Querido, Amigo, Max!
Não sei precisar os anos de nossa amizade, mas sei precisar o sentido mútuo dessa amizade: respeito, preocupação, questionamento, troca de conhecimento, desabafo, discussão, diversão, afinidade, lembrança, parceria... E, hoje, saudade!
Sabe (este ‘sabe’ era sempre o motivo para você dizer: “lá vem às certezas dela!” Risos), você costumava me chamar de “sumida”... Era um sumiço por tantas coisas que a vida nos oferece: cuidar da família, do trabalho e do lazer. Mas, a minha ausência não significava esquecer os textos tão bem escritos por você, ou esquecer o “alagoano desnaturado”, como sempre te chamava brincando! Sinto não ter aproveitado, nos seus últimos meses de vida, o convívio com a sua sabedoria e genialidade, pois Mamãe, a quem você admirava, estava hospitalizada e precisava de minha atenção, como de toda a família.
Você costumava dizer que eu tinha resposta, na ponta da língua, para tudo. Dizia, também, que eu não deixava margens a questionamentos! Porém, a sua implicância em me provocar quando o assunto era política e religião extrapolava! Era uma grande diversão para você! Depois, tentando amenizar, dizia: “calma, estava brincando! Assim terminaremos de mal!” Risos. Ao mesmo tempo, virava um menino quando recebia elogios a seus textos. A frase “estou fofo” era a demonstração de seu orgulho aos comentários positivos, no Recanto das letras.
Um ano de sua ausência física! Nossa, quantas coisas deixamos de fazer: a parceria com a publicação do livro sobre a história de minha mãe; a conclusão de seu livro, um romance que misturava com maestria sentimento e tecnologia; a falta de ler seus textos, antes da publicação, aqui, no Recanto das Letras; e as “brigas” quando nos textos, entre uma frase e outra, eu te pegava no lado machista... Você insistia que não era de jeito nenhum! Certa vez, porém, reconheceu que a palavra empregada era muito forte e quis trocá-la. Eu, zombando, disse: “assuma que é machista!” Risos. Era divertidíssimo!
Sabe, estava relendo alguns comentários seus em meus “rabiscos” e lembrei que, mais ou menos, a partir de março de 2008 percebi que você não estava bem. Sua teimosia o impedia de procurar um médico apesar das dores no peito aumentarem, tinha labirintite e já havia caído na rua... Lembro, também, que você me disse: “não tenho medo de morrer, mas de sofrer”. Sei que sofreu muito antes de partir e pena que você não está aqui para puxar suas orelhas, por mais essa traquinagem! E só não vá puxar meus pés, como prometeu! Risos.
A família sempre foi sagrada para você e o admirava muito por isso: pessoa íntegra e voltada à família. Sinto falta de nossas conversas sobre o delicioso licor que sua esposa fazia, como também, os quadros que ela pintava; as traquinagens de suas netinhas; a beleza de sua filha; e a preocupação com todos os filhos! E a casa? Foi o seu último orgulho. Nela colocava, literalmente, a mão na massa... Era constante a preocupação com as cores dos cômodos, o espaço mais amplo para a cozinha e o conforto maior para sua família. Que bom que você conseguiu! Sei que apesar de todo o sofrimento antes de partir, seu coração ficou sossegado ao saber que as pessoas amadas, materialmente, estariam protegidas.
Quero, ainda, te pedir desculpas... Não tenho os seus textos guardados! Depois que os publicou no Recanto das Letras achei melhor apagá-los, já que tinha muito material armazenado em meus arquivos. Pouco restou sobre as observações que fazíamos sobre o livro de mamãe! Ainda posso me redimir? Acho que sim! Eu recebi o 15º capítulo de seu romance, que permanece em meus arquivos, e cheguei a emitir minha opinião para você... É uma lembrança de sua competência e criatividade, pena que não o concluiu, pois, certamente, seria sucesso! Os elogios aqui não são gratuitos, muito menos deixei de fazê-los a você! Sempre disse e repito: devemos valorizar as pessoas que admiramos em vida e sei que o fiz!
Bem, você sabe a admiração que tenho por Drummond, o maior dos poetas, e não poderia deixar de citá-lo nesse momento: “A Um Ausente”.
A UM AUSENTE (Carlos Drummond de Andrade)
“Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.”
DESCANSE EM PAZ, AMIGO!
PS*: LUIZ BARBOSA MAX - 16.11.2009 - um ano de seu falecimento.
(Foto extraída do Recanto das Letras - site do escritor)