A VOZ (para Romilda, que foi minha aluna)

E não viste meu corpo nem meu rosto, mas, me reconheceste pela voz, perto de 25 anos depois. Eu me lembro, não do teu nome nem do teu rosto, há quase 25 anos aquela adolescente de 15 anos, hoje esta bela mulher. Disseste:"Zuleika"... e eu me voltei e continuaste: "Você não pode se lembrar de mim, fui sua aluna há quase 25 anos, nem do meu nome você se deve lembrar." E disseste teu nome e do teu nome eu me lembrei e, junto com teu nome, me lembrei de mim, de um tempo ainda de plena inocência. Eu, jovem professora a começar um caminho que se fez ao longo de flores e de muitos espinhos.

Romilda, a ti, que me reconheceste apenas pela voz, quase duas décadas e meia depois, ofereço este momento de alguma paz e de muita, muita gratidão.

Eu me lembro, eu me lembro. Paraninfa dos alunos da 8ª série, todos os anos - para minha alegria e orgulho - a cada ano eu e eles, meus alunos, cantávamos juntos Canção da América, do Milton Nascimento, para nos despedir e para nos saudar.

O tempo é outro, Romilda, e há muita Violência no ar, nas ruas, no mundo, nas escolas... Obrigada por, de repente, estarmos juntas no mesmo espaço e relembrarmos juntas um tempo de inocência plena na tua menina de 15 anos e um tempo de inocência ainda na jovem professora que brincava de teatro, que brincava de cantar com seus meninos.

Zuleika dos Reis, em 5 de fevereiro de 2010.