ISAIAS, O BOM CASTOR
Sou homem de poucos amigos, apesar de ter andado bastante por este mundo de meu Deus (ou talvez até porisso mesmo).
Amigos, na mais sublime semântica do vocábulo (como diria o poeta), tenho poucos, mas verdadeiros. Aliás, a recíproca é verdadeira.
Na Belém do Pará ficou o Rubão e seu apetite descomunal, capaz de enfrentar sozinho duas feijoadas completas. No Recife, ficaram o Chico Chicão com sua risada contagiante, sua noiva Solange, o Zezinho da Reny, calmo e paciente como Jó, o compadre Geraldão e a Nisiane, um alagoano de boa cepa, pescador inveterado e adepto do “camping selvagem” e o João Dias mais a Jane, um gigante louro com coração de menino.
Pernambuco marcou minha vida. Foram oito anos de completa felicidade, de alegria juvenil, de sol e mar, de praias, praias e mais praias. Boa Viagem, Piedade, Candeias, Barra de Jangada, Porto Xaréu, Gaibú , Olinda, Tamandaré e a inesquecível Porto de Galinhas!...
Belo Horizonte não conta, pois é onde fui criado, onde me casei, etc. e tal. Mas tem o Mario Bigode, um sujeito fora de série, que com uma idéia na cabeça e a máquina de escrever pela frente vai longe, longe, muito além de São Vicente do Baldim ... E tem ainda o Zé Silvério, gentaço, magnífico cozinheiro, proseador emérito, grande figura! Tinha o Miguelzinho, da Olga, que infelizmente partiu mais cedo para o plano superior.
Em Anápolis, Goiás, deixei o Aristides, a Lucia , o folclórico Zé Buzina e sua Noêmia, a mulher que ele roubou do circo, fazendo-a trocar a insegurança do trapézio pela tranqüilidade de um lar, doce lar! Quanta galinhada, acompanhada duma boa cachaça e do som da sua viola nós fizemos acontecer, no aconchego da sua chácara, um belo recanto nos arredores da cidade caipira. Bons momentos! Valeu, Zé!...
Na gostosa Fortaleza ficou o Waldemar, gerente de banco, corinthiano doente, gozador, um cara muito bacana. Recebia-nos muito bem, no seu sítio ao pé da serra.
Em Porto Alegre, o Diogo, gaúcho de quatro costados, preservador dos valores e costumes da boa gente do sul, cheio de tradição, caçador, churrasqueiro dos bons e hábil violonista. Recordo-me com saudade dos churrascos que ele organizava, sempre com um bom vinho, viola e cantoria.
Mas foi em São Paulo que ficaram alguns dos meus melhores amigos, entre eles o Arnaldo Patrão em Sorocaba (o Tio Patinhas), ex-diretor de banco e hoje empresário, o Isaías Castor, meu amigo e compadre de longa data, desde os meus primeiros tempos de recém casado na Paulicéia desvairada, quando então nos conhecemos, sua mulher Norma, o Sergio e a Vera, o Oswaldo e a Rosina, ele mineiro, ela uma italiana da Calábria.
Amizades que resistem ao tempo e às distâncias, pois sempre nos falamos ou nos escrevemos ao longo desses mais de vinte e sete anos de conhecimento.
O Castor, mineiro de Ponte Nova, um rábula, tranqüilo e educado, apreciador de um bom aperitivo e de uma boa prosa, palmeirense como eu (sem ser fanático), viciado num jogo de palitinho (a famosa “porrinha”), conversava comigo e me deixava impressionado com a sua classe e categoria.
Não me esquecerei jamais do dia em que, no “Iate Lanches”, a gente tomando o sagrado chopinho domingueiro, ele se vira, engasgado, e me convida pra batizar a sua filha que estava por nascer, a Juliana de hoje.
Emocionado, ele chorou copiosamente e me fez chorar encabulado também, os dois marmanjos no bar, bebendo e chorando, vejam só! Grande Isaías, o bom Castor!...
Porisso, rendo-lhe homenagem nesta crônica (bem como aos outros amigos), meu compadrão velho de guerra. Que Deus lhe dê muita saúde e o conserve por muitos anos, para gáudio da sua família e dos amigos, eu lhe desejo de coração meu amigo Isaías, “gentaço”, como diria o Miguelzinho da Olga, outro boa praça de Belo Horizonte e também gente da melhor qualidade !...
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B.Hte., 28/09/90