HISTÓRIA DE UM AMOR

Corria o ano de 1987 e estávamos residindo de novo em São Paulo. Eu havia sido transferido de Porto Alegre pela “Editora Guanabara”, empresa para a qual prestava meus serviços profissionais nessa época. Tinha assumido a gerência da filial da editora na capital paulista e o trabalho era muito. Dona Mari, como sempre na retaguarda, administrando o lar e me dando cobertura. Ana Claudia estudando e procurando trabalho e o Daniel matriculado num colégio nas proximidades de casa, em Vila Mariana, prestes a concluir o segundo grau.

Um dia chego a casa para o almoço e minha princesa Ana me diz, toda eufórica, que sua amiga Irma, de Fortaleza, estava em São Paulo e gostaria de vê-la, após mais de dois anos longe uma da outra. E insistiu para que eu a levasse até a Avenida Paulista, onde tomaria um ônibus para o Brooklin, em busca da residência dos tios da sua amiga.

Terminei de almoçar e atendi ao pedido da minha filha, após mil recomendações. Depois de deixá-la na Paulista, tomei o rumo do trabalho e mergulhei de cabeça nos meus afazeres.

Alguns dias depois minha mulher teve a seguinte conversa comigo:-

“- Beto, acho que a Ana Claudia e o primo da Irma estão de namorico. Ele veio trazê-la aqui em casa, depois da visita que Aninha fez à sua prima naquele dia, no Brooklin. E depois disso andam trocando telefonemas e ela até foi convidada para um cinema.”

“- Ah, é? Mas esse moço tem nome? O que faz? E seus pais? Precisamos conhecê-lo melhor.” – foi minha resposta. Afinal, tratava-se da “minha Princesa”, a única moça dentre os meus três filhos. Há que zelar, não é mesmo?

Esse mundo é muito engraçado. Moramos três anos em Fortaleza, Ceará, a Ana Claudia fez amizade com a tal amiga no colégio, a Irma, que por sinal morava próximo ao nosso apartamento na Aldeota. E sempre muito alegre, a menina começou a freqüentar a nossa casa. Daí a pouco conhecemos seus pais, “Seu” Raul, um boliviano boa praça, e Dona Giseldina, uma cearense arretada, mãe da Irma, do Raulzinho, do Sued e da Nancy. E fizemos amizade. A Irma, volta e meia, falava desses parentes de São Paulo e agora, ao que tudo indicava, a Aninha estava de namorico com um dos primos dela.

Eis que um dia o moço, de nome Décio, vai até o nosso apartamento, depois de ter saído com nossa filha e teve que ligar pro seu pai, pedindo ajuda pois havia trancado o seu carro com a chave na ignição. Algum tempo depois chega à nossa casa o “Seu” Juarez, um simpático cearense de cabelos grisalhos, portando cópia da chave do veículo do filho. Travamos rápido conhecimento e tivemos muito boa impressão deles. Acho que a recíproca foi verdadeira. Daí pra frente o namoro engrenou de vez.

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Desta feita, ficamos três anos morando em São Paulo (antes já havíamos morado lá por oito anos, de 1962 a 1970), até que “Editora Guanabara” encerrou suas atividades na paulicéia, fechando sua filial. Acertamos as contas e eu voltei com toda a família para Belo Horizonte, onde comprei casa e recomecei minha vida.

Quando regressamos, o Décio e a Ana já estavam namorando há alguns meses. Ana Claudia trabalhava e fazia a Faculdade de Belas Artes (FEBASP), próximo ao nosso apartamento em Vila Mariana, na Rua Pelotas. No nosso último dia em São Paulo, logo após o caminhão da “Fink” ter apanhado nossa mobília, fomos para o Hotel Normandy na Avenida Ipiranga, onde passaríamos uma noite, partindo na manhã do dia seguinte, de carro, para a capital mineira.

Ana Claudia nos pediu pra convidarmos o namorado Décio a jantar no hotel, no que concordamos. Afinal estavam se despedindo, Deus sabe até quando. E às vinte e uma horas surgiu no hotel a figura tímida daquele rapazinho de óculos, mas sorridente e bastante simpático. Nós não sabíamos, mas estávamos diante do nosso primeiro (e único) genro, futuro marido da nossa princesa e mais tarde pai de três dos nossos cinco netos, todos eles “muito bem acabadinhos”, segundo ele, Décio, mesmo diz.

O casalzinho ficou à vontade, todo sorrisos, juntamente conosco e nosso filho caçula, Daniel. O irmão mais velho da Ana, Cássio, já morava e estudava em Brasília, na UNB, ficando, pois, fora dessa mudança.

Terminado o jantar, despedimo-nos do Décio e nos recolhemos pois pegaríamos a Fernão Dias bem cedinho e essa estrada (de mão dupla, na época) era bastante perigosa, exigindo muita concentração do motorista. E eu estaria transportando toda a minha família, o meu tesouro! ...

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No dia 11/01/1989 partimos cedinho do centro da paulicéia, pegando a Fernão Dias com destino a Belo Horizonte. O “Fiat-147”, ano 1982, belezura de carro, mostrou-se valente e bem disposto. Dona Mari, ao meu lado, dava-me a segurança de sempre. No banco de trás iam o Daniel e Ana Claudia, meninos ainda, curtindo a paisagem. Tudo era alegria, tudo era festa. Mais uma mudança ocorria em nossas vidas, depois de passarmos por Belém do Pará, Recife, Brasília, Anápolis, Fortaleza, Porto Alegre e São Paulo (pela segunda vez). Como de hábito, confiávamos em dias melhores na capital mineira. Afinal, voltávamos às nossas raízes. Era a nossa terra! ...

Chegamos à tardinha e fomos direto para a vivenda da Rua Itaguaçu, 10, no bairro da Renascença, casa dos sogros Neginho e Geralda, onde fomos recebidos com a alegria e o carinho tradicionais da família Gonçalves. Um café colonial nos aguardava e fomos saboreá-lo, aproveitando para botar a conversa em dia. Anoiteceu, um jantar foi servido com a saborosa comidinha da Dona Geralda, outros parentes chegaram pra nos visitar, muitos irmãos, primos, velhos amigos e, por fim, cansados mas muito felizes, fomos dormir a primeira noite daquele regresso às Alterosas! ...

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No dia 13/01/1989 mudamo-nos em definitivo para a nossa casa, um bonito sobrado pintado de branco no bairro vizinho da Cachoeirinha, na Rua Leão XIII, 10, próximo à Igreja Nossa Senhora da Paz. E aí começamos a arrumação do nosso novo ninho, ajudados pelos filhos Daniel e Ana Claudia.

Dias depois chega a Belo Horizonte, pela primeira vez, o Décio, namoradinho da nossa princesa Ana (mais cedo do que eu pensava). Alegava muitas saudades e viera conhecer os outros membros da nossa grande família, a “mineirada”. Ana Claudia, felicíssima, aproveitou a presença do namorado pra sair em busca de uma faculdade, pra onde pudesse se transferir e dar continuidade ao seu curso (havia trocado, em São Paulo, para Desenho Industrial). Alguns dias depois e muitas visitas feitas às escolas da cidade, ela e o namorado me procuraram pra conversar, juntamente com sua mãe, Maria Mari. Falou-me da idéia de voltar pra São Paulo; argumentava que todas as faculdades visitadas faziam o tal curso dela em quatro anos, ao passo que lá seria de apenas três anos. Como ela já tinha feito dois anos, faltava apenas um pra se formar. Poderia retomar seu trabalho no antigo emprego, alugaria um quarto numa residência familiar próxima onde moramos, na Vila Mariana (casa da Dona Elizabeth) e tudo se resolveria facilmente (uma guerreira, essa minha filha). Perguntou-me se eu concordava e como poderia ajudá-la nessa empreitada! Respondi-lhe que entendia, concordava e iria apoiá-la de todas as maneiras, inclusive financeiramente. E, em seguida, prorrompi num choro convulso, pois não contive as lágrimas ao perceber que iríamos nos apartar da nossa princesinha tão querida!

O Décio, ao nosso lado, sorria amarelo. Notei o jeitão dele, interrompi o choro e procurei logo “quebrar o gelo”, dizendo:-

“- É, rapaz, o seu santo é mesmo forte, heim? Você venceu! ...”

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Ana Claudia retornou à capital paulista com o namorado e, dias depois, nos telefonou dizendo já estar morando num quarto alugado na enorme casa da Dona Elizabeth, em Vila Mariana, pertinho da Rua Pelotas, onde residimos. Dona Norma, uma comadre nossa de lá, também vizinha desse endereço, lhe apresentara e conseguira a vaga com a Dona Elizabeth. Falou também que já estava reintegrada ao trabalho, na mesma empresa de onde se desligara, e que se matriculara na FEBASP e reiniciara os estudos naquela faculdade. Enfim, escolhera seu caminho e sua vida prosseguia, plena de sonhos, de projetos, como era do seu feitio. Sobre o namoro disse que tudo ia bem. Costumava passar os finais de semana na casa do Décio, no Brooklin e que Dona Marialva mais o “Seu” Juarez, seus sogros, a tratavam como se fosse filha, o que nos deixou mais tranqüilos.

O tempo passou, a vida correu, às vezes ela nos visitava, sozinha ou com o Décio e eu, numa ocasião, fui até lá visitá-la e conhecer de perto como estava se saindo na paulicéia. Gostei do que vi. Mais tarde ela trocou de emprego, foi trabalhar na THOMSON, uma multinacional francesa e as coisas sempre melhorando. O Décio fazia faculdade e era estagiário lá, conseguindo-lhe a oportunidade de se candidatar à vaga. Ficaria bem próximo da sua amada. E o relacionamento foi ficando cada vez mais firme. Daí a pouco noivaram, Ana Claudia se formou e alguns anos depois se casaram em Belo Horizonte, aos 08/10/1993, na Igreja de Santo Afonso da Renascença, paróquia onde eu e sua mãe também nos casamos e onde todos os nossos filhos foram batizados.

Seu casamento com o Décio ensejou uma linda festa, culminando com um baita churrasco no Umuarama Clube, na região da Pampulha, e um baile animado por um conjunto musical. A família do Décio veio toda de São Paulo e adorou tudo o que viu. Conheceu a união e a alegria que imperavam nas nossas famílias e se identificaram perfeitamente com o nosso estilo de vida.

E a nossa princesinha partiu com seu amado pra Sampa e de lá para Cabo Frio, no Rio, agora em lua de mel, começando um novo capítulo nas suas vidas.

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Aos 30/10/1994 nascia Isabela, sua primeira filha, nossa querida netinha, morena de olhos castanhos, negros cabelos ondulados, sobrancelhas espessas, pele de pêssego, uma lindeza de menina, um amor de criatura! Sua chegada deixou-nos a todos maravilhados, mormente os seus pais. E ela reinou serena até a vinda do seu primeiro irmãozinho, o Victor, aos 16/06/1996, um robusto garoto claro, de olhos verdes e cabelos loiros, que passou a dividir com ela as atenções dos pais, avós, tios e tantos outros familiares. Alguns anos se passaram, até que chegou o outro irmão, o Guilherme, o caçulinha, em 08/08/2000, moreno lindo, a cara da mamãe Ana Claudia, completando a trinca familiar no ramo Martins Macedo. Esse último filhote enfrentou uma batalha, juntamente com sua mamãe, que teve a placenta deslocada e passou por maus momentos no Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí. Mas ambos superaram tudo com sua coragem, sua garra, sua fé e a força das nossas orações.

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E hoje, plenamente realizada como mulher, mãe e esposa dedicada, Ana Claudia, a nossa “princesa”, conquistou a materialização de mais um dos seus sonhos:- tornar-se escritora! Assim é que, em Jundiaí, cercada pelo carinho dos familiares e incentivo do marido e de amigos, como Marcio Martelli, integrou-se num grupo de intelectuais daquela simpática cidade, conduzida pelas mãos generosas de Dona Ida Lehner de Almeida Ramos e lançou, aos 11/05/2008, pela Editora in House, seu primeiro livro de contos, “SARGAÇO”. Parabéns, Ana Claudia, filha adorada! Sua estrada é iluminada, seu futuro é brilhante! A vida ainda lhe reservará, no porvir, muitas alegrias como as tantas que você vem experimentando nesses anos. Tenha a mais absoluta certeza disso!

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P.S. = Dedicado ao “Casal 20”, Décio e Ana Claudia.

B.Hte., 13/07/2008

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 20/02/2010
Código do texto: T2098435
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