Barracão do Sol nascente.

Barracão do Sol Nascente.

Normalmente e antigamente os estudantes pobres do interior, normalmente quando se dirigiam para uma grande cidade ou capital, a fim de galgar uma vaga em uma universidade, geralmente são levados a constituir uma moradia comunitária, solidária, que chamamos de republica estudantil.

E foi assim, que num barraco pobre como tantos outros, normalmente e sempre largados nos fundos dos quintais de uma casa grande, da bela Belo Horizonte, que um dia, nos reunimos formando uma republica estudantil no bairro Padre Eustaquio, a qual carinhosamente denominou Espelunca, tal era a pobreza, decadência e fragilidade daquele barraco.

Era um barraco trapezoidal uma só queda de água pluvial, justamente voltada para a porta de acesso, e do terreiro. Com portas e janelas voltadas para o belo horizonte da cidade nos propiciavam uma emoção singular, quando pelas manhãs os raios solares penetravam,pelas tantas frestas das janelas, portas e irregular telhado, criando um lindo visual de feixe de luzes, que também servia como um relógio despertador, avisando que um novo dia havia chegado

A fortaleza daquele barraco eram os integrantes, os quais carregavam suas historias, seus sonhos e suas ambições com uma forte determinação de vencer. Havia o sonho comum o de se formar e conseguir um bom e emprego numa grande empresa. Era uma moradia de sonhos de cooperação e colaboração e superação.

Como ornamentação uma touceira da flor Coração Magoado, misturando-se com outros arbustos da nossa culinária. De uma arvore da casa do vizinho, compartilhávamos uma faixa de sombra de alguns galhos de um pé de Alumã, nosso santo remédio para as manhãs, das mal traçadas noites de excessos em festas. Muitas vezes me atirei naquelas folhas como se fosse o colo de minha mãe.

Ali vivemos e realizamos sonhos, e muito mais, aprendemos a valorizar cada tarefa, cada dificuldade. Criamos laços de amizades, cumplicidades. Foi um tempo feliz de minha historia, onde solidifiquei amizades, que ainda levo comigo. Um dia cada um seguiu sua trajetória, e outros foram chegando para novas emoções. Anos depois, soube que aquele barracão, já não existia, pois fora demolido em nome da segurança. E foi assim que o barracão do sol nascente viu o sol se pôr para sempre.

Hoje com saudades, ainda sinto as badaladas do sino daquela Igreja do Padre Eustaquio.

Toninhobira.

Aos colegas de republica: Tão, Koka, Cássia, Raquel,Tita

Aos parceiros colaboradores: Zé da Paz, Humberto, Taquim (in memorian) e nossas famílias.

Carinho especial a Tontoia, que facilitou nossos dias nos dando uma geladeira vermelha.