RETROSPECTIVA
“No 44o. aniversário da TELEMIG, o presidente Saulo Coelho e a diretoria têm o prazer de convidá-lo para a abertura da mostra retrospectiva do artista RODELNÉGIO”, dizia o belo convite, cuja face ostentava reprodução de um quadro dele, “Oferenda à Iemanjá”, obra de 1980.
“Seu” Nèginho, como é chamado na intimidade, o meu famoso sogro, marido da Dona Geralda (a Tia Gê), homem simples, de gestos e hábitos mansos, um diplomata, como sempre digo.
Capixaba de nascimento (Alegre/ES), ele saiu pelo mundo afora acompanhando o Parque de Diversões do seu tio Agnelo, jovem ainda, recém saído do Exército, onde servira na cidade do Rio de Janeiro.
O parque e sua “troupe” viajava pelo interior do Brasil. Estacionava numa cidade, divertia o povo do lugar em breve temporada, faturava um dinheiro e seguia adiante na sua sina.
O Néginho foi tomando gosto pela aventura. Em Ituiutaba, Minas, tomou-se de amores pela Geralda, uma das bonitas filhas do “Seu” Banico e da Dona Maria, casando-se.
Prosseguiu viagem, os filhos foram nascendo e, finalmente, em Belo Horizonte ele construiu casa e decidiu permanecer, cessando a vida de beduíno. Aos 50 anos, tinha como passa-tempo a pintura. Autodidata, desenhava cenas do cotidiano em pequenas placas de eucatex e, após sua pintura em cores vibrantes, dependurava os quadrinhos nas barracas do seu parque de diversões.
Foi numa noite fria de inverno que a MaryStella Tristão, crítica de arte respeitada nas Alterosas, visitou o seu parque e tomou conhecimento do seu mundo encantado, representado nas telas da barraquinha de “Tiro ao Alvo”.
Faro fino, a caçadora de talentos tornou-se admiradora e amiga, levando-o a frequentar o seu universo de artistas, onde o Nèginho conheceu celebridades como o Mestre Guignard, Herculano, Paulo Pottier, Wilde Lacerda, Zé Luiz e muitos outros pintores famosos, com os quais passou a conviver.
Foi vendo e ouvindo, aprimorou sua técnica, aprendeu mais, expôs em São Paulo (Galeria Capela), já como “Primitivista”, depois em Brasília, ganhou prêmios importantes como o da Prefeitura de Montes Claros/MG (Saga do São Francisco), teve quadros adquiridos pela Embaixada da França e remetidos a Paris, para exposição permanente e, finalmente, temo-lo aqui e agora, depois de 31 anos de carreira, realizando a sua retrospectiva!
E assim, na noite gelada de 09/06/1997, cercado pelo carinho da grande família que reunia a esposa, filhos, noras, genros, netos e bisnetos, o “Seu” Nèginho recebia orgulhoso os amigos e admiradores para a sua mostra.
Feliz da vida, nas nuvens (eu diria que ele levitava), o meu sogro se realiza artisticamente, para sua felicidade pessoal e a nossa grande alegria.
Parabéns, estimado “Sogrão”, e continue criando! O país necessita de pessoas como o senhor, gente de sensibilidade e coração, para que o mundo se torne melhor a cada dia! ...
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B.Hte., 10/06/97