Machado de Assis

Se te dissessem que um mulato pobre do século XIX, se tornaria Ministro da viação e um dos melhores escritores mundiais?Talvez não acreditasses, mas foi em 1839 que nasceu Joaquim Maria Machado de Assis, no morro do Livramento, filho de um pintor mulato e de uma lavadeira açoriana. Órfão de ambos muito cedo, foi criado pela madrasta, Maria Inês. Aprendeu suas primeiras letras numa escola pública, mas foi como autodidata que construiu sua vasta cultura literária, que incluía autores menos lidos no tempo, como Luciano, Swift, Sterne e Leopardi. Machado de Assis foi o melhor ficcionista do realismo, além de romances escreveu contos, poesias e peças teatrais. A melhor fase de sua produção começou na idade madura, quando atingiu os quarenta anos, mas desde o começo já eram pessoais o seu estilo e visão do mundo. Foi também o fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.

Machado passou por quase todos os gêneros literários praticados no seu tempo. Se não logrou toda a excelência que atingiu nos contos e nos romances, jamais decaiu para níveis da subliteratura e mesmo o teatro, tido como a produção “menor” de Machado, tem momentos bem realizados. O contista Machado de Assis, para muitos supera o romancista. Coube a ele dar ao conto densidade e excelência insuperável em nossa literatura, fundando esse gênero e abrindo caminhos pelos quais, mais tarde, iriam trilhar Mario de Andrade e Clarice Lispector, para ficarmos em apenas dois machadianos modernos. O cálculo frio, o cinismo, a máscara e o fogo de interesses constituem o cerne do realismo machadiano, para o qual pendem especialmente as personagens femininas, capazes de sufocar a paixão, o amor, em nome da “fria eleição do espírito”. Machado de Assis em duas fases distintas: fase romântica ou de amadurecimento e a fase realista ou de maturidade. Suas obras durante a fase romântica são carregadas de sentimentalismo, onde a trama e os personagens são simples. Entre suas obras inspiradas no romantismo destacam-se Iaiá Garcia, Helena e Histórias da Meia Noite. Em sua fase realista, Machado começa a desenvolver seu extraordinário realismo psicológico, onde se percebe um impiedoso sarcasmo. Principais características durante a fase Realista de Machado de Assis: Análise Psicológica dos Personagens: Egoísmo, Pessimismo, Negativismo, Frases Curtas, Linguagem Correta, Técnica dos Capítulos curtos, Conversa com o leitor, Enredo mais ou menos simples, Narração desordenada cronologicamente.

Machado de Assis é o primeiro narrador brasileiro que suporta uma leitura filosófica. Além disso, seus temas foram incrivelmente precursores, obrigando a crítica atual, para explicá-lo, a evocar autores que vieram depois, como Pirandello, Proust, Kafka, sem falar de seu contemporâneo Dostoievski. Note-se que talvez ele seja o primeiro escritor que teve noção exata do processo literário brasileiro, em alguns artigos de rara inteligência crítica. O ensaio “Instinto de Nacionalidade” faz um balanço das tendências nacionalistas, sobretudo o indianismo, mostrando que a absorção nos temas locais foi um momento a ser superado, e que a verdadeira literatura depende não do registro de aspectos exteriores e modismos sociais, mas da formação de um “sentimento íntimo” que, embora fazendo do escritor um homem “do seu tempo e do seu país”, assegure a sua universalidade.

Sua obra é variada e tem a característica das produções eminentes: satisfaz tanto aos requintados quanto aos simples. Ela tem, sobretudo, a possibilidade de ser reinterpretada à medida que o tempo passa, porque, tendo uma dimensão profunda de universalidade, funciona como se se dirigisse a cada época que surge. Daí, uma frase do próprio Machado de Assis releva desde cedo a sua inteligência e a sua visão precursora do mundo. “Custa-me dizer que eu era dos mais adiantados da escola. Mas era. Não digo também que era dos mais inteligentes, por escrúpulo fácil de entender e de excelente efeito no estilo, mas não tenho outra convicção. Na lição de escrita, por exemplo, escrevia e subscrevia frases que não eram entendidas e acabava sempre antes de todo mundo”.