A Faquinha do Cabo Vermelho
Quando ainda era criança, encontrei uma pequena faca com cabo de plástico liso e brilhoso na cor vermelha e naquela ocasião estava brincando com meus primos no quintal da casa de minha avó materna e no meio da brincadeira coloquei a pequena faca em minha boca, nisso fiquei com a voz diferente meio que falhando ao falar e minha avó que era cega, mas escutava muito bem percebeu que tinha algo diferente com minha voz e perguntou:
-Neto, o que você tem na boca?
-É uma faquinha mãezinha.
-Que faquinha é esta?
-Eu achei no quintal, é bem pequena e não corta.
-Me dê essa faca, tira da boca você pode engolir.
-Toma mãezinha, mas é minha!
-Deixe comigo, vou guardar e quando você for maior eu te devolvo.
-Mas não vai dar pra ninguém ta mãezinha!
-Não vou dar pra ninguém, Sei que é sua e quando você crescer mais eu devolvo.
Esta foi a conversa que tive com minha avó materna e que todos seus netos exceto os filhos do Geraldo Donato a chamavam carinhosamente de “Mãezinha” nesta época eu estava com 9 anos de idade. Ela guardou a tal faquinha por mais de 10 anos e hoje 36 anos depois deste episódio ainda guardo com carinho a tal faquinha e me lembro dos bons conselhos de minha querida avó.
Durante o tempo em que a faquinha ficou sob seus cuidados ela a guardava em uma lata daquelas de biscoito importado que hoje se encontra em tudo quanto é supermercado, só que naquele tempo essas latas eram coisa rara, mas ela tinha uma onde guardava suas pequenas lembranças e varias fotos de familiares. Então todas as vezes que estávamos de férias na casa dela no interior do Estado de Goiás, mais precisamente em Gurupi, nós pegávamos esta lata e íamos olhar as fotos. Num belo dia, depois de 10 anos do ocorrido fui olhar as fotos na lata e encontrei lá a minha faquinha, que confesso já havia até me esquecido dela, então chamei por minha avó e perguntei:
-Mãezinha esta não é minha faquinha?
-É meu filho! Agora você já pode levar ela e guardar como você queria.
-Muito obrigado mãezinha, a senhora cuidou mesmo dela.
-Neto, tu sabia que teus primos viam ela ai e sempre pediam,? Mas eu sempre disse que não eram para mexer pois ela era sua e eu tinha prometido devolver quando voce fosse maior.
-Mais uma vez só posso é lhe agradecer, pois sei que se tivesse levado ela naquela época, hoje eu não a teria mais comigo.
-Então você leva e guarde, ai quando você já for mais velho vai se lembrar da historia da faquinha de cabo vermelho.
Hoje estou com 45 anos e me lembro desta história como se ela tivesse acontecido apenas a alguns dias atrás, lembro-me de minha avó e até me corre uma lagrima do rosto, pois ela foi um grande exemplo de vida, uma pessoa que ficou viúva ainda cedo e para piorar sua situação ela ainda era cega e tinha um grave problema de estomago que não a permitia comer quase nada, não podia tomar café, sucos de frutas cítricas nem mesmo carne ou feijão ela podia comer, então ela teve que se adaptar a suas condições de vida e viveu muito tempo ainda, era de uma lucidez impressionante, religiosa e muito bem humorada, quando veio a falecer estava rodeada por amigos e parentes entre filhos genros e noras e netos, ela simplesmente “partiu” calma e silenciosamente, nos deixou no dia 16 de agosto de 1994, viveu por 85 anos.
Hoje posso afirmar e escrever com todas as letras, aquela mulher foi uma mãe exemplar, que soube criar seus filhos e dar a cada um seu carinho e dedicação assim como cada um merecia, os netos todos puderam conhecer o tipo de pessoa que era dona Luiza Sousa Vida “Luizinha” era assim carinhosamente chamada pelos amigos e beatas da igreja que freqüentava aos domingos durante quase toda sua vida, quando não tinha saúde para ir à missa o padre lhe trazia a hóstia em casa e lhe abençoava.
Lembro-me que no tempo que se aproximava da sua partida ela ficou cercada pelos amigos e parentes que fizeram vigília durante vários dias, então num destes dias ela disse aos que estavam no quarto com ela que voltaria a enxergar antes de morrer e ao que tudo indica voltou mesmo, pois meu tio Antonio na época estava também adoentado e se ausentou do quarto por alguns instantes e nisso minha avó disse: por que o Antonio não está aqui no quarto?, cadê ele? Então deu seu ultimo suspiro e partiu.
Acreditamos que ela tenha voltado a ver, só que infelizmente ela não viu por muito tempo, pois logo foi chamada para o PAI, onde hoje está com certeza.
Que Deus em sua infinita sabedoria a guarde por muito tempo e que possamos um dia estar juntos novamente com todos nossos amigos, irmãos, pais, filhos e ELE.
Obs* a faquinha é esta da foto acima, é do tamanho de uma moeda de 1 real.
Autor: Bertoldo Noleto
Macapá 14 de janeiro de 2010.
-Neto, o que você tem na boca?
-É uma faquinha mãezinha.
-Que faquinha é esta?
-Eu achei no quintal, é bem pequena e não corta.
-Me dê essa faca, tira da boca você pode engolir.
-Toma mãezinha, mas é minha!
-Deixe comigo, vou guardar e quando você for maior eu te devolvo.
-Mas não vai dar pra ninguém ta mãezinha!
-Não vou dar pra ninguém, Sei que é sua e quando você crescer mais eu devolvo.
Esta foi a conversa que tive com minha avó materna e que todos seus netos exceto os filhos do Geraldo Donato a chamavam carinhosamente de “Mãezinha” nesta época eu estava com 9 anos de idade. Ela guardou a tal faquinha por mais de 10 anos e hoje 36 anos depois deste episódio ainda guardo com carinho a tal faquinha e me lembro dos bons conselhos de minha querida avó.
Durante o tempo em que a faquinha ficou sob seus cuidados ela a guardava em uma lata daquelas de biscoito importado que hoje se encontra em tudo quanto é supermercado, só que naquele tempo essas latas eram coisa rara, mas ela tinha uma onde guardava suas pequenas lembranças e varias fotos de familiares. Então todas as vezes que estávamos de férias na casa dela no interior do Estado de Goiás, mais precisamente em Gurupi, nós pegávamos esta lata e íamos olhar as fotos. Num belo dia, depois de 10 anos do ocorrido fui olhar as fotos na lata e encontrei lá a minha faquinha, que confesso já havia até me esquecido dela, então chamei por minha avó e perguntei:
-Mãezinha esta não é minha faquinha?
-É meu filho! Agora você já pode levar ela e guardar como você queria.
-Muito obrigado mãezinha, a senhora cuidou mesmo dela.
-Neto, tu sabia que teus primos viam ela ai e sempre pediam,? Mas eu sempre disse que não eram para mexer pois ela era sua e eu tinha prometido devolver quando voce fosse maior.
-Mais uma vez só posso é lhe agradecer, pois sei que se tivesse levado ela naquela época, hoje eu não a teria mais comigo.
-Então você leva e guarde, ai quando você já for mais velho vai se lembrar da historia da faquinha de cabo vermelho.
Hoje estou com 45 anos e me lembro desta história como se ela tivesse acontecido apenas a alguns dias atrás, lembro-me de minha avó e até me corre uma lagrima do rosto, pois ela foi um grande exemplo de vida, uma pessoa que ficou viúva ainda cedo e para piorar sua situação ela ainda era cega e tinha um grave problema de estomago que não a permitia comer quase nada, não podia tomar café, sucos de frutas cítricas nem mesmo carne ou feijão ela podia comer, então ela teve que se adaptar a suas condições de vida e viveu muito tempo ainda, era de uma lucidez impressionante, religiosa e muito bem humorada, quando veio a falecer estava rodeada por amigos e parentes entre filhos genros e noras e netos, ela simplesmente “partiu” calma e silenciosamente, nos deixou no dia 16 de agosto de 1994, viveu por 85 anos.
Hoje posso afirmar e escrever com todas as letras, aquela mulher foi uma mãe exemplar, que soube criar seus filhos e dar a cada um seu carinho e dedicação assim como cada um merecia, os netos todos puderam conhecer o tipo de pessoa que era dona Luiza Sousa Vida “Luizinha” era assim carinhosamente chamada pelos amigos e beatas da igreja que freqüentava aos domingos durante quase toda sua vida, quando não tinha saúde para ir à missa o padre lhe trazia a hóstia em casa e lhe abençoava.
Lembro-me que no tempo que se aproximava da sua partida ela ficou cercada pelos amigos e parentes que fizeram vigília durante vários dias, então num destes dias ela disse aos que estavam no quarto com ela que voltaria a enxergar antes de morrer e ao que tudo indica voltou mesmo, pois meu tio Antonio na época estava também adoentado e se ausentou do quarto por alguns instantes e nisso minha avó disse: por que o Antonio não está aqui no quarto?, cadê ele? Então deu seu ultimo suspiro e partiu.
Acreditamos que ela tenha voltado a ver, só que infelizmente ela não viu por muito tempo, pois logo foi chamada para o PAI, onde hoje está com certeza.
Que Deus em sua infinita sabedoria a guarde por muito tempo e que possamos um dia estar juntos novamente com todos nossos amigos, irmãos, pais, filhos e ELE.
Obs* a faquinha é esta da foto acima, é do tamanho de uma moeda de 1 real.
Autor: Bertoldo Noleto
Macapá 14 de janeiro de 2010.