Armando Nogueira: um poeta jornalista
"A arquibancada do futebol é o divã da catarse nacional."
Tecer considerações em palavras acerca de Armando Nogueira, creio eu, dificilmente lhe faria jus. Prefiro transcrever trecho de uma de suas grandiosas crônicas esportivas.
"Pela primeira vez, que eu visse, os deuses do futebol decidiram castigar a soberba de uma nação. E daí a cena pungente da multidão absolutamente aparvalhada, no estádio silencioso.
Atrás das pessoas saindo do estádio, um rastro de desolação. Até hoje, uma imagem não me sai da lembrança: escurecia e o povo ia tocando fogo nos jornais velhos. Nascia, em minutos, uma colossal fogueira pelos degraus da arquibancada. E aquele fogo, primeiro, infernal, depois atroz, foi murchando, murchando até que virou cinza. Daí a pouco, um pé-de-vento começou a levar pelos ares aquela cinza toda. Cinzas de um sonho que se consumiu na chama do nosso próprio orgulho. Cinzas de uma esperança morta.
(...) Imagino o que está acontecendo pelo Brasil afora. O país inteiro só pode estar mortificado. É uma catástrofe. Em menos de uma hora, o estádio parece um imenso cemitério. (...) O povo descendo a rampa, em silêncio, parecia um cortejo fúnebre. Tínhamos acabado de enterrar a soberba nacional. Perdemos um título ganho, de boca, na véspera."
Armando Nogueira - 1950: 10% da população do Rio no Maracanã in “A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar”, São Paulo: Cia. das Letras, 1994, 181 p. (p. 17-36).
Assim como com o desaparecimento de Nelson Rodrigues, com o de Armando Nogueira restarão mais saudades em lacunas desses mestres na arte poética de descrever atos esportivos.
"A arquibancada do futebol é o divã da catarse nacional."
Tecer considerações em palavras acerca de Armando Nogueira, creio eu, dificilmente lhe faria jus. Prefiro transcrever trecho de uma de suas grandiosas crônicas esportivas.
"Pela primeira vez, que eu visse, os deuses do futebol decidiram castigar a soberba de uma nação. E daí a cena pungente da multidão absolutamente aparvalhada, no estádio silencioso.
Atrás das pessoas saindo do estádio, um rastro de desolação. Até hoje, uma imagem não me sai da lembrança: escurecia e o povo ia tocando fogo nos jornais velhos. Nascia, em minutos, uma colossal fogueira pelos degraus da arquibancada. E aquele fogo, primeiro, infernal, depois atroz, foi murchando, murchando até que virou cinza. Daí a pouco, um pé-de-vento começou a levar pelos ares aquela cinza toda. Cinzas de um sonho que se consumiu na chama do nosso próprio orgulho. Cinzas de uma esperança morta.
(...) Imagino o que está acontecendo pelo Brasil afora. O país inteiro só pode estar mortificado. É uma catástrofe. Em menos de uma hora, o estádio parece um imenso cemitério. (...) O povo descendo a rampa, em silêncio, parecia um cortejo fúnebre. Tínhamos acabado de enterrar a soberba nacional. Perdemos um título ganho, de boca, na véspera."
Armando Nogueira - 1950: 10% da população do Rio no Maracanã in “A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar”, São Paulo: Cia. das Letras, 1994, 181 p. (p. 17-36).
Assim como com o desaparecimento de Nelson Rodrigues, com o de Armando Nogueira restarão mais saudades em lacunas desses mestres na arte poética de descrever atos esportivos.