmente brilhante até numa pretensa intimidade. Guardadas as proporções, observo orgulhosa, que seu processo criativo compreendia apoio e crítica dos amigos Fernando Sabino ou Lúcio Cardoso, de uma forma não muito diferente do meu com as amigas Zélia Freire ou Malu.
Há porém, um desconforto com a idéia de ter Clarice ao meu lado, na esteira: Clarice merece registro. É impossível ler Clarice sem desejar anotar-lhe algumas palavras, expressões... É quando esbarro na dificuldade operacional de segurar o livro, papel, caneta e ainda manter-me equilibrada sobre o equipamento, tarefa que só consigo executar com alguma eficiência porque agarro-me fortemente às barras de proteção laterais.
Desisto de anotar e perco preciosidades como: “Só quem diz a verdade é quem não gosta da gente ou é indiferente”. Talvez o caro leitor pense que estou me lamentando à toa. Em tempos de internet, basta entrar no Google e digitar “Clarice Lispector frases” e encontrarei uma infinidade de sites com o ouro de Clarice já devidamente garimpado. O que não podemos esquecer, no entanto, é que o contexto faz toda a diferença. Além, claro do enorme prazer provocado pelo fenômeno de registrar tempestivamente, aquela frase que naquele momento disse-me tanto.
Resta-me a esperança de um dia tornar a ler esses livros, da forma como eles merecem, calmamente esparramada numa rede, sob árvores frondosas, ouvindo pássaros cantando e o borbulhar das águas de um rio manso. Então, com uma daquelas canetinhas de cores exuberantes, marcar as pérolas incrustadas nos escritos de Clarice.