À Mauro Mota

À Mauro Mota (1911-1984)

Mauro Mota nasceu em Recife, mas criou-se em Nazaré da Mata no meio de festas para o padroeiro, de fofoca na missa, de frutas comidas ainda no pé, de chuvas de formigas de asas e lendo suas poesias tive a impressão de estar em Nazaré de 1952. “Música da Banda Euterpina Juvenil de Nazaré da Mata tocando ao luar de prata/ na festa da padroeira/Seu Miguel ensaiava de noite, na Rua da Palha, para as tocatas coletivas/ Nunca mais deixei de ouvir as suas noturnas melodias na janela”. E é através de suas poesias que Mauro ganha destaque no mundo literário. Ele foi presidente da academia pernambucana e imortal da academia brasileira de Letras. Contribuiu para as nossas letras com Elegias publicado em 52 em livro, Além do retorno às formas clássicas debruça-se em uma preocupação filosófica “séria” diante da existência, chegando a negar, à influência dos modernistas, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes, um dos seus aspectos bastante contestável. Em Mauro Mota temos a maturidade do regionalismo de 22, que não se prende ao documentário e não esquece o estético, desde a transcrição da linguagem popular à descrição do espaço geográfico e social. Utilizando da recordação para incursionar o leitor para os espaços míticos e universais da natureza humana. E à medida que adentro na poesia Mauromoteano é que percebo, como o próprio Mauro Mota diz no poema Humildade: “Que o canto glorificará somente/ a origem, quando mais ninguém no mundo/ saiba ele quem foi ou de onde veio”.