SAUDADES DE EDÉCIO LOPES!
Neste 21 de janeiro de 2010 completou um ano da morte do grande radialista, comunicador e entusiasta da música brasileira, Edécio Lopes de Vasconcelos, o nosso querido Edécio!
Eu poderia aqui, desenrolar um rosário com um punhado de adjetivos para enaltecer a pessoa de Edécio Lopes, mas isso é absolutamente desnecessário! Quem conheceu e conviveu com ele sabe da sua capacidade profissional e do imenso coração que carregava no peito.
Desde a sua morte venho alimentando a idéia de escrever algo sobre o Edécio. Muitos já o fizeram, e com mais propriedade que eu. Seus amigos mais próximos; seus familiares; e por isso eu fui adiando, adiando, até que agora, resolvi por no papel uma singela homenagem em forma de agradecimento a esse baluarte da cultura alagoana.
Falarei sobre o que Edécio representou para mim e para algumas pessoas da minha família, bem como para aqueles que participaram ou participam do nosso bloco carnavalesco, o “Comendador Leguelé”.
Iniciarei contando em breve relato como conheci Edécio Lopes: Um tio meu já falecido, Hélio Lins, morava em Salvador-BA e tinha uma firma de representações de produtos farmacêuticos, e devido ao seu ofício representando os grandes laboratórios do Brasil, viajava pelo norte e nordeste do nosso país fazendo contratos comerciais com redes de farmácias e contratos de propagandas nas grandes rádios dessas regiões. Numa dessas visitas às rádios, tio Hélio conheceu Edécio e cultivou uma amizade que perdurou por toda sua vida.
Em uma visita a Salvador, Edécio foi à residência de meus tios Hélio e Oriêta, e o tio Hélio, conhecendo a emotividade do Edécio e o seu amor por Alagoas, fez tocar um vinil em sua "eletrola" reproduzindo "Saudades de Maceió" (acho que é esse o título da música). Não deu outra! Edécio desatou a chorar!
Outros dois tios meus foram proprietários de uma sauna chamada Termas Augusta, localizada na antiga Rua Augusta, no centro de Maceió. Primeiro a sauna pertenceu ao meu tio Carlos Cordeiro, que posteriormente a transferiu para meu tio Francisco Cordeiro, o Chico da Sauna.
Todas as vezes que meu tio Hélio vinha à Maceió, visitava Edécio na rádio e combinavam tomar uma sauna e colocar o papo em dia. Tio Hélio também era aficionado por música e rádio.
Foi numa dessas idas às Termas Augusta que conheci Edécio Lopes. Eu era um rapazote à época, e fiquei fascinado por conhecer o grande ícone do Rádio Alagoano, o dono daquela voz que eu ouvia todos os dias no rádio do carro do meu pai, José Edson Cordeiro Lins, no trajeto da nossa casa para o colégio onde eu estudava. Era o programa Manhãs Brasileiras, que eu ouvi por muitos anos da minha vida.
O tempo passou, meu tio Hélio faleceu, eu cresci e continuei ouvindo Edécio Lopes, primeiro na rádio AM, e ultimamente na FM.
Além das entrevistas e dos diversos tipos de música que Edécio apresentava em seu programa, eu adorava quando chegava a época de carnaval, pois, ele passava um mês colocando marchinhas, sambas enredo e muito frevo em sua programação.
No ano de 2000 aconteceu um grande movimento de resgate das origens do nosso carnaval, que até então estava dominado e sufocado pelo axé music, ritmo importado da Bahia.
O frevo ressurgia com toda força! Edécio foi o grande incentivador desse movimento que se concretizou com a criação do evento cultural chamado “Jaraguá Folia”, e com a fundação do bloco carnavalesco “Pinto da Madrugada”.
No ano de 2001, eu, junto com familiares e amigos criei o Bloco Comendador Leguelé, e foi a partir de então que estreitei os laços de amizade com Edécio Lopes.
Levado por meu amigo Ricardo Farias, que também gostava de rádio e conhecia o Edécio, fui pela primeira vez ao seu programa na Rádio Educativa FM para divulgar e contar a história da fundação do bloco. Cheguei muito nervoso, pois nunca houvera enfrentado um microfone de rádio, muito menos diante daquela figura mítica! Porém, com toda a sua experiência, o grande radialista conseguiu me deixar à vontade e fez com que aquele momento de tensão para mim, se transformasse num bate papo descontraído e alegre.
Edécio era muito brincalhão e durante as entrevistas, fazia trocadilhos engraçados e inteligentes que relaxavam o entrevistado e divertiam o ouvinte.
Depois daquela primeira entrevista perdi a vergonha, e por muitos anos, dias antes do Jaraguá Folia, lá estava eu no programa do Edécio, divulgando o bloco e recontando pela enésima vez a história da fundação do Comendador Leguelé!
Em 2007, que foi o último ano em que tive este contato mais estreito com o Edécio na FM Educativa, um fato marcou aquele encontro: durante a entrevista, onde ele entrevistava a mim e a um outro folião, diretor de um bloco de paripueira, folião esse que também era compositor de frevos, Edécio colocou para tocar o CD com o frevo do bloco de paripueira, e ao ouvi-lo se emocionou e foi às lágrimas! É que a letra do frevo falava de amizade, companheirismo, parodiando Mílton Nascimento, dizendo que “amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito, dentro do coração”!
Passados alguns minutos ele se refez, elogiou muito a letra do frevo de autoria do colega, e, fora do ar, nos confidenciou que estava sofrendo uma pressão muito grande, pois, estavam querendo tirar o seu programa da Educativa FM e levá-lo para a Radio Difusora AM.
Não que ele renegasse a sua origem, pois, a rádio AM foi sua casa por quase toda sua vida, mas é que ele havia conquistado um espaço mais seleto, patrocinadores fiéis, uma audiência indiscutível, e não achava justo que depois de tantos anos de trabalho árduo quisessem tirar dele o doce conquistado!
Edécio era um PATRIMÔNIO do Rádio Alagoano e deveria ter sido preservado!
Sabemos que havia um problema burocrático em relação ao concurso do IZP (Instituto Zumbi dos Palmares), o qual ele não tinha mais nem idade para prestar e nem precisava, dada a sua comprovada capacidade profissional, mas, se ele pôde ficar na Difusora poderia ter ficado na Educativa.
Edécio estava sofrendo muito com isso!
Em 2008, ele já transferido para a Difusora, eu não pude comparecer ao seu programa para fazer a já tradicional divulgação do bloco. O meu horário de trabalho havia mudado e infelizmente não fui ao programa, porém, como acontecia em todos os anos de desfile do bloco, ao final do percurso, já depois da Associação Comercial na Sá e Albuquerque, eis que vem em minha direção aquela figura ímpar e me fala: “Você não foi lá esse ano, mas eu estou aqui, prestigiando vocês!”. Deu-me parabéns pelo bloco, e um abraço, que seria o de despedida, pois, nunca mais teríamos aquele grande ídolo a prestigiar os nossos desfiles!
Ele era assim! Um profissional competentíssimo; um amigo fiel; um homem sensível capaz de ir às lágrimas ao ouvir uma melodia; um guerreiro; um vitorioso!
Escreveu com tinta dourada o seu nome na história de Alagoas!
Que Deus ilumine sempre seus passos, amigo Edécio. E que nas rádios do Plano Celestial, seja reservado um grande espaço para que você possa apresentar o seu “Manhãs Brasileiras”!