NOITE DE AUTÓGRAFOS

“Paixões Alegres”, é o nome do romance de autoria do meu primo-irmão José Antonio de Souza, lançado ontem em Belô, no “Café São Jorge”, na Savassi, assistido por amigos, conterrâneos da sua querida Januária (terra do meu pai, Constantino Rêgo), ex-colegas de teatro da UFMG, jornalistas e admiradores.

Eu não via o meu primo famoso (dramaturgo, roteirista de televisão morando em São Paulo) há mais de dez anos, de forma que a saudade era grande. Muito grande.

Lembro-me bem quando, garoto ainda (13, 14 anos), travei conhecimento com os parentes daquela grande família, Tio José Olimpio, Tia Carmina e seus filhos Toinho (já falecido), Gervásio, Benito Juarez, Raimundo, Joselice, Zé Antonio e Suely, procedentes de Januária, de muda para a capital mineira, indo morar no Bairro do Carlos Prates.

Januária eu conhecia das muitas histórias contadas por meu pai, apenas (e, confesso, ainda não conheço até hoje, lamentavelmente). Meu saudoso pai e os “causos” da amada terrinha, o vapor (Zé Antonio começa o seu livro assim, evocando o apito do vapor), das barrancas do São Francisco. Nas noites de chuva, de relâmpagos assustadores e de trovões ribombando lá fora, corríamos pra cama dos velhos, a numerosa prole, e ouvíamos as histórias da sua meninice vivida em Januária, à beira do rio, do velho Chico.

Aí sim, Seu Constantino esticava o papo, passava à fase da sua pré-adolescência, ao seu internato no “Instituto João Pinheiro”, na Gameleira, em Belo Horizonte, trazido pelo seu tio José Augusto, enquanto suas irmãs permaneciam em Januária na companhia da Vó Iaiá e se aprimorando nas lides domésticas.

No “João Pinheiro” ele aprendeu música, tocou clarineta e saxofone na bandinha do educandário, jogou futebol e revelou, de modo incipiente, as suas virtudes nessas artes.

Saiu aos dezoito anos, retornou a Januária, de lá foi pra Pirapora, onde trabalhou na alfaiataria do tio José Augusto, aprendendo o ofício, até ser descoberto pelo Dr. Guilherme Mascarenhas, que o viu jogando no time piraporense em São Vicente, sendo então levado para a minha terra, o Cedro querido (hoje Caetanópolis), onde tocaria clarineta na famosa banda local, a Euterpe Santa Luzia, e trabalharia na Cia. Cedro e Cachoeira, a mais que centenária fábrica de tecidos do lugar, pioneira da indústria têxtil no estado e no país, e ainda jogaria futebol no time principal da fábrica, o Cedro Esporte Clube.

Moço forte, bonito, foi cobiçado pelas moças donzelas do Cedro, enamorando-se da morena Flaviana, que cantava no coro da igreja onde ele também tocava sua clarineta nas missas domingueiras, rezadas pelo temido Padre Chaves.

Daí se casaram, eu vim primeiro, seguido de mais nove filhos (Aécio Flavio, Rubinho, Silvinho, Maria Inês, Toninho – este já falecido, José Afonso, Marilene, Mariza e Tininho) sendo que somente eu e depois o Silvinho (anos depois) nascemos no Cedro. Os demais, todos em Belo Horizonte, para onde meus pais se mudaram dois anos após seu casamento.

Mas, como eu ia dizendo, o meu velho sempre falava com um afeto todo especial da sua Januária distante e querida, do São Francisco, tal como você agora no seu livro, primo Zé Antonio! Falava e nos cativava a todos.

Aí vocês chegaram à capital mineira, primo Zé Antonio, e um pedaço da famosa Januária veio ao nosso encontro com os seus familiares.

Juntaram-se as habilidades das duas grandes famílias, também na música e nos esportes e, a cada encontro nosso, no Carlos Prates ou na Renascença, era uma baita festa.

Sem falar nas peraltices e nas traquinadas que aprontávamos juntos. Espero que, como você prometeu, no seu próximo livro essa fase de saudosa memória mereça um tratamento especial.

Porisso, hei de ler com bastante carinho o seu “Paixões Alegres”, na certeza de, através a sua brilhante narrativa, resgatar também o passado de menino do meu pai nas barrancas do São Francisco, que foi igualmente o seu passado de criança viva, esperta e inteligente, Zé Antonio.

Aceite, pois, os meus cumprimentos e os da minha família (irmãos, esposa, filhos e netos, aqui presentes) e o meu obrigado por ter escrito este livro, que é, em síntese, a saga de todos nós, mineiros e brasileiros, de um modo geral, todos nós que amamos o velho Chico. E também por você ter me feito lembrar tanto, hoje mais do que nunca, do meu saudoso pai e da minha querida mãe, ambos habitando os campos superiores, onde um dia certamente haveremos todos de nos encontrar! ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 23/06/97

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 22/12/2009
Código do texto: T1990010
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