O grande saudoso Quintana
A simplicidade de Mário Quitana foi algo que o transformou no ser genial que é hoje. Nada para ele era tão horrível a ponto de transformar a vida num grande terremoto.
Dizia coisas do tipo: morrer é a oportunidade de dormir com sapatos; muitas vezes na vida a saudade da amada criatura é bem melhor do que a presença dela; achava que quem fica viúvo era o defunto porque esse não voltava mais.
Achava graça dos velhinhos, como ele, que insistiam em procurar os óculos por toda a parte para encontrá-los depois na ponta do nariz.
Achava também que a beleza sempre foi fundamental para compreensão da vida. Pois, dizia que, por exemplo: um hipopótamo com alma de anjo teria uma trabalheira desgraçada para nos convencer de sua angelitude.
Quanto às criticas maledicentes, não dava importância a elas. Acreditava que o ataque de uma borboleta agrada mais que todos os beijos de um cavalo.
Interessante era seu o ponto de vista sobre a matemática. Assim, falava-nos que a curva era o caminho mais interessante entre dois pontos.
Com certeza, e que me desculpem os poetas de hoje, a poesia tornou-se um pouco mais inverno, após a partida do nosso saudoso poetinha.
Agora os poetas parecem cientistas, escrevem psicanálise em forma de rima... poetizam o óbvio que não nos surpreendem mais...
Ah, saudoso Quitana... Deus deve estar regozijado de tê-lo ao seu lado, pois a tua poesia ainda agora continua sendo lida pelo arauto do céu em forma de cores no anoitecer do firmamento e nas alvoradas das manhãs, na canção do vento, no respiro profundo do oceano, que insiste em trazer e levar as ondas à praia do tempo, onde o quando se torna hoje e onde o hoje se torna presente. O arco-íris não é senão um pequeno soneto de teus lábios...
Assim, imagino que Deus estar-te Quitaneando um pouco também...