Ofício de haijin
(Poeminha inspirado em Bilac, em homenagem a todos que amam a difícil arte de construir haikais)
Amar a natureza
Conceber a cena
Sintetizar o texto
Renunciar ao título
Abandonar a rima
Adequar-se à regra
Trabalhar a cena
Sofrer o verso
Limar a sílaba
Suar o texto
Tira aqui, põe ali,
permuta, ajusta,
palavra vem, palavra vai,
e o haijin, extasiado,
dá à luz um haikai.
* * * * * * * *
A UM POETA
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Olavo Bilac