Ayrton Senna x Alain Prost
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Este texto foi editado em 19 de dezembro de 2007, como crônica no Opinião Jornal, diário da Cidade de Araras, e que foi alvo de muitos e-mails de comentários e considerações, por pessoas que têm como seu ídolo eterno o iluminado piloto Ayrton Senna da Silva. Resolvi editá-lo neste Recanto, hoje, como minha pequena homenagem a esse ás do volante, pela passagem do cinquentenário do seu nascimento, mais pelo seu espírito de altruísmo e pelo carinho dispensado àqueles que seriam o futuro da humanidade e que estejam em dificuldades para alçar voo e vencerem na vida, do que pela sua altíssima competência profissional.
Ayrton Senna x Alain Prost
Dia 21 de outubro último tive a oportunidade de assistir à corrida de Fórmula 1, pela TV, que se realizou no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, ocasião em que o francês Alain Prost, já afastado das pistas há longo tempo como piloto, concedeu uma entrevista à TV, falando sobre o seu relacionamento profissional com o então ídolo brasileiro, Ayrton Senna, morto em um grave acidente na pista de Ímola, na Itália, há mais de treze anos (01/05/94).
Embora eu não seja partidário de esportes radicais e, principalmente, de profissionalismo esportivo, costumo, de vez em quando, acompanhar esses eventos, para buscar elementos que me forneçam subsídios úteis à montagem das crônicas. É muito importante estarmos “por dentro” dos eventos e dos acontecimentos no cotidiano mundial, se quisermos acompanhar o andamento da expansão da vida humana; este é o caminho que persigo para tirar conclusões compatíveis com a ultramoderna filosofia de vida oriental, à qual milito há trinta e cinco anos, de maneira ininterrupta.
Na entrevista, Prost deixou bem claro que Senna foi o seu mais temido adversário, porque ele era um homem de muita determinação e, obcecadamente, procurava inspiração no caminho da superação dos seus limites, para se tornar cada vez mais capaz de vencer seus oponentes, mais especialmente o corredor francês, que era famoso pela sua grande capacidade de controle emocional, no transcorrer das corridas, o que lhe havia conferido a alcunha de “o professor”, na época, como acontece na atualidade com o corredor finlandês Kimi Raikkonen, atual campeão mundial – chamado de “o homem de gelo”.
O que me chamou a atenção nessa entrevista foi que Prost declarou que o Ayrton foi lhe procurar, horas antes de sofrer o fatídico acidente, para lhe fazer comentários preocupantes a respeito do próprio carro, que não estava bom, além de mostrar a enorme angústia que ele sentia pela morte do piloto alemão Ratzenberger, havida nos treinos de classificação, no dia anterior à corrida. O piloto francês disse que, pela primeira vez, após anos de divergências radicais, e de competições ferrenhas, sentiu um Senna diferente, muito fragilizado e inseguro, além de mais amável e fraterno, ao se dirigir a ele – foi o último encontro entre os dois adversários.
Vamos então tirar proveito desses fatos: Ayrton Senna da Silva chegou quase à perfeição na pilotagem dos bólidos da Fórmula 1, sendo reconhecido mundialmente pelo seu arrojo e pela altíssima capacidade de superação de limites, sempre em busca da vitória, não somente como profissional, mas também como realização pessoal. Pois bem, ele chegou a se tornar uma “lenda”, mesmo no meio de uma plêiade de pilotos extremamente hábeis e famosos, mas tudo isso graças a essa competitividade implacável que lhe impuseram, especialmente pelo piloto Alain Prost, logo podemos afirmar, sem pestanejar, que o nosso crescimento é sempre diretamente proporcional aos obstáculos que nos são impostos, portanto, quanto maior for o tamanho do problema, mais proveitoso será o nosso ganho através da sua superação, porque maior terá que ser nosso esforço e, por consequência, também nosso aprendizado. Essa é a razão que devemos sempre guardar sentimento de gratidão pelos nossos desafetos, pois, sem eles, nunca sairíamos do lugar comum.
Por fim, um fato interessante diz respeito à “fragilidade” do ídolo brasileiro, horas antes do seu trágico passamento, como se pressentindo o que lhe iria acontecer – esta “premunição” sobre a própria morte é freqüentemente comum nas pessoas possuidoras de nível espiritual acima da média, portanto é uma característica de quem detém uma individualidade mais polida e fortalecida. Pode-se confirmar isso apenas pelo simples fato de ele ser o responsável direto por extensa obra de acolhimento a crianças carentes, tudo feito ocultamente, por muito tempo, somente vindo à tona após seu desencarne, através do Instituto Ayrton Senna, sob responsabilidade, hoje, de sua irmã Viviane.
Araras (SP) - Opinião Jornal - 19/12/2007