"AS LEMBRANÇAS QUE A CHUVA TRAZ"
Já tomei muito banho de chuva...mas faz tempo!!
O barulho que ouço daqui, anuncia que, logo ali fora, a chuva cai...e cai pesada...forte.
É um barulho que envolve, com certa nostalgia, este lugar, este momento.
E eu viajo de encontro a uma meninice distante, das peladas no campo de terra batida, transformado em lamaçal por tanta chuva caída.
Tantas lembranças que se convergem... O campo, hoje extinto, deu lugar à ampliação do cemitério, que sepultou a brincadeira dos meninos.
Vizinho ao campo e, depois, ao cemitério, havia uma escola onde estudei o “Colegial”.
“Loureiro Junior”...esse era e é o nome da escola, hoje degradada como tantas nesta cidade sem educação.
Estudei ali à noite, usando, como uniforme, um avental branco, impecavelmente lavado e passado por mamãe.
Muitos colegas cortavam caminho por dentro do cemitério para chegar ao colégio.
Eu não!! Tinha medo!! De dia, entrava e saía dalí sem problemas ou temores. Mas, à noite, não...nem pensar.
Depois, a gente cresce, amadurece e aprende que devemos ter medo é dos vivos.
Lembro que íamos ao cemitério para juntar os restos das velas queimadas em homenagem a tantos que se foram, e trazíamos para casa para fazer a tocha dos balões que soltávamos nas festas juninas. O “soltar balão” era uma coisa inocente. Não havia a consciência do perigo que hoje existe e é corretamente alardeado. Fazer e soltar balão eram uma festa. Demandava muito tempo e atenção, assim como fazer as pipas (sem cerol) e "barracas" ou "quadrados", que tantos panos, trapos ou não, consumiram de nossas mães.
O campo...o cemitério...o colégio...os colegas...os amigos...os balões e as pipas, e a juventude sendo vivida sem tantas incertezas como as que hoje observo.
O “Loureiro” ficou marcado em minha vida por si só e pelas peripécias do caminho que me levava até lá.
Mal sabia eu que, alguns anos mais tarde, uma menina por ali também passaria, talvez circulando nos mesmos espaços, pisando o mesmo chão para, mais tarde ainda, vir a tornar-se uma linda mulher que marcaria minha vida para sempre.
Caminhos cruzados, em tempos distintos em demasia e que fazem, hoje, toda a diferença em nossa história, mas que não muda o essencial surgido espontaneamente, verdadeiro que sempre foi...e é.
À você, menina...mulher... eu dedico essas lembranças...e a vontade de, um dia, ainda poder compartilhar um banho de chuva contigo...