JAIME BARBEIRO
A crônica de hoje é de saudade. Saudade de um amigo que se foi no dia 03/04/06, partindo desta para os planos superiores, onde por certo irá encontrar muita gente conhecida que viajou antes dele, amigos dos bons tempos da Renascença dos anos 50.
O popular Jaime “Barbeiro”, dono de um salão na Rua Jacuí, defronte ao EPA de hoje, freqüentado pela moçada daquela época, deixou-nos há poucos dias para prosseguir sua vida em outras plagas, de vez que, aqui na terra, sua missão foi concluída.
O Jaime sabia como ninguém cativar a sua clientela, caprichando nos cortes de cabelo e nas barbas dos fregueses, além de segurá-los com um papo agradável, atualizado. Imparcial, até quando o assunto era futebol, sabia conversar tanto com os apaixonados atleticanos quanto com os fieis cruzeirenses e americanos. Trabalhou anos ali naquele ponto da Jacuí, até que o salão ficou pequeno para o seu público e para a sua arte. Mudou-se, então, para o centro da cidade, passando a atender na Galeria Ouvidor, onde o movimento triplicou.
Casou-se com a Divina, uma ex-professora do “Tito Fulgêncio”, mudou-se para a zona sul, constituindo família feliz e unida, progrediu na vida, mas continuou simples e amigo dos amigos como sempre.
Lembro-me duma característica sua que me impressionou, quando jovem ainda, aqui na Renascença eu era um dos seus fieis clientes. Uma vez, a gente conversando, ele me falou que trabalhava duro de terça a sábado. No domingo descansava, pois ninguém é de ferro, e na segunda-feira folgava, botava seu terno de linho branco e ia, todo faceiro, dar um passeio pelo centro, pegar um cineminha, aquele programa básico de todo jovem daquele tempo. Disso ele não abria mão. Era ótimo passear enquanto os outros ralavam!...
Aí, refeito, estava pronto de novo na terça-feira para a luta que recomeçava, trabalhando dez, doze horas por dia, de pé, cuidando da vaidade dos seus amigos e conhecidos que o procuravam no salão.
A Rua Jacuí, naquela ocasião, tinha dois barbeiros famosos, ele e o “Mergulho”, este próximo à Rua Botucatu, ao lado do antigo Bar do Seu João. Ambos, dois profissionais, mas o Jaime era mais habilidoso para conquistar a freguesia, com sua conversa, seu trato. Era um senhor barbeiro (hoje, chamam de “assessor de imagem”) !
Pois é, companheiros, a fila anda. Mais um que partiu, deixando uma lacuna aqui em baixo, onde nós que ficamos continuamos a luta de todo o dia.
Todavia, lá em cima eu já o imagino abrindo um grande salão, todo branco e perfumado como ele gostava, fazendo freguesia da melhor qualidade entre os santos, cuidando da barba de um, do bigode e da costeleta de outro e das vastas cabeleiras daqueles mais velhos!... Com todo o respeito!
Até um dia, Jaime “Barbeiro”, um grande e saudoso abraço dos amigos que você deixou, que Deus o ampare e aos seus que ficaram, hoje, agora e sempre! ...
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B.Hte., 07/04/06