DOIS ENSINAMENTOS DE FERNANDO PESSOA

Hoje, 30 de novembro, dia de aniversário da morte de Fernando Pessoa, que se foi em 30 de novembro de 1935. Exaustivamente estudada, a Obra do Poeta, vou apontar, de passagem e minimamente, dois - dos muitos - ensinamentos dela, que marcaram e marcam minha trajetória existencial.

O primeiro ensinamento me vem do verso:"Estou lúcido e louco".Com este verso aprendi, na pele, na alma, na vida, que a distinção feita, via de regra, entre lucidez e loucura, pelo senso comum e ainda através da persistência de certas práticas médicas, é uma distinção que escamoteia e procura manter, no corpo social, a ilusão de que haja um fosso efetivo entre os mundos da sanidade e da insanidade. O verso de Fernando Pessoa ilustra, à perfeição, quão tênue e fluido é o limite entre um mundo e outro; mais que isso: o Poeta funde os dois estados, em um paradoxo exemplar.

O segundo grande ensinamento, imbricado no anterior, vem da fundação, pelo Poeta, e da existência ( poética, nem por isso menos efetiva) dos seus heterônimos. Com isto, completa-se a lição anterior: além de "lucidos-loucos", não somos um só, somos vários. E qual destes vários é o central? Existe um central? Quando e enquanto o Poeta existe como Fernando Pessoa ele-mesmo, este "ele-mesmo" se constitui termo carregado de refinada auto ironia: Fernando Pessoa não passa de um heterônimo a mais. Apenas um heterônimo a mais.

Escrito na manhã de 30 de novembro de 2009, por Zuleika dos Reis.