Homenagem a um amigo falecido.
Hoje eu perdi um amigo, futuramente ele seria um dos meus entrevistados. Este meu amigo foi o advogado que fez o meu divórcio, ele era também amigo da família, frequentava minha casa, nós a dele e juntos frequentamos festas de amigos em comum.
Meu amigo contraiu um câncer nos rins. Nós seres humanos sabemos da gravidade da doença, mas preferimos acreditar que haja cura e ainda mais no caso dele, que ao conversarmos ele
manifestava o desejo de viver. Eu acreditei na sua auto cura.
O que sinto hoje, creio ser uma coisa que muitas pessoas também podem sentir – eu não tive tempo de dizer a ele que ele era uma pessoa legal, que eu gostava dele entre outras coisas mais. Fui no Brasil duas vezes e ele já estava com o câncer, mas para mim ele era eterno, não fui ao seu encontro, não telefonei e não foi só para ele, não fui atrás de muitos amigos, de parentes que eu penso que irão morrer depois de mim. Será?
Porque fazemos deste mundo, um mundo cruel? Eu perdi a oportunidade de darmos risadas juntos mais uma vez, porque quando nos encontravamos ríamos muito, planejavamos... planejavamos fazer comida juntos. Isso mesmo um novo encontro com ele cozinhando, ele morreu sem preparar o peixe que ele iria fazer para nós na casa da minha filha, ele morreu sem a gente se encontrar no pinguim para eu conhecer a sua nova esposa e ele conhecer meu companheiro.
A gente não devia morrer sem antes encontar todos os amigos, todos os parentes, toda família, sem cumprir nossas promessas.
Meu amigo morreu e eu tenho certeza que, assim como os nossos amigos em comum se afastaram de mim por um divórcio, os mesmos devem ter afastado dele pela sua doença. Porque as coisas tem que ser assim? Na última vez que conversamos, ele me disse ter o apóio da irmã e da atual esposa que o ajudou muito, os filhos estavam ocupados com a própria vida.
Perdemos noites de sono por causa de nossos filhos, por causa de um simples resfriado ou febre, mas estes mesmos filhos estão ocupados com a própria vida, até mesmo num câncer.
Tantas pessoas querem viver e outras com saúde perfeita, colocam um fim em suas vidas. Morte/vida, silêncio/falar, amar/odiar, sentir...enterrar...
A vida é contraditória.
Ontem sepultei uma falsa amiga, a mesma já vem aprontando comigo há um bom tempo e eu sempre perdoando e ontem por uma motivo quase banal, ela entornou o meu copo. Ela está neste exato momento no Brasil. Fui convidada por ela para ir em sua casa tomar um café antes dela viajar. Eu fui no horário combinado, cheguei na hora certa e ela não abriu a porta, eu escutei o filho dela dentro de casa, enfiei o rabo no meio das pernas e vim embora comendo neve, cheguei em casa ela no msn e não falou nada e nem eu, ela nem ligou para dizer que não podia me receber. Eu entendo que uma viagem traz transtornos, mas liga, isso é falta de respeito. Pelo sim e pelo não eu a deletei do meu msn, do meu orkut da minha vida.
Eu apenas a quero longe de mim, mas o meu amigo apesar da geografia a gente pensava igual, a gente ria das mesmas coisas e até pensava que a gente tinha uma vida igual, ele falava bonito, tinha uma voz bonita...
Meu amigo, esteja bem onde você estiver, eu sei que Deus neste momento te ampara.
Porque você não esperou pelo nosso encontro no Pinguim? Quando eu te encontrar ai do outro lado será que a gente pode preparar o peixe tantas vezes prometido? Será que no céu tem pão de mel?
Gisa
Suécia, 02 de fevereiro de 2010.